Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projeto de coleta seletiva da 113 Sul reduz quantidade de lixo desperdiçado

Mensalmente, cerca de 11 toneladas de resíduos produzidos pelos moradores deixam de ser descartados no Aterro Sanitário de Brasília e são reaproveitados

Preservar o meio ambiente não é tarefa fácil, mas necessária. Nesse desafio diário, é preciso que cada um faça a sua parte. Pequenas ações podem gerar grandes resultados. Pensando nisso, moradores da Quadra 113 Sul, no Plano Piloto, implementaram, neste ano, um projeto de coleta seletiva que mudou a maneira com a qual os cerca de 1,2 mil habitantes do local lidam com o lixo. Agora, quase nada é desperdiçado: praticamente 100% dos resíduos jogados fora são reciclados.

A gestão de resíduos começou em abril. Desde então, por mês, a quadra conseguiu com que quase 11 toneladas de lixo deixassem de ser indevidamente descartadas no Aterro Sanitário de Brasília ; para lá é levado apenas o lixo que realmente não tem nenhum aproveitamento: o rejeito. ;O lado interessante desse processo é que nós sabemos qual o destino de cada um dos resíduos. Foi um aprendizado maravilhoso. Cada um deu a sua contribuição, e agora, todos sabem como descartar corretamente;, conta a administradora e prefeita da quadra, Rachel Andrade, 46 anos.

Para fazer a divisão do lixo, os moradores separam os resíduos por vidro, orgânicos compostáveis e materiais sólidos (alumínio, isopor, garrafa pet, madeira, papel, papelão e plástico). Cada um dos 11 blocos da quadra conta com lixeiras específicas para receber os três tipos de lixo. ;Foi um processo trabalhoso e contínuo. No início, mais da metade dos resíduos continuava indo para o aterro sanitário. Começamos, então, um trabalho de educação ambiental, com palestras e outras estratégias. Dois meses depois, o cenário já era completamente diferente: apenas 5% não era reaproveitado;, lembra o síndico do Bloco F, Bruno Apolônio, 37.

A quadra conta com a ajuda de três empresas para a coleta. Uma recolhe os vidros e os envia a um centro de reciclagem de São Paulo. Outra fica responsável pelos resíduos orgânicos. A última, cuida dos materiais sólidos. ;Não foi fácil, mas tivemos sucesso. Se esperamos mudança, ela deve partir de nós mesmos. Precisamos de mais ações efetivas, da maneira como foi essa. Hoje, 100% dos moradores estão engajados. Todos entenderam a mensagem. Ninguém pensa em retroceder;, valoriza Rachel.

Reconhecimento

O projeto, chamado de Super Quadra Sustentável 113, recebeu, no início deste mês, o título Atitude Cidadã, entregue pelo Instituto Lixo Zero Brasil, organização sem fins lucrativos, que condecorou iniciativas que aproveitam ao máximo os resíduos recicláveis e orgânicos e dão a eles o encaminhamento correto. Além disso, ficou em segundo lugar no prêmio Boas Práticas de Coleta Seletiva em Condomínios, entregue pelo Serviço de Limpeza Urbana do DF (SLU).

;É gratificante. É um incentivo para que nós continuemos evoluindo. E o mais importante: outra coisa que mudou na quadra é que agora nós conhecemos pelo menos um morador de cada bloco. Voltamos a conviver em comunidade, tínhamos perdido esse costume. Hoje, a quadra é muito melhor em todos os sentidos;, diz Bruno.

Um dos moradores da quadra, o aposentado Simão Dias, 76, percebeu a mudança. Ele próprio reconhece que não tinha tanto cuidado com o lixo que era produzido no seu apartamento, mas, agora, sabe como separar cada resíduo. ;Depois que você aprende, vê que não é um bicho de sete cabeças. Aqui, ninguém é especialista em lixo. Mas todos sabem que as nossas ações vão impactar no meio ambiente. Portanto, quando deixamos de desperdiçar, estamos evitando algo pior;, lembra.

Para Simão, o engajamento da comunidade foi indispensável. ;Ninguém virou as costas. Já que não pudemos fazer algo tão grande, fizemos aquilo que estava ao nosso alcance. Com uma boa gestão, tudo pode dar certo. Hoje, somos uma quadra lixo zero;, destaca.

Até o neto dele, Gabriel Gomes, 10, pegou o hábito. ;Venho aqui apenas nos fins de semana, mas o meu avô já ensinou tudo. Quando volto para casa ou estou na escola, tento repetir. Também cobro meus pais e colegas. Temos que deixar a nossa cidade limpa;, afirma.

Impactos

Além da contribuição para o meio ambiente e a comunidade, o projeto da 113 Sul teve efeitos positivos para a economia. Presidente da cooperativa que recolhe os materiais sólidos, Leda Maria Santos contou que a empresa teve um lucro maior desde que passou a contribuir com a iniciativa. ;Antes, eram 19 funcionários. Com a demanda, o número subiu para 22. O salário deles, que variava entre R$ 750 e R$ 800, agora gira em torno de R$ 965 (valor de um salário mínimo). A iniciativa é o retrato perfeito daquilo que é chamado de tripé da sustentabilidade: envolve aspectos sociais, ambientais e econômicos;, disse.

Proprietário da empresa de paisagismo e compostagem que coleta os resíduos orgânicos, Romero Melo elogiou o projeto. ;A partir do momento em que os resíduos deixam de ir para o aterro sanitário, esse local ganha sobrevida. O impacto ambiental é bastante positivo. Conseguimos evitar, pelo menos um pouco, a poluição do ar e de lençóis freáticos. Esse projeto, se replicado em outros locais, pode melhorar substancialmente as condições do nosso meio ambiente;, garantiu.