Segundo o irmão José Carlos Sigmaringa Seixas, o corpo do advogado será velado na quarta-feira (26/12) a partir das 8h, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, em Brasília. O sepultamento está marcado para as 16h30. "Perdi um irmão e um amigo sempre pronto a ajudar a todos. O que mais lamento é que ele tinha muita vontade de viver", afirmou José Carlos, que publicou um texto sobre o irmão nas redes sociais (leia íntegra abaixo).
Políticos e amigos também lamentaram a morte e destacaram as qualidades de Sigmaringa, eleito três vezes deputado. O advogado era muito respeitado e tinha relações pessoais com representantes de diferentes correntes políticas. Foi filiado ao MDB, PSDB e PT, seu último partido. Era um grande amigo do senador José Serra (PSDB-SP) e do ex-presidente Lula, que teve negado, nesta terça-feira, um pedido para comparecer ao enterro.
No governo Lula, Sigmaringa foi várias vezes cotado para assumir o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas sempre preferiu permanecer na advocacia. Era filho do ex-presidente da OAB/DF Antônio Carlos Sigmaringa Seixas, que morreu aos 94 anos, em janeiro de 2016.
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Para o deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF), Sigmaringa Seixas será lembrado como um homem "determinado, tímido e muito corajoso". "Ele era um conselheiro, um conciliador, humanista. Costumam dizer que existem perdas irreparáveis, mas essa é a mais irreparável e insubstituível. Ele lutou bravamente para sobreviver, mas infelizmente, neste dia 25, ele passa para um plano superior", afirmou.
O parlamentar lembra que em 1982 foi liberto do Complexo Penitenciário da Papuda duas vezes por Sigmaringa, em função de greves que eram realizadas na época. "Ele lutou contra a ditadura opressora. Sempre que soube que alguém havia sido preso injustamente, esteve nos cárceres soltando", ressaltou Chico Vigilante.
Presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) usou o Twitter para prestar homenagem ao advogado. "Com tristeza imensa acabei de saber da morte de nosso grande querido e companheiro Sigmaringa Seixas. Lutador incansável pela justiça e pela democracia em nosso país. Vai fazer muita, muita falta, Sig! Solidariedade à família e amigos", publicou.
Nota de pesar do governador
O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, divulgou uma nota de pesar pela morte do ex-deputado. No texto, o chefe do Executivo afirma que a capital federal "chora e lamenta a morte de um dos maiores nomes de sua história". "Sigmaringa, o querido Sig, construiu uma trajetória política ímpar na cidade, da banca de advocacia de sua família para a Câmara dos Deputados", lamenta.No texto, Rollemberg se refere ao político como defensor dos direitos humanos e destaca, ainda, que Sigmaringa "se notabilizou na luta pela redemocratização do país e pelo direito do brasiliense de votar e eleger seus representantes para o governo e os parlamentos local e federal".
"Amigo de toda hora, honrado, honesto e intransigente defensor da democracia, Sig é uma daquelas pessoas inesquecíveis pelo exemplo, pela solidariedade, pela lealdade a seus princípios democráticos e aos seus amigos. Tive o privilégio de compartilhar de muitas dessas lutas e conquistas da cidadania. Tive o privilégio de aprender com ele diversas lições de vida, de atuação política", encerra a nota oficial.
Outras autoridades se manifestam
O governador eleito do DF, Ibaneis Rocha, por sua vez, afirmou em nota que Sigmaringa foi um político marcante. "Em um momento decisivo para o Distrito Federal e para o Brasil, ajudou a escrever a Constituição do país e desempenhou papel importante para a ampliação das liberdades Civis e dos direitos e garantias fundamentais do cidadão. A história do Sigmaringa se confunde com a história de Brasília. Acima de tudo, morreu um amigo, que irá fazer falta", lamentou Ibaneis.
O presidente da República, Michel Temer, por sua vez, deu os pêsames à família do ex-parlamentar. "Lamento imensamente a morte do grande advogado e homem público Sigmaringa Seixas, um lutador pela democracia brasileira. Meus sentimentos de pesar à família e amigos", divulgou nas redes sociais.
O ministro do STF Gilmar Mendes usou o Twitter para lamentar a morte de Sigmaringa. "Um grande advogado, um mestre na arte da conciliação e da tolerância, um agregador por natureza e vocação. Um democrata na acepção da palavra. Fará muita falta ao Brasil e a nós, seus amigos", escreveu.
O ministro Luís Roberto Barroso também se manifestou. ;Sig foi uma das pessoas mais adoráveis que conheci. Bom caráter, plural, conciliador. Leal e dedicado na vitória e na derrota. O mundo podia ser povoado de gente como ele. Toda minha família o adorava. É um momento de grande tristeza para nós", disse.
Relato de José Carlos Sigmaringa sobre o irmão
"Seu primeiro sonho foi ser jogador de futebol. Jogava bem, adorava jogar e jogou até quando a doença o contundiu. Mas a vida tinha outros planos para ele. Sig pai o batizou de Luiz Carlos em homenagem ao Cavaleiro da Esperança. Cedo entrou na militância política, seguindo o exemplo do pai e dos avós. Tinha 19 anos quando houve o golpe militar de 64. Resistiu. Primeiro no movimento estudantil. Estava lá na passeata dos 100 mil. Terminou o curso na Faculdade de Direito de Niterói e veio para Brasília, onde sua família já estava morando.
Desde o início da carreira se dedicou à defesa de presos políticos. Não selecionava nem discriminava os clientes. Simpatizante do Partidão, defendeu a todos os perseguidos pela ditadura militar, independentemente do matiz ideológico ou posição política. Defendeu a todos. Sempre de graça. Atuou intensamente na luta pela resistência democrática, participando dos movimentos pela anistia, organizando o Centro Brasil Democrático ; Cebrad e pela representação política para Brasília.
Prestava assistência jurídica a movimentos sociais, como os Incansáveis Moradores da Ceilândia e a sindicatos. A luta pela redemocratização do país o levou a se tornar deputado já na primeira eleição em que o DF elegeu parlamentares. Sua atuação no Congresso foi reconhecida pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar ; DIAP, como deputado nota 10.
Constituinte, foi membro da Comissão de Sistematização da Constituição Cidadã. Foi reeleito duas vezes. Atuava sempre na retaguarda, dedicando-se à superação das divergências para alcançar o entendimento, sempre se mantendo discreto. Gostava de ajudar a todos. Passou pelo antigo MDB; depois, PSDB e, por último, PT. Era íntimo dos donos do poder, mas nunca usou essa proximidade em benefício próprio. Em tempos de delações, corrupções, prisões justas e injustas, ele não foi sequer citado em inquéritos e investigações.
Morreu de complicaç%u014Des decorrentes de um transplante de medula óssea para curar a mielodisplasia, uma pré-leucemia. Dizem que a angústia conta muito para o surgimento da doença. Acho que foi isso que o derrubou. Ele não conseguiu resistir às injustiças e traições que presenciou.
Vai, Sig, continue sendo gauche, doce, amigo e solidário! Por enquanto, estamos aqui. A luta continua, até que a morte nos reúna."
José Carlos Sigmaringa