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Bombeiro e médico do DF que foram a Brumadinho contam detalhes da tragédia

O Correio recebeu representantes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil do Distrito Federal no dia que o rompimento da barragem da Vale completou um mês


Na semana em que se completou um mês do rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, o Correio entrevistou representantes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil do Distrito Federal que atuaram na região. Os profissionais voltaram a Brasília e contaram as experiências vividas nessas quatro semanas de tragédia, que já soma 179 mortes e cerca de 133 desaparecidos. "Quando a gente vai (a Brumadinho), não volta da mesma forma que a gente foi", desabafa Giancarlo Pedroso, tenente-coronel do CBMDF.

O militar conta que a corporação enviou 18 profissionais e quatro cães para passarem 15 dias em campo. Durante 14 dias ininterruptos, os militares trabalharam na zona quente do incidente, nas áreas alagadas, áreas de risco estrutural e na parte de maquinários pesados, localizada em lugares com a lama mais densa, onde contaram com a ajuda dos cachorros. Com o apoio dos animais, os Bombeiros conseguiram encontrar um corpo no rio Paraopeba.

"Não existe um padrão para os corpos que a gente encontrava. Alguns estavam em estado muito bom de conservação, que a lama ajudou a preservar bastante. Em outras partes, a gente encontrava somente segmentos dos corpos, devido à força de destruição daquele rejeito. Destruiu casas, maquinários, edificações e não foi diferente quando ele atingiu os corpos humanos", contou o tenente coronel.

Ele lembra que, no fim do quinto dia de buscas, militares dos bombeiros do DF encontraram um pulmão em uma área específica, onde a corporação acreditava que encontraria alguns corpos. Para o militar, foi um dos momentos mais marcantes da operação.

Da PCDF, quatro agentes foram até Brumadinho representando a polícia técnica do DF. Entre eles, representantes do Instituto de Medicina Legal (IML), do Instituto de Criminalística, do Instituto da identificação das impressões digitais e do Instituto de DNA Forense.

"Tivemos muita abertura para trabalhar em conjunto e integrado. Eu tenho certeza que a contribuição da polícia técnica da Polícia Civil em Minas Gerais foi muito importante, porque a gente também trabalhou na definição de protocolos. Assim como o Corpo de Bombeiros no resgate e a gente na identificação", relatou o perito médico legista da PCDF Malthus Galvão.

Voluntários

Ele destacou ainda que o apoio dos assistentes sociais foi fundamental para o trabalho das corporações. "Que trabalho maravilhoso feito pelas meninas do serviço social. Recebendo as famílias. Tínhamos voluntários, psicólogos para poder conversar, lanche à vontade", recordou o perito.

Para o tenente coronel Giancarlo, só há elogios para a equipe voluntária. Ele conta que a ação de todos impactou positivamente. "Todos os dias a gente recebia o afeto dos voluntários. As equipes do Corpo de Bombeiros que atuavam nas áreas quentes chegavam com as roupas e equipamentos sujos e eles lavavam os nossos uniformes para no outro dia estarem prontos", contou.

O militar lembra ainda que todos recebiam cartas de crianças do Brasil inteiro com mensagens de incentivos. "Esse contato com os voluntários mostrou que, apesar da tragédia, a sociedade se uniu para poder de alguma forma dar uma mensagem positiva para isso", completou.