Jornal Correio Braziliense

Cidades

Justiça converte em preventiva prisão de integrante de cartel mexicano

Agentes da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) chegaram a ele por meio de uma denúncia anônima


A Justiça converteu em preventiva a prisão de Lucio Rueda Bustos, apontado como integrante da alta cúpula do Cartel de Juárez, um dos maiores do mundo em tráfico de drogas. Policiais civis prenderam o mexicano de 65 anos na tarde de segunda-feira, em um hotel de luxo da Asa Norte. Agentes da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) chegaram a ele por meio de uma denúncia anônima. O informante suspeitou de um grupo de seis homens (quatro brasileiros e dois mexicanos) que estavam esbanjando dinheiro em espécie e contratando garotas de programa na hospedaria.

Os investigadores encontraram joias e R$ 34 mil em espécie com o grupo. Nenhum deles soube explicar a origem do dinheiro. A maioria foi liberada, mas, como estava com uma identidade cancelada, Lucio Rueda foi preso em flagrante. Durante audiência de custódia na manhã de ontem, a juíza Lorena Alves Ocampos, da 2; Vara Criminal de Brasília, decidiu mantê-lo preso.

Na decisão, ela argumentou haver indícios de que o acusado ainda possa ser líder do cartel mexicano. ;O custodiado possui condenação definitiva por delito de lavagem de capitais. Em que pese já tenha cumprido sua pena, não se passaram cinco anos da extinção e ainda é considerado reincidente;, afirmou a juíza no termo da audiência. Por esses motivos, a concessão de liberdade provisória e a aplicação de medidas cautelares não são recomendáveis.

Segundo o delegado que coordenou a operação, Luiz Henrique Sampaio, apesar de não haver mandado de busca ou prisão contra o acusado, nem provas de que o dinheiro apreendido é ilegal, há outras suspeitas contra Lucio. ;A conduta desse grupo é incomum e suspeita. Lucio não é mais procurado; então, o fato de ele usar uma identidade falsa indica que estava ocultando sua atividade;, observa Sampaio. ;A gente vai iniciar uma investigação agora para identificar a ação desse grupo e que tipo de negócios ilícitos eles estavam fazendo no Distrito Federal;, concluiu Sampaio.

Ainda segundo o delegado, o preso não quis acionar as autoridades mexicanas. O Correio tentou contato com a embaixada do país, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.

Outras prisões


O cartel Juárez atingiu o apogeu nos anos 1990, quando traficava até 20 toneladas de cocaína entre o México e os Estados Unidos. Um dos principais líderes do grupo foi o mexicano Amado Carillo Fuentes, mais conhecido como O Senhor dos Céus.

Lucio Rueda Bustos foi preso pelas autoridades norte-americanas em 1980, mas acabou inocentado por falta de provas. No início dos anos 2000, veio para o Brasil onde começou a lavar o dinheiro adquirido no tráfico. Em 2006, foi preso na Operação Zapata e, no ano seguinte, condenado pelo juiz Sérgio Moro (atual ministro da Justiça), a 10 anos e seis meses de prisão. Bustos morava em Curitiba com a esposa, que também foi presa na época e condenada a quatro anos pelo mesmo crime. Na época, a Polícia Federal confiscou mais de 30 imóveis, cinco veículos e quase R$ 3 milhões.


Nome trocado

No Brasil, o mexicano apresentou certidões falsas e conseguiu expedir uma carteira de identidade com o nome Ernesto Plascência San Vicente. Quando ele foi preso em 2006, teve o documento cancelado. Contudo, segundo o delegado Sampaio, ele conseguiu esconder tanto a carteira de identidade como a de habilitação e, uma vez solto em 2017, voltou a usar o nome Ernesto.