Ester Cezar* , Augusto Fernandes
postado em 20/12/2018 20:04
A imagem de uma criatura demoníaca carregando crianças em um saco de presentes incomodou alguns passageiros que circularam pelo Aeroporto de Brasília na tarde desta quinta-feira (20/12). A semelhança com o diabo foi o que mais chamou a atenção das pessoas, mas houve quem não gostasse da exposição de arte por acreditar que ela fazia homenagens ao "coisa ruim".A figura, no entanto, não reverencia ou estimula atos diabólicos. Trata-se, na verdade, de uma das 40 árvores de Natal concebidas por arquitetos, ilustradores, artistas plásticos, desenhistas industriais e designers gráficos brasilienses. As obras estarão em exposição no Aeroporto até 25 de dezembro, em frente ao desembarque internacional. O projeto é promovido pela Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Governo do Distrito Federal em parceria com o Instituto de Produção Socioeducativo e Cultural Brasileiro (IPCB).
Intitulado Natal Arte, o projeto visa reforçar o título que Brasília recebeu em 2017 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) de cidade criativa do design. A ideia, de acordo com a secretaria, é que os artistas façam "intervenções livres, de modo a mostrar as particularidades das próprias técnicas e visões, a partir de uma árvore base em aço carbono de 2,5 metros de altura".
"O Natal Arte vai expor a cultura e o designer brasiliense, neste período de festas e grande movimentação turística, para o público em geral. Ao fomentar a valorização dos artistas locais, Brasília inova, mais uma vez de forma criativa, ao unir a criatividade e as comemorações natalinas", explicou a secretária adjunta de Turismo, Caetana Franarin.
A árvore em que a figura metade cabra e metade demônio aparece é chamada de Noel/Krampus. Krampus, no folclore natalino de países europeus e cidades dos Estados Unidos, é o oposto do Papai Noel. Enquanto a figura do bom velhinho entrega presentes para as crianças no Natal, premiando-as pelo bom comportamento ao longo do ano, o espírito maligno chega para punir aquelas que não se comportaram.
Na base da árvore, um texto explica sobre a história da criatura. "Pouco conhecido no Brasil, o Krampus (ou Pelznichel) é uma tradicional figura do folcore natalino europeu. Enquanto o Papai Noel presenteia as crianças boas com brinquedos e doces, o macabro Krampus visita as crianças más e as açoita com galhos de bétula."
Apesar do desentendimento, a secretaria negou que o objetivo da exposição era levar pânico aos passageiros do Aeroporto ou que quisesse fazer homenagens ao demônio. "O único intuito é movimentar a economia criativa da cidade. Queremos levar a quem passa pelo aeroporto a ideia de que Brasília tem boas artes e bons designers", destacou a pasta.
Público divide opiniões
O vendedor Alexis Kouame, 33 anos, espantou-se com a imagem da exposição e disse que não entendeu qual foi o propósito dela. "Eu fiquei com medo e também não entendi qual a relação com o Natal", confessou. Alexis trabalha em uma das lojas do aeroporto e lembra que quando a imagem foi colocada também causou espanto em outras pessoas. "Bebês e crianças não entenderam, ficaram assustados. Perguntavam aos pais, mas eles também não sabiam explicar. Agora, trocaram de lugar. Acho que para não ficar tão visível e assustar mais gente", completa.
O arquiteto Roberto Silva, 35, comentou que, para ele, a imagem é normal. Ele ainda elogiou o artista. "É apenas representativa. As pessoas se espantam porque não conhecem. Para mim, é a mais bonita da exposição. Parece que foi feita com mais calma, mais cautela." Henrique Gonçalves, 29, também acredita que faltou entendimento por parte de quem se espantou com a arte. "A imagem mostra a dualidade da festa de Natal: o Papai Noel do bem e o do mal. Acho que falta cultura em quem não entendeu", afirmou.
* Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli