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Atraso em obras públicas obriga moradores de Vicente Pires a viver na lama

Moradores reclamam da demora nas obras de drenagem e de asfaltamento da cidade, que provocam alagamentos até na EPTG e prejuízos aos comerciantes. Governo espera acelerar os trabalhos a partir de abril

Moradores e comerciantes de Vicente Pires precisam se preparar para mais chuva em março. A média prevista pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é que caia 211,8milímetros de água ao longo do mês, 15% a mais do que a média de 183mm em fevereiro. O risco de mais precipitações preocupa a população. Toda vez que chove a cidade de 95 mil habitantes vira lama, principalmente por conta de obras que estão sendo feitas em praticamente todas as ruas da cidade. A água barrenta invade casas e comércios, arrasta carros, arranca placas instaladas em postes, abre crateras nas ruas e derruba muros em construção.

Os pontos mais críticos na cidade são as ruas 3, 4, 8 e 10. Nesses trechos, a enxurrada desce com mais força e leva o que encontra pela frente. Por causa da dificuldade no escoamento da água, a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) ficou alagada pela lama na segunda-feira. Em 23 de outubro do ano passado, a chuva abriu uma cratera na Rua 3 e engoliu uma caminhonete com dois idosos dentro. Por sorte, ninguém se feriu.

Os prejuízos são constantes. Uma padaria na Rua 3 vende apenas o que produz no dia. Há quatro meses, o dono da panificadora, Celso Silva Castro, 39 anos, não repõe os produtos nas prateleiras. ;Por causa dos transtornos causados pela chuva as pessoas não vêm. A maioria dos moradores faz as compras em outro lugar. O movimento caiu 70% por causa disso. Tivemos de demitir cinco balconistas e dois padeiros;, contou o empresário.

O comércio de Celso fica no cruzamento das ruas 3 com a 10, trecho onde acumula mais lama. Toda vez que chove, a água inunda a loja. Com baixa no movimento, o comerciante precisou vender dois carros para pagar impostos, salário de funcionários, aluguel de R$ 5 mil da loja e despesas com água e luz. ;Não adianta repor mercadoria, porque vence nas prateleiras por falta de movimento. Sempre quando a chuva vem é um pânico, a gente fecha as portas, a água invade mesmo assim e temos de ficar limpando a sujeira;, detalhou.

Na última chuva forte que caiu na segunda-feira, a água entrou no salão de beleza de Elba Ferreira, 67 anos. Ela e o marido improvisaram uma barreira na entrada do estabelecimento, mas, mesmo assim, a lama invadiu o ambiente. ;Tivemos que tirar tudo do lugar e limpar os objetos. É um terror e uma apreensão muito grande;, desabafou ela, moradora há 15 anos na cidade.

Tempestade

O governo do DF prometeu acelerar as obras a partir de 8 de abril e entregar 80% dela até dezembro. O projeto de urbanização e instalação de rede pluvial custará R$ 463 milhões financiados pela Caixa Econômica Federal (CEF), será finalizada até outubro de 2020. ;Até lá, o que nós precisamos é de um pronto-atendimento, porque, quando vem a tempestade, a terra desce toda pelas ruas da cidade;, reforçou o presidente da Associação dos Moradores de Vicente Pires (Amovipe), Gilberto Camargos.

Subsecretário de Acompanhamento e Fiscalização da Secretaria de Obras, Marcelo Galimberti reforçou que 11 empresas trabalham para executar o serviço. ;São obras de infraestrutura de drenagem e pavimentação asfáltica. No trecho da Rua 3 com a Rua 10, por exemplo, o que está faltando é a pavimentação e instalação de bocas de lobo, que serão feitas após a massa asfáltica;, explicou.

Ele ressaltou que até outubro a prioridade será a pavimentação e a terraplanagem dos trechos de Vicente Pires. A previsão é de que em novembro todos os pontos de captação da água da chuva estejam funcionando. Como medida paliativa, a Administração Regional de Vicente Pires informou que equipes estão atuando para remover lixos e abrir bocas de lobo, além de nivelar e desobstruir ruas para passagem.

Entenda o caso


Dinheiro do PAC

As obras de captação de água pluvial em Vicente Pires começaram em setembro de 2015 e a previsão inicial era de entrega em 2017. Ao custo de R$ 463 milhões, elas fazem parte do processo de regularização da cidade de 95 mil habitantes, criada para ser um núcleo rural e que, ao longo dos anos, foi ocupada de forma irregular por condomínios habitacionais. A falta de um sistema de escoamento de águas é apontada como uma das principais razões para o surgimento de buracos em todas as ruas da região. Os recursos para a execução do projeto da rede de captação e de um novo asfaltamento, entre outros itens de infraestrutura previstos para a região, foram liberados pelo governo federal por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).