O tenente-coronel Carlos Eduardo Belelli da Polícia Militar de Goiás já sabia desde a semana passada sobre a decisão judicial que o levou a prisão nessa terça-feira (18/12), segundo um áudio vazado atribuído a ele. Além dele, mais quatro policiais do estado são acusados de integrar um grupo de extermínios em três cidades goianas.
Nas
mensagens obtidas pela
TV Anhanguera, afiliada da
TV Globo em Goiás, Belelli conversa com uma advogada e conta que foi alertado da prisão. ;É o Belelli... Eu recebi a informação agora pela Baruk. Aliás, tomara que você não comente isso com ninguém. Saiu o mandado de prisão nosso. Você já deve tá sabendo, né? Qualquer coisa liga aqui;, diz em áudio.
A pessoa a quem o tenente atribui a informação recebida seria a juíza titular da 1; vara criminal da comarca de Caldas Novas (GO), Vaneska Baruk. Procurada pelo Correio, a magistrada afirmou, em nota (veja abaixo), que nunca teve contato com Belleli e os demais acusados, mas que ;apenas emitiu o "cumpra-se" em mandado de busca e apreensão contra o mesmo;.
A juíza também disse que representou denúncia de calúnia contra o acusado. No entanto, um indício de que o tenente-coronel já sabia da operação é que, no mesmo dia da prisão, ele postou nas redes sociais um vídeo de 20 minutos (veja abaixo) em que ele fala da suas prisão e se defende das acusações.
;Provavelmente eu esteja preso, acusado de ser chefe de um grupo de extermínio. É o maior absurdo da minha vida. Sempre tive uma vida ilibada, defendendo a sociedade de bem e vocês sabem disso;, diz no vídeo.
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Operação Circo da Morte
Integrado por ao menos cinco policiais militares goianos, o grupo de extermínio praticava crimes no Entorno do Distrito Federal e em Caldas Novas (GO) há ao menos dois anos. O bando é acusado de executar criminosos após forjar troca de tiros e sequestrar e assassinar um casal. As investigações apontam que o líder do esquadrão da morte é o tenente-coronel Carlos Eduardo Belelli, candidato a deputado estadual de Goiás pelo PR derrotado em outubro, segundo os investigadores.
Uma força-tarefa do Ministério Público Estadual de Goiás (MPGO) e da Polícia Federal prendeu, na manhã dessa terça-feira (18/12), o oficial e os outros quatro policiais militares ; um cabo, um subtenente e dois sargentos ;
suspeitos de integrar o grupo de extermínio. Eles atuavam em Caldas Novas, em Santo Antônio do Descoberto e em Alto Paraíso. Além das prisões, efetuadas em Caldas Novas, onde os militares estavam lotados, agentes da PF cumpriram nove mandados de busca e apreensão, na Operação Circo da Morte.
Um dos principais casos investigados são as mortes de Douglas Carvalho da Silva, 27 anos, e Carlos Soares dos Prazeres Junior, 18 anos, ocorridas em março de 2017, em Caldas Novas, após uma troca de tiros com policiais militares. Outro são as mortes de Darley Carvalho da Silva, 31 anos, e da namorada dele, Dallyla Fernanda Martins da Silva, 21, também em março de 2017. Homens encapuzados que se diziam serem policiais sequestraram ambos em casa, em Santo Antônio do Descoberto. Desde então, familiares dos jovens cobravam a elucidação do caso. Investigadores apontam os cinco PMs presos como os autores do crime, que evoluiu para execução e ocultação de cadáver.
Nota da juíza
;Venho esclarecer os fatos que se seguem.
Sou titular da 1a vara criminal da comarca de Caldas Novas, onde trabalho há oito anos.
Nunca tive contato com a investigação que envolve o tenente-coronel Carlos Eduardo Belelli e os demais policiais dessa cidade, visto que ela não tramita em caldas novas. No dia 06.12.2018, apenas emiti o "cumpra-se" em mandado de busca e apreensão contra o mesmo, trazido pelo promotor de justiça Pedro Eugenio Beltrame Benatti.
Ocorre que em 07,12,2018, durante sessão plenária do Tribunal do Júri, soube, por intermédio da advogada Dra. Lorena Paixão Nascimento (OAB/GO 30.341), que o TC Carlos Eduardo Belleli enviou, para ela, áudio onde afirma que esta Magistrada disse-lhe que havia lhe informado que teria sido expedido mandado de prisão contra ele.
Tal fato NUNCA ocorreu. Esta magistrada, em momento algum, contactou quem quer que seja, nem o faria, sob qualquer hipótese. E mais: repiso que esta magistrada nunca teve contato com a investigação que culminou na prisão dos militares.
Assim que cientificada da fala do citado Militar, esta magistrada passou as informações do celular da advogada para o próprio celular e dele para o Promotor de Justiça, NA PRESENÇA E SOB A ORIENTAÇÃO DESTE, bem como formalizou a situação descrita.
Igualmente representei contra o tenente Belelli para o delegado de Polícia Civil ATHOS GALBA COSTA LIMA, requisitando a instauração de inquérito pela prática de crime de calúnia contra minha pessoa. Deixo claro que se trata de uma mentira e que jamais houve vazamento de informações por essa magistrada ou qualquer pessoa do Judiciário Goiano.;