O céu nublado, as ruas alagadas e a circulação de sombrinhas nas mãos dos brasilienses nos últimos dias em nada lembram o ano que começou com o terceiro janeiro mais seco da história de Brasília (veja quadro). Nos primeiros 18 dias de fevereiro, choveu 107 milímetros, o correspondente a 59% dos 183mm da média. E a expectativa para março é que venham ainda mais precipitações. São esperados 211,8mm para o próximo mês.
A média de chuvas em fevereiro foi superada nos dois últimos anos. Em fevereiro de 2018, choveu 48,6% acima do esperado, quando o Inmet contabilizou um acumulado de 272mm. Em 2017, as precipitações atingiram 19% a mais da média (258,4mm). Nos próximos dias, a tendência é de alternância entre sol e chuva, com temperaturas também oscilando.
O meteorologista Mamedes Luiz Melo, do Inmet, explicou que, no mês passado, ocorreu um bloqueio atmosférico que impediu a chegada da frente fria à região Sudoeste. ;Em fevereiro, esse bloqueio foi embora. O que está acontecendo é o previsto para o período de verão em Brasília;, comentou.
As chuvas têm sido provocadas por frentes frias atingindo até o Sudoeste, com áreas de instabilidade, calor e umidade, principalmente chegando da região Norte, segundo Mamedes. ;Temos dois períodos distintos no Centro-Oeste. Um quente e chuvoso, que é o verão, e outro seco e frio. Na estação chuvosa, temos dias quentes e úmidos. Chovendo, a temperatura fica mais amena;, observou.
Mamedes ainda lembrou que, no mês passado, só choveu 35,5% do esperado para janeiro. Enquanto a média era de 209,4mm, só caiu 74,3mm. ;Foi o terceiro janeiro mais seco da história de Brasília. Antes foram os meses de 1999 e de 1972;, ressaltou.
Reservatórios
A chuva contribui para manter altos os níveis dos reservatórios, após dois anos da maior crise hídrica da história do Distrito Federal. Na segunda-feira (18/2), a Barragem do Descoberto, responsável pelo abastecimento de 64% da população brasiliense, estava com 100% do volume útil. A de Santa Maria, segundo maior reservatório do DF, atingiu 71,3% da capacidade.
Professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e coordenador do curso de engenharia ambiental, Marcelo Gonçalves Resende destacou que o período chuvoso é favorável para a recuperação dos reservatórios, mas, segundo ele, não se pode falar no fim da crise hídrica. ;Vai depender dos próximos anos. Só se descarta a crise com uma condição de segurança hídrica no Distrito Federal, ou seja, com a chegada da água de Corumbá IV e com o Lago Paranoá entrando em operação. Enquanto isso não acontecer, vamos continuar dependendo de São Pedro;, alertou.
O estudioso ainda criticou o fim da divulgação do uso consciente da água. ;Assim que saímos desse contexto da crise, parece que se esqueceu de tudo. A questão é que precisamos dos mananciais que fornecem água na condição da quantidade que se consome, além das campanhas de educação ambiental sobre o uso da água e do período chuvoso;, reforçou.
Áreas de risco
O período chuvoso provoca medo em quem mora nas áreas de vulnerabilidade. No fim do ano passado, a capital tinha 41 áreas de risco em 19 regiões administrativas, como Vicente Pires, São Sebastião, Ceilândia, Santa Maria, entre outras, segundo a Defesa Civil. Com o elevado volume das precipitações, a chance de desastres nesses locais aumenta.
Em novembro de 2017, o órgão contabilizou 36 pontos de risco em 18 cidades. Em 2018, houve duas remoções de famílias para outros locais fora do perigo iminente. Ambas ocorreram no Sol Nascente, em Ceilândia. As famílias foram transferidas para endereços da mesma região.
Escassez
Os janeiros mais secos da história
2019 74,3 milímetros
1999 70,8 milímetros
1972 21,7 milímetros