Sarah Peres - Especial para o Correio, Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 30/01/2019 06:00
;Por favor, não faça isso;, foram as últimas palavras da dona de casa Diva Maria Maia da Silva, 69 anos, antes de ser morta. Assustada e em estado de choque, após ver o filho mais velho, Régis do Carmo Corrêa Maia, 46, levar três tiros no peito, ela se escondeu atrás do sofá da sala do apartamento, no primeiro andar do Bloco E da 316 Norte, na manhã de segunda-feira (28/1). O marido, Ranulfo do Carmo Filho, 72, que acabara de recarregar o revólver calibre .38 usado para atingir o outro homem no imóvel, mirou na mulher com quem era casado há quase meio século. Ele disparou as seis balas contidas no tambor da arma. Cinco acertaram a esposa, que caiu morta.
Os detalhes da barbárie e o risco de morte aos filhos de Ranulfo e Diva influenciaram a juíza Flávia Pinheiro Brandão, do Núcleo de Audiências de Custódia, a decretar a prisão preventiva do assassino confesso, em audiência de custódia realizada na manhã de ontem. Ranulfo confessou à magistrada ter adquirido a arma de fogo há um ano ; o revólver tem ligação com um roubo no Mato Grosso.
Flávia citou parte do depoimento de Rejane do Carmo Frota e Cysne, 42 anos, filha de Ranulfo e Diva. Ela afirmou não ter sido vítima do pai por não estar presente no apartamento durante os tiros, pois teria defendido a mãe, assim como Régis. O aposentado, que havia sido preso em flagrante e passado a noite no complexo da Polícia Civil, será transferido para a penitenciária Papuda, onde deve ficar até o julgamento, caso não consiga um habeas corpus.
;Há necessidade da segregação em razão das circunstâncias que envolvem o caso concreto e do histórico de violência doméstica e familiar. E não é só. A prisão também se faz necessária para garantia de aplicação da lei penal, uma vez que o autuado empreendeu fuga após o cometimento dos delitos;, afirmou a juíza em sua decisão. Caso Ranulfo seja colocado em liberdade, Régis e Rejane receberão medidas protetivas. O aposentado ficará proibido de manter contato com familiares por qualquer meio de comunicação, deverá manter distância de até 500m deles e não pode deixar o Distrito Federal por mais de 30 dias. O autônomo também não poderá mudar de endereço.
Vizinha na mira
Diva e Régis tinham voltado de Goiânia (GO) na manhã do crime. Logo após mãe e filho entrarem no apartamento dela, Ranulfo chegou no imóvel. Pai e filho começaram a discutir, quando uma vizinha do casal entrou no local por causa da gritaria. Ela presenciou tudo o que aconteceu na residência. Ranulfo pegou a arma de fogo escondida em cima do armário do quarto e voltou para a sala.Primeiro, ele acertou o filho com quatro tiros. A testemunha estancou o sangue de Régis e tentou acalmar Diva. O homem voltou ao quarto para recarregar o revólver e retornou, mirando-as. A vizinha se escondeu atrás do sofá e ;disse para Diva fazer a mesma coisa (se esconder), mas Ranulfo a encontrou;. A esposa implorou pela vida, mas foi em vão. Os primeiros disparos foram contra a cabeça dela.
Bombeiros encontraram Régis caído no imóvel, com hemorragia grave. Ele foi internado na ala vermelha do Hospital de Base. Três dos disparos acertaram o peito e um, o ombro. Uma das balas atingiu o pulmão e médicos precisaram drenar a região.
Morador do Sudoeste, o servidor do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) também passou por procedimento cirúrgico para retirar o projétil do ombro. Ele estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de trauma, até a noite de ontem, estabilizado e consciente.
Fuga e prisão
Após cometer o crime, Ranulfo deixou a arma ao lado das vítimas. Desceu pelas escadas, caminhou até o estacionamento público em frente o bloco, onde entrou no carro, um Cross Fox branco, e fugiu. Um helicóptero da Polícia Militar o localizou e acionou equipes em terra, que cercaram e prenderam o assassino na Epia Sul, em frente à Quadra 8 do Park Way, em direção ao Gama, a cerca de 25km do local do crime.Ranulfo confessou o crime em depoimento na 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte). A filha mais nova do casal, Rejane também depôs na unidade. Ela descreveu o pai como ;uma pessoa possessiva e muito ciumenta, demonstrando um comportamento doentio.; Afirmou que Ranulfo era agressivo não apenas com a mãe, mas com ela e o irmão. Como eles defendiam Diva, ambos foram ameaçados de morte pelo pai. Ranulfo confirmou as brigas e as ameaças.