O Correio localizou e entrevistou duas dessas mulheres. Elas ainda vão ser ouvidas pela polícia. Ambas disseram ter sido convidadas a fazer sessões experimentais em troca de publicidade para clínica, aberta no fim de 2017. Na conta da firma no Instagram, há dezenas de fotos e vídeos de mulheres de biquíni e seminuas (com os seios à mostra), deitadas em uma maca ou em frente a um painel com o nome e a marca do estabelecimento. Também há diversos closes em nádegas femininas.
Uma das jovens que conversou com a equipe do jornal contou que chegou à clínica, em outubro, para uma sessão de massagem relaxante acompanhada de uma amiga, mas o homem que a atenderia não deixou ninguém seguir o atendimento. ;Ele alegou que era um momento de relaxamento e que, se outra pessoa estivesse na sala, eu não ia conseguir me concentrar;, lembrou a mulher, uma maquiadora.
Na sala fechada, o massagista citou as modalidades de serviço oferecidos. ;Ele falou da tântrica, dizendo que colocaria a mão nas minhas partes íntimas, mas que era extremamente profissional. Disse que clientes chegavam ao orgasmo com a técnica e que, se acontecesse comigo, não precisava ficar constrangida. Mas eu disse que não queria essa e optei por uma de relaxamento;, explicou a jovem.
No procedimento, o homem desatou o biquíni da cliente. ;Ele me deixou completamente nua. Naquele momento, me questionei. Achei que era coisa da minha cabeça e que ele era o profissional. Mas ele começou a me apalpar invasivamente;, contou a mulher. ;Eu me esquivava, só que ele disse para eu ficar calma, pois sabia o que fazia. Senti-me muito violada. Nunca mais voltei;, concluiu.
Cunho sexual
A outra jovem ouvida pelo Correio, uma estudante de publicidade que foi à clínica em novembro, também disse ter sido abusada e impedida de entrar na sala de atendimento com uma amiga. O massagista a mandou enrolar o short até que ficasse no formato de uma calcinha, pois ela só havia ido com a peça superior do biquíni de amarrar.
;Quando entramos na sala, ele trancou a porta. Ao falar das massagens, ele deu ênfase nas sexuais. Contudo, eu disse que não estava interessada e que queria a modeladora;, contou a universitária. Ela lembrou ainda de comentários sexuais durante o procedimento. ;Ele perguntou se eu tinha namorado, falou de signo, disse que era escorpiano, amava sexo e era muito bom no que fazia. Também reclamou da namorada dele. Fingi que dormia, porque só queria ir embora.;
Uma terceira cliente entrevistada disse que não se sentiu abusada pelo massagista, mas que o modo dele trabalhar levanta dúvidas. ;Ele pedia para ir de biquíni de amarrar e depois abria, dizendo que era para massagear os flancos. E ficava muito tempo massageando a virilha. Fiquei constrangida, mas entendi que poderia ser um novo método de massagear os linfonodos. Hoje, acho que não era nada disso;, observou.
Consentimento
Na terça-feira, agentes apreenderam na casa e clínica do suspeito, materiais eletrônicos e cerca de 400 fichas de atendimento. Um dos documentos analisados chamou a atenção da investigação, o Termo de Consentimento para Contato. A delegada-chefe Sandra Melo explicou que uma cláusula estipulava que as clientes deveriam se submeter às manobras do profissional, com o risco de que os procedimentos estéticos poderiam não ter efeito. As clientes também deveriam consentir a divulgação da imagem delas nas redes sociais. No entanto, policiais viram que o massagista também mantinha as fotos das possíveis vítimas no celular pessoal. A Deam notificou a Agência de Fiscalização (Agefis), porque o suspeito não tinha o alvará de funcionamento da clínica, que fica no primeiro andar de um prédio, vizinho a lojas e quitinetes.
* Colaborou Mariana Machado