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Carta de Lula à viúva de Sigmaringa é lida no velório do ex-deputado

Lula teve negado o pedido de comparecer ao velório do ex-deputado Sigmaringa Seixas. Carta escrita por ele à viúva foi lida no velório por Chico Vigilante

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 26/12/2018 16:17
Chico Vigilante lê a carta enviada pelo ex-presidente Lula a Marina CarvalhoImpossibilitado de comparecer ao velório do ex-deputado eleito pelo Distrito Federal Sigmaringa Seixas, após, ter pedido negado pela Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta à viúva do advogado, Marina Carvalho. O texto, foi lido ao presentes pelo deputado distrital Chico Vigilante (PT) (veja vídeo abaixo).

Na mensagem, Lula ressalta as qualidade de Sig, como o advogado era chamado pelos amigos, e o descreve como alguém dedicado, desprendido e corajoso. "Nosso Sig teve a delicadeza de nos deixar no dia do Natal, uma data em que a sensibilidade das pessoas está voltada para o amor e para o bem, que foram a marca de sua passagem pela Terra", escreveu o ex-presidente. Sigmaringa morreu na terça-feira (25/12), vítima de um câncer, em São Paulo.

[SAIBAMAIS]Lula também destaca a importância de Sigmaringa na luta contra a ditadura, na defesa de presos políticos pelo regime militar e na reunião de provas da prática de tortura durante o período de exceção. "Poucos hoje são capazes de avaliar os riscos que ele correu, junto com um punhado de colegas, para levantar os documentos oficiais da Justiça Militar que comprovaram a prática de torturas no Brasil. Foram cinco anos de trabalho quase clandestino que resultaram no livro Tortura: Nunca Mais, com provas irrefutáveis contra 444 torturadores. Este livro mudou a historiografia do Brasil."
Por fim, Lula se despede do amigo: "A vida segue, companheiro Sigmaringa, com a certeza de que o seu sonho de um Brasil de paz, fraternidade e justiça social ainda se transformará em realidade".

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Leia a íntegra da carta de Lula à viúva de Sigmaringa Seixas

"Minha querida Marina,

Foi com profunda tristeza que recebi a notícia da morte de meu grande amigo e seu companheiro de vida Luiz Carlos Sigmaringa Seixas. Nosso Sig teve a delicadeza de nos deixar no dia do Natal, uma data em que a sensibilidade das pessoas está voltada para o amor e para o bem, que foram a marca de sua passagem pela Terra.

É nessas qualidades do Sig que eu e seus incontáveis amigos e amigas estamos pensando neste momento de dor. Quantos defensores da Justiça e da Democracia conhecemos pessoalmente e ao longo da história de nosso país; Mas quantos se dedicaram à causa com abnegação, desprendimento e coragem como ele?

Não consigo me recordar agora de alguém que tenha vivido por estas causas sem perder a ternura, sem abrir mão da alegria de viver, sem faltar com a generosidade e o carinho que o Sig sempre dedicou aos amigos e à humanidade em que sempre acreditou. E foi por este amor à vida e à humanidade que ele lutou até as últimas forças.

Não conheço quem tenha ouvido dele uma palavra de rancor contra os muitos que o atacaram pela coerência que herdou do pai, o Velho Sigmão, e transmitiu aos filhos queridos Guilherme e Luíza. Também desconheço algum momento em que tenha titubeado diante dos riscos e ameaças por advogar em defesa de presos políticos e militantes sindicais durante a ditadura.

Poucos hoje são capazes de avaliar os riscos que ele correu, junto com um punhado de colegas, para levantar os documentos oficiais da Justiça Militar que comprovaram a prática de torturas no Brasil. Foram cinco anos de trabalho quase clandestino que resultaram no livro ;Tortura: Nunca Mais;, com provas irrefutáveis contra 444 torturadores. Este livro mudou a historiografia do Brasil.

Eleito deputado constituinte, esteve no PMDB, no PSDB e no PT, sempre coerente com seus compromissos de vida e deixando amigos por onde passou. Como agente político e homem do direito, transitou entre os grandes e foi por eles respeitado e admirado. A cordialidade e o respeito à divergência foram os traços que o marcaram em ambientes onde a vaidade e a arrogância costumam vicejar.

Tive a honra de tê-lo como advogado, mas tive, principalmente, o privilégio de ter o Sig como amigo leal e generoso, convivendo familiarmente com você, Marina, e com nossa querida Marisa. Estes momentos são as melhores lembranças que levarei dele.

O que guardo dele é o exemplo singular da decência, ética, dignidade, independência e honestidade intelectual.

Prova disso é que o convidei duas vezes para a nossa Suprema Corte e ele recusou, com o argumento de que não se sentia preparado para a função, praticando um desprendimento raro, mas não surpreendente vindo dele.

Agora ele entra definitivamente no coração dos que o amavam e o admiravam, onde viverá eternamente.

Receba todo o meu carinho nesse momento de dor e transmita este sentimento, por favor, à família e aos muitos amigos e admiradores do Sig.

A vida segue, companheiro Sigmaringa, com a certeza de que o seu sonho de um Brasil de paz, fraternidade e justiça social ainda se transformará em realidade, por obra do nosso povo maravilhoso e de pessoas especiais como você.
Saudades para sempre e um abraço carinhoso do amigo

Luiz Inácio Lula da Silva

Curitiba, 26 de dezembro de 2018"

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