Entre desenhos, mapas e plantas de prédios públicos e privados, o Arquivo Público do Distrito Federal (ArPDF) guarda 48.192 documentos. O acervo conta, ainda, com outras 685.370 peças, incluindo negativos fotográficos, rolos de filmes, fitas de vídeo e entrevistas em áudio disponíveis ao brasiliense. O material ajuda a contar a história da capital, e os documentos mais antigos datam de 1892, quando a Missão Cruls visitou o Planalto Central nos primórdios da futura capital.
É atribuição do órgão gerir com segurança esse acervo e, ainda, selecionar, organizar e arquivar a documentação produzida pelo GDF. O trabalho não fica restrito ao prédio no Setor de Garagens e Oficinas, próximo à sede do Departamento de Trânsito (Detran). Funcionários também ajudam municípios do Entorno na preservação de documentos centenários, orientam setores do governo e lançam trabalhos produzidos a partir de pesquisas com o próprio arquivo. Tudo isso com verba mínima e um número reduzido de funcionários.
Em 34 anos, o órgão responsável pela memória de Brasília ficou, por diversas vezes, esquecido. Por 29 anos, funcionou em um edifício pré-moldado e inadequado, na Novacap. Apesar da grande quantidade de rolos de filme de diversas milimetragens, nunca teve equipamento para rodar boa parte deles. Alguns precisam de restauração. À época da fundação, a expectativa era de que o órgão tivesse cerca de 100 funcionários, entre historiadores, arquivistas, geólogos e antropólogos, para lidar com o passivo documental de duas décadas.
Porém, desde 1985, mesmo com o DF passando por 14 governadores, sem contar a gestão atual, o Arquivo Público conta com 10 concursados, sendo três arquivistas e um historiador. Promotor de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público do DF e Territórios, Roberto Carlos Batista comenta a importância do ArPDF. ;A história da capital não diz respeito somente ao DF, mas a todo o Brasil;, destaca. E também expressa preocupação. ;De uma maneira geral, os órgãos de memória, em todo o país, têm sido negligenciados;, lamenta.
Corpo técnico
Ex-superintendente do arquivo e funcionário do quadro administrativo do órgão, Jomar Nickerson de Almeida comenta as dificuldades enfrentadas. ;Os arquivos públicos são instituições renegadas no Brasil. Muitas vezes, em gestões passadas, tivemos de procurar distritais e pagar contratos com emendas parlamentares, pois, mesmo notificado o governo, não faziam o repasse;, lembra.
Mas a falta de profissionais especializados é o que mais complica. Professor do curso de arquivologia e diretor da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB), Renato de Sousa detalha o quadro. ;A maior parte da equipe sempre foi de cargos de comissão, com muita gente cedida de outros órgãos. O especialista sabe que garantir a transparência das informações e a preservação da memória da cidade é um trabalho fundamental;, afirma. Ex-funcionária do arquivo, a historiadora e professora do curso de arquivologia da UnB Georgete Medleg Rodrigues concorda. ;É preciso uma tradição de profissionais formados na casa. Sair dessa trajetória é ruim para o arquivo e para a sociedade;, alerta.
A lista de décadas de descaso dará trabalho ao novo superintendente do órgão, Thales Mendes Ferreira, nomeado para o cargo em 6 de fevereiro. O gestor levanta, com o auxílio de funcionários, a situação do órgão para propor soluções ao governador do DF, Ibaneis Rocha. O gestor adiantou que transformações ocorrerão ;dentro de perspectivas reais;. Único historiador do ArPDF, Elias Manoel da Silva participou dos encontros com Thales. ;Todos os servidores estão trabalhando nas mudanças. Isso é muito positivo, pois conhecemos as necessidades da casa;, contou.
História de persistência
O Arquivo Público do Distrito Federal foi criado por meio de um decreto publicado em 14 de março de 1985, quase 25 anos após a inauguração de Brasília. O trabalho para fundar o órgão foi encabeçado por Walter Albuquerque Mello, então funcionário da Secretaria de Cultura, e começou sete anos antes, em 1978, durante a redemocratização. À época, reclamações de setores do governo sobre a insistência de Walter para a criação do órgão eram comuns. No começo, a instituição criada por lei não tinha móveis ou espaço físico para ocupar. A documentação ficava armazenada em pilhas de caixas de papelão. Tempos depois, foi para a Novacap. E, só em outubro de 2014, para o prédio próprio.