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Plantonistas contam como é trabalhar na noite de Natal e no réveillon

Profissionais da segurança pública e da saúde contam como é trabalhar nas noites de Natal e de ano-novo. Apesar do aperto no coração por estarem longe da família durante a ceia ou no réveillon, eles sabem da importância do que fazem para a cidade

Enquanto a maioria das famílias se reunirá na noite de 24 de dezembro para comemorar o Natal com ceias e trocas de presentes, alguns profissionais estarão concentrados nas escalas de plantão. Áreas como segurança e saúde são exemplos de que esse esforço a mais é necessário. É o caso do sargento da Polícia Militar Alan Dias, 45 anos.

Há 25 anos na corporação, ele está acostumado a trabalhar nesta data. Quase todos os anos, ele é escalado no Natal. ;É difícil deixar a família, mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante, porque as pessoas se transformam. Ficam mais cativantes, abraçam a gente;, conta. Segundo ele, como no feriado natalino as pessoas costumam passar em família, geralmente, é mais tranquilo do que no ano-novo.
O primeiro plantão dele, no entanto, ficou marcado por um homicídio. Logo que começou na Polícia Militar, Alan voluntariou-se para trabalhar no Natal. O que ele não imaginava é que seria chamado a Santa Maria para atender uma ocorrência violenta. ;Um homem queria entrar em uma festa de família, mas não deixaram. Ele foi embora, voltou mais tarde com uma arma e matou uma pessoa;, relembra. ;É uma história que até hoje nós recordamos. Todos ficamos muito comovidos com a família chorando.;

A policial civil Beatriz de Holanda, 36, prepara-se para o primeiro plantão de Natal desde que entrou para a corporação, há quatro anos e meio. Nascida em Fortaleza (CE), ela está acostumada a passar a data com a família no Nordeste. ;O coração está apertado, mas acontece. São ossos do ofício. Quem escolhe essa profissão tem de estar preparado para tudo;, explica.

Beatriz trabalha na 5; Delegacia de Polícia (Setor Central), onde a equipe se organiza para fazer uma pequena ceia de Natal. ;O policial tem de atender à população, independentemente do dia e da hora. O crime não espera; por isso, é preciso sempre ter alguém preparado;, ressalta.

Vigilância no céu

;Neste ano, a gente vai te ver no Natal ou no ano-novo?;. A pergunta é frequente entre os parentes do major Anderson do Nascimento, piloto do 1; Esquadrão de Aviação Internacional do Corpo de Bombeiros. Com 18 anos na profissão, ele costuma revezar as escalas de fim de ano. Em 2017, trabalhou no Natal, quando atendeu ocorrências, principalmente de acidentes automobilísticos e de paradas cardiorrespiratórias.

Em 2018, Anderson poderá estar com a família para a ceia, mas a virada do ano será no resgate e no salvamento de vidas. Foi o réveillon de 2015 um dos plantões mais marcantes dele. ;Houve um acidente de trânsito em Luziânia, e a equipe foi fazer o transporte para Brasília. Estávamos no céu quando deu meia-noite. Vimos a queima de fogos da Esplanada lá do alto;, revela. Além disso, a vítima sobreviveu. ;Nunca tive arrependimentos ou vontade de mudar de trabalho. Gosto muito do que faço e tem valido a pena. Considero-me privilegiado por ser bombeiro;, diz.

Segunda família

;É um misto de tristeza, alegria e orgulho.; Essa é a avaliação que o médico intensivista do pronto-socorro do Hospital Santa Lúcia, na Asa Sul, e do Hospital de Base Luciano Lourenço, 40, faz do trabalho nas noites de Natal. Católico e apegado à família, ele acredita que esta é uma data que remete à união. Nos últimos quatro anos, ele atendeu os mais diversos pacientes nesses plantões. Emocionado, lembra-se de um, em especial: em 2014, atendeu um homem de 43 anos que chegou ao Hospital de Base com uma hemorragia digestiva. ;Passei 12 horas com ele, mas deu tudo certo. Ele recuperou-se, e nós ficamos amigos. Todos os anos, ele me traz algum presente no fim do ano;, afirma.

Não foi o único caso que o marcou. Enquanto os fogos explodiam no céu para receber o ano de 2016, uma jovem de 17 anos deu entrada no Hospital de Base com anemia falciforme. ;Essa doença causa pequenos infartos nos vasos. Ela estava com uma crise torácica e sentia muita dor. Tínhamos dado as doses máximas dos medicamentos e não passava. A equipe chegou a cogitar sedá-la;, relembra. Foi quando Luciano sentou ao lado da menina, e eles começaram a bater um papo. ;Cerca de 40 minutos depois, ela disse que estava bem. Não sei se foi a conversa que a distraiu ou os analgésicos, mas ela melhorou. Foi gratificante vê-la dormindo tranquila e sem dor.;

Segundo Luciano, nem Natal nem ano-novo resultam em plantões fáceis. Enquanto, na madrugada do dia 25, há um menor fluxo de pacientes, normalmente os casos são mais graves. ;Ninguém vai ao hospital nesse dia por causa de uma faringite;, explica. No réveillon, os casos são mais simples, porém, volumosos. ;Há uma ingestão alcoólica aumentada, e o atendimento na ortopedia também é maior;. Mas, para ele, os sacrifícios são recompensados. ;Não vejo como punição, mas como orgulho e alegria. A gente vê a equipe se unindo, e o vínculo entre os profissionais que estão ali fica muito grande. A gente se lembra que nós estamos em família. Uma segunda família;, ressalta.