Jornal Correio Braziliense

Cidades

Militares celebram, em Brasília, 74 anos da Batalha de Monte Castelo

Solenidade realizada no Batalhão da Polícia do Exército lembrou aquele que é considerado um dos maiores feitos das Forças Armadas brasileiras

;Guarnecendo os destinos da Pátria/Sem fraqueza, com força e vigor;. Sob os versos da canção do Comando Militar do Planalto, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) foi homenageada ontem pelos 74 anos daquele que é considerado um dos maiores feitos das Forças Armadas do Brasil na Segunda Guerra Mundial: a tomada de Monte Castelo, na Itália. Realizada no Batalhão da Polícia do Exército, no Setor Militar Urbano, a solenidade lembrou os atos heroicos dos cerca de 25 mil militares que participaram ativamente das batalhas contra o Exército Alemão.

Um dos homenageados era o coronel Nestor da Silva, 101 anos, único veterano da FEB presente na solenidade. ;Não há um dia em que eu não pense ou sonhe com a guerra. Sinto-me honrado de ter participado daquele momento e de ser uma das memórias vivas de uma conquista única para o Brasil. Guardarei as recordações para sempre;, comentou.

À época, o então segundo-sargento e o restante da tropa brasileira precisaram de quatro tentativas para derrubar as forças nazifascistas (leia Memória). Nestor da Silva sofreu com o rigoroso inverno europeu, marcado por nevascas e frio intenso, teve de se esconder em buracos cavados entre rochas para sobreviver às investidas alemãs e viu muitos companheiros morreram. Mesmo assim, após três meses de confronto, ele e os companheiros brasileiros saíram vitoriosos em 21 de fevereiro de 1945.

;A tomada de Monte Castelo não aconteceu em apenas um dia. Foi difícil, pois o Exército Alemão tinha um comando melhor. Mesmo assim, atacamos de frente e conseguimos a primeira conquista brasileira no teatro de operações na Itália;, recordou-se. ;Foi um grande exemplo que a FEB deu ao Brasil e, principalmente, à mocidade brasileira. Feliz é a pátria que nos momentos difíceis possui filhos prontos para defendê-la e honrá-la. Seja na paz, seja na guerra;, completou Nestor da Silva.

Desfile

Na comemoração de ontem, feita no Pátio Marechal Zenóbio da Costa ; comandante da Infantaria da FEB em operações da Segunda Guerra Mundial ;, grupamentos das Forças Armadas compareceram em peso. Militares de tropas, como a do Regimento dos Dragões da Independência e a do Batalhão da Guarda Presidencial desfilaram a pé, em viaturas e a cavalo em continência ao coronel Nestor da Silva e entoaram cantos para saudar os soldados que participaram da guerra.

Durante a cerimônia, também foi respeitado o toque de silêncio em memória dos militares mortos nos conflitos em terras europeias e também dos que retornaram ao país, continuaram servindo ao Brasil, mas já se foram. ;Em Monte Castelo, como em outras vitórias da FEB, nossos heróis honraram os exemplos dos bravos de Guararapes, das lutas pela independência e das guerras travadas no cone sul do continente. A campanha da Itália somou inúmeros exemplos de bravura, dedicação, amor à pátria e sentimentos fraternos aos valores cultivados pelos homens e mulheres do Exército de Caxias;, frisou o comandante militar do Planalto, general de Divisão Sérgio da Costa.

Como parte da celebração, o coronel Nestor da Silva desfilou às tropas em um carro e foi reverenciado com uma salva de palmas. Para ele, é sempre uma grande emoção ser saudado pelos seus esforços durante a batalha contra os alemães. ;É como se fosse uma injeção de ânimo para eu continuar vivendo. Mesmo velho, ainda tenho a oportunidade de relembrar esta vitória e ver que o povo brasileiro ainda valoriza a FEB;, comemorou.

Apesar das memórias de dias difíceis, que refletem no seu semblante sério e rígido, o coronel conserva um grande sentimento de gratidão de quem já viveu mais de um século. ;Vinte e cinco homens saíram de Brasília para representar a nação naquela guerra, e apenas dois seguem vivos. Um deles continua andando e falando como se o tempo não tivesse passado. E esse alguém sou eu;, brincou.

Memória

A batalha de Monte Castelo aconteceu no fim da Segunda Guerra Mundial. De um lado, as forças do Exército Alemão. Do outro, as tropas do Brasil e dos EUA. A intenção dos aliados era tomar a cidade de Bolonha e conter os avanços alemães em direção à França, além de obter a vitória definitiva na Frente Italiana. Para que as tropas pudessem alcançar a cidade, era preciso romper a Linha Gótica: um complexo defensivo dos alemães, formado por fortificações nos Montes Apeninos, onde se encontra Monte Castelo. A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, quando, após 12 horas de combate, a Bandeira do Brasil foi hasteada no ponto mais alto da região montanhosa, com a rendição dos alemães.





"A tomada de Monte Castelo não aconteceu em apenas um dia. Foi difícil, pois o Exército Alemão tinha um comando melhor. Mesmo assim, atacamos de frente e conseguimos a primeira conquista brasileira no teatro de operações na Itália"
Coronel Nestor da Silva, veterano da Segunda Guerra Mundial