Isa Stacciarini
postado em 08/03/2019 21:45
A Polícia Civil investiga a morte de uma mulher de 35 anos após uma cirurgia de lipoescultura e abdominoplastia em uma clínica da Asa Sul. Fabiana Vieira dos Reis Bezerra fez a operação na segunda-feira de carnaval (4/3) com um cirurgião-plástico e um anestesista. Mas, uma hora e meia depois, a paciente teve uma parada cardíaca e morreu na unidade de saúde.
Fabiana entrou no centro cirúrgico do Hospital da Plástica de Brasília, na 616 Sul, às 16h de segunda-feira. O procedimento terminou às 22h. A paciente, então, foi levada à sala de recuperação, mas, minutos depois, começou a apresentar sinais de parada cardíaca e morreu às 23h30. O hospital não tem UTI, porque é uma clínica considerada do "tipo 3" e, segundo a normatização, unidades de saúde com essa referência não precisam de estrutura de UTI.
Um representante da clínica foi à 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), por volta de 0h30 de terça-feira (5/3), e registrou boletim de ocorrência. Em depoimento, ele disse que, quando Fabiana começou a ter parada cardíaca, uma equipe médica verificou o pulso dela e constatou a falta de batimento cardíaco. Nesse momento, segundo o dono da clínica, um anestesista e outro profissional de plantão tentaram reanimá-la por cerca de uma hora, sem sucesso.
No entanto, uma amiga que acompanhava Fabiana, disse à polícia que, quando a paciente começou a passar mal, uma enfermeira fez massagem cardíaca nela. Ela também contou ter visto enfermeiras chorando e que a UTI móvel só chegou ao local quase meia hora após a parada cardíaca.
O delegado Gerson Salles, chefe da 1;DP (Asa Sul), aguarda o resultado do laudo cadavérico e toxicológico do Instituto de Medicina Legal (IML) para saber a causa da morte. Gerson oficiou o Conselho Regional de Medicina (CRM-DF) e a Secretaria de Saúde. "Queremos saber a regularidade da clínica e descobrir os requisitos para a realização de cirurgias desse porte", explicou. O Hospital da Plástica de Brasília funciona na L2 Sul desde 2016 e cede o espaço para médicos realizarem cirurgia.
Segundo a Diretoria de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde, a clínica tem licença sanitária válida, renovada em fevereiro, com vencimento em 2020. A pasta também informou que o estabelecimento é licenciado para cirurgia plástica tipo 3 e cirurgia ambulatorial, "atividades médico-ambulatoriais, com recursos para realização de procedimentos cirúrgicos, e clínica com realização de procedimentos cirúrgicos em ambiente não hospitalar." Ainda de acordo com a Secretaria de Saúde, o estabelecimento recebe inspeções de rotina da Vigilância Sanitária. A mais recente ocorreu em outubro.
Venda de lote
Segundo colegas de Fabiana, ela se preparava para fazer a cirurgia há ao menos três anos. A empresária Karine Martins Silva, 46 anos, contou que a amiga pagou aproximadamente R$ 18 mil à vista pela operação, incluindo os custos com a clínica e o trabalho do médico, o cirurgião plástico Eric Yin Vieira Borges.
Karine passou pelo mesmo procedimento de abdominoplastia em dezembro 2017, mas em outro estabelecimento, em Taguatinga. "Na época, ela também queria fazer a cirurgia, mas não deu certo. Agora, ela estava feliz, porque realizaria um sonho", contou Karine.
Outra amiga de Fabiana, que é enfermeira, foi quem indicou Eric à dona de casa. A mulher de 33 anos fez abdominoplastia e mamoplastia com o médico na mesma clínica, em outubro. "Comigo deu tudo certo. Eles explicam que a clínica fornece todo o aparato para suporte de UTI e, se precisar, uma ambulância chega em dois minutos para levar a paciente até um hospital mais próximo. Mas a verdade é que ninguém vai pensando que alguma coisa dessa pode acontecer", lamentou a mulher, que pediu para não ter o nome publicado.
A amiga contou que o marido de Fabiana vendeu um lote para realizar o sonho da mulher. "Quando recebi a notícia, fiquei arrependida e me sentindo culpada, porque fui eu quem indiquei o médico para ela, devido às outras referências que também tive", reforçou a enfermeira. Ela explicou que, após a morte de Fabiana, conversou com o cirurgião-geral e ele contou que, antes de sair da mesa de cirurgia para a maca, a paciente conversou com a equipe e disse se sentir bem. "Quero acreditar que ocorreu uma fatalidade", completou a amiga da vítima.
Fabiana morava em um condomínio na Ponte Alta Norte do Gama com o marido e os filhos, um menino de 14 anos e uma menina de 6. O Correio esteve na casa da família, mas ninguém quis conceder entrevista.
Lamentos
Por mensagem enviada pelo telefone celular, Eric Yin disse que o posicionamento dele é de pesar e tristeza. Também informou que aguarda o laudo do IML para saber a causa da morte. ;Somente após isso poderemos nos posicionar sobre os fatos. Nada mais a declarar;, escreveu o médico.
Por meio de nota oficial, o Hospital da Plástica de Brasília lamentou a morte da paciente e afirmou que Fabiana ;esteve todo o tempo acompanhada por equipe médica completa;, com o cirurgião responsável pela operação, o anestesista e o médico plantonista. Disse, também, que ;a equipe de profissionais não mediu esforços para reverter o quadro da paciente sem, contudo, lograr êxito;.
Por fim, a clínica reforçou que tem todas as autorizações de funcionamento regulares e destacou que, além de prestar assistência aos familiares, também acionou a Vigilância Sanitária, o CRM-DF e a Polícia Civil.
Presidente do CRM-DF, o médico Farid Buitrago Sánchez disse que abriu sindicância ontem para apurar o caso. ;Essa sindicância pode gerar um processo ético profissional e ele culmina com o julgamento das pessoas envolvidas. Em tese, quem for considerado culpado pode sofrer as penas previstas em lei que vai da advertência até a cassação do registro, dependendo da gravidade do caso;, esclareceu.