Isa Stacciarini, Sarah Peres - Especial para o Correio, Walder Galvão - Especial para o Correio, Augusto Fernandes, Bruna Lima - Especial para o Correio
postado em 28/01/2019 10:51
Um homem atirou na mulher e no filho do casal, dentro do apartamento da família, na 316 Norte. Diva Maria Maia da Silva, 69 anos, morreu no local e o filho deles, Régis do Carmo Corrêa Maia, 46, foi socorrido em estado grave e levado para o Instituto Hospital de Base. Após o crime, Ranulfo do Carmo Filho, 72, pegou o carro e fugiu.
O caso foi registrado às 10h45 desta segunda-feira (28/1). Imagens do circuito interno de segurança mostram o instante em que Ranulfo sai do prédio. Ele aparece andando tranquilamente pela portaria, onde sai sem ser impedido (veja abaixo).
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Policiais militares localizaram Ranulfo enquanto ele dirigia pela Epia Sul, na altura da quadra 8 do Park Way, sentido Gama. Um helicóptero da corporação deu apoio para as viaturas terrestres durante a perseguição. Após cercarem o veículo do suspeito, os policiais o prenderam.
Segundo o tenente do Corpo de Bombeiros Washington Romão, a cena no apartamento do casal era aterrorizante. "Algo terrível. Aparentemente, a Diva levou muitos disparos na cabeça. Infelizmente, por conta de uma revolta do pai, a família se encerrou de uma maneira trágica", lamentou. O corpo da mulher foi retirado por volta das 13h50.
Régis deu entrada com hemorragia no Instituto Hospital de Base às 10h55. Ele levou dois tiros no tórax e um no braço esquerdo. O estado de saúde dele é grave, porém estável, confirma o tenente. "Durante o trajeto para o hospital, ele perdeu bastante sangue. Aplicamos diversas manobras para conter a hemorragia, que era muito grave. No entanto, ele estava consciente e conseguia conversar com os socorristas", explicou.
A vítima foi levada direto para o centro cirúrgico, onde teve três paradas cardíacas. Um dos disparos teria atingido o pulmão de Régis, mas médicos conseguiram drenar a região. Ele está com uma máscara de oxigênio. Segundo os policiais civis de plantão, ele está internado na sala vermelha. Régis é casado com uma juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
Em frente ao local do crime, o movimento de pessoas na frente do prédio não para de crescer. Muitos vizinhos se concentram na porta do bloco à espera de novas informações. Familiares de Dina também estão no local. Visivelmente abalados com a tragédia, nenhum deles quis conceder entrevista para a reportagem. Uma filha do casal, no entanto, definiu o crime como uma crueldade. "Felizmente, já conseguiram prendê-lo. Espero que a justiça seja feita", desabafou.
Rotina de violência
Parentes e amigos começaram a chegar ao Hospital de Base às 12h15. Uma amiga da família com quem o Correio conversou disse que o casal vivia rotina de violência doméstica. "O pai era muito ruim para a mãe. Batia nela e o Régis (a) defendia muito. Nem a comida dela o marido dava. Ele (Régis) era louco com a mãe, que já era uma senhora de idade", desabafou a pastora, amiga e comadre de Régis.
A mulher de Régis chegou à unidade de saúde às 12h34. Ela chorava muito e foi amparada por uma amiga do casal.
[VIDEO1]O suspeito chegou na 2; Delegacia de Polícia (Asa Norte) às 12h05, dentro do carro da PM pela entrada lateral unidade policial. Ele usava uma camisa azul no momento da prisão. Um amigo de Ranulfo pediu que dois advogados comparecem à delegacia para a defesa do homem. Contudo, ele negou o atendimento. Os profissionais deixaram o local por volta das 14h50.
Agentes da 2; DP ainda apuram a dinâmica do crime. "A cena do crime é trágica, pois houve muitos tiros. Foi realmente uma barbárie. O autor está na carceragem, muito abalado psicologicamente. Vamos esperar ele se acalmar para coletar o depoimento. Estamos tomando todas as medidas cabíveis para que ele não faça uma nova tragédia, tirando a própria vida", explicou o delegado-chefe Laercio Rossetto.
A princípio, segundo Rosseto, a dicussão teria começado entre pai e filho ; que não mora no apartamento. "Ranulfo pegou a arma de fogo e a mulher tentou intervir. Em meio a briga, foram dados os disparos que mataram Diva e atingiram Régis. Encontramos marcas de tiro na cozinha, no quarto e em outros cômodos", afirma o delegado.
Uma moradora do edifício, que não quis se identificar, disse que ouviu pelo menos cinco disparos de dentro do apartamento. "Na sequência, também escutei muitos gritos. Acredito que eram de vizinhos mais próximos ao apartamento da Diva, pois eles me relataram que também foram ameaçados por Ranulfo", contou.
Duas testemunhas estão na delegacia dando mais detalhes do crime. Relatos de vizinhos confirmam um relacionamento conturbado entre Ranulfo e Diva, que moram no local há mais de 30 anos. A moradora também detalha que era possível perceber a rotina de violência do casal. "Direto ela aparecia com um olho todo roxo ou outro tipo de hematoma. O Ranulfo parecia ser um homem muito nervoso. Estava sempre maltratando a Dina de alguma maneira. Era um homem muito ;esquentado;", salientou.
Investigadores irão coletar informações do suspeito no sistema da Polícia Civil e da Justiça, para apurar se ele tem histórico de violência doméstica. Ainda, será averiguado se Ranulfo tinha porte ou posse da arma de fogo usada no crime. Inicialmente, trata-se de um revólver .38, mas o calibre será confirmado pela perícia.
Em matéria publicada em 13 de janeiro deste ano, o Correio mostrou que os dados mais recentes da Secretaria de Segurança Pública apontavam o crescimento de casos de violência contra a mulher no Distrito Federal.