O casal que agrediu um menino de 6 anos na quadra de esportes de um condomínio na Octogonal 4 (AOS 4), no último domingo, vai ser indiciado por lesão corporal, ameaça e possível constrangimento contra o próprio filho, pois o homem ordenou que o garoto batesse no rosto da vítima. Caso condenados, pai e mãe podem receber uma pena de três meses a um ano de prisão apenas pela lesão corporal, com o agravante de a vítima ser menor de 14 anos. O inquérito deve ser concluído até o fim da semana que vem.
O caso se tornou público após o site do Correio exibir, na quarta-feira, as imagens das agressões, gravadas por câmeras de segurança do de um dos prédios vizinhos e do condomínio. A tia da vítima registrou ocorrência no mesmo dia. Responsável pela investigação, a delegada Patrícia Bozolan, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), . ;As imagens são inquestionáveis e inequívocas quanto à ação do pai e da mãe da outra criança durante as agressões à vítima;, ressalta.
Agora, agentes da DPCA tentam reunir o maior número possível de testemunhas. Ao menos outras 10 crianças e adolescentes aparecem nas imagens presenciando as agressões. Um adulto, que estava na piscina próxima à quadra, socorreu a vítima. O menino, que mora em Feira de Santana (BA) e passa férias na casa da tia que mora no condomínio, também será ouvido. ;A vítima foi encaminhada ao IML (Instituto de Medicina Legal) e o próximo passo será ouvir as testemunhas e os autores;, explica Patrícia Bozolan.
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Flagrante
O vídeo mostra meninos e meninas jogando futebol na quadra na tarde de domingo. Um dos garotos tropeça na bola e cai, ao lado de outro. O menino que tropeçou sai de cena. Minutos depois, ele volta com o pai, que segura uma sandália. Nervoso, o homem imobiliza a criança que estava ao lado do filho, que bate no rosto do colega. Também alterada, chega uma mulher, a mãe. Ela empurra o menino agredido, que cai no chão. No momento das agressões, outras crianças estão acuadas no alambrado da quadra. Algumas aparecem nas imagens chorando.
Os adultos agressores, que não moram no condomínio, passavam o dia na casa dos avós maternos, moradores de um dos blocos da Octogonal 4. Chorando, o filho do casal subiu até o imóvel, com sangramento na boca. O pai e a mãe logo desceram com a criança, acreditando que ela havia sido agredida. Testemunhas contam que o homem segurou os braços do menino suposto agressor para que o filho dele desse um soco no rosto do colega.
A delegada considerou o caso atípico. ;Temos episódios de pais que tomam as dores dos filhos, mas por meio de satisfação verbal e ameaça. Não por agressão física, como o que aconteceu;, comenta Bozolan. O casal agressor mora em Águas Claras. O Correio esteve no endereço, mas, pelo interfone, uma mulher disse que ninguém daria entrevista. A reportagem também tentou contato com os avós, mas eles também não se posicionaram, alegando seguir recomendação de um advogado. A tarde, o jornal ligou para um dos telefones da família e uma pessoa disse que anotaria os contatos para retornar, mas não telefonou até o fechamento desta edição.
Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar do Sudoeste vai representar hoje o caso ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Vara da Infância e da Juventude (VIJ). Na manhã de ontem, conselheiros tutelares estiveram no condomínio para se inteirar do caso e ouvir duas partes. Para a conselheira Lucinete Ferreira de Andrade, houve agressão à vítima e à criança obrigada a agredi-la. ;Faremos uma representação o mais rápido possível, ainda mais porque o menino (que foi segurado pelo adulto) não mora no Distrito Federal. O Conselho Tutelar da Bahia também acompanhará a situação;, frisou Lucinete. A punição pode ir de multa a prisão.
Tia do menino agredido, Jucinea das Mercês Nascimento, 43 anos, disse que ele está muito assustado. ;Ele não fez nada de errado, por isso não esperava nenhum tipo de punição. Isso foi o que mais pesou para ele;, comentou. A vítima veio a Brasília com a irmã, de 8 anos, passar férias com Jucinea e o filho dela, de 9 anos. A tia disse que a mãe do garoto, que está na Bahia, chora a todo momento e está preocupada com o filho, que voltará ao estado de origem na segunda-feira (leia aqui o depoimento da mãe).
Avô pede desculpas
Tia do menino de 6 anos agredido na Octogonal 4, Jucinea das Mercês Nascimento contou que o avô materno do garoto obrigado a bater no coleguinha a mando do pai pediu desculpas. ;Não tenho o que desculpar. Vamos deixar as autoridades tomarem de conta dessa situação;, destaca Jucinea.
A vítima evita tocar no assunto. Agitado, na sala da casa da tia, o menino ontem brincava com uma bola enquanto conversava com a reportagem do Correio. ;Essa história tomou grandes proporções. Ainda estamos evitando descer para brincar na quadra;, lamentou Jucinea. Ao ser questionado sobre a violência, a criança disse que sentiu ;vontade de ir embora;.
A conselheira tutelar Lucinete Ferreira de Andrade esteve no apartamento dos avós maternos do menino obrigado a bater no outro. Ela contou que a família está abalada e insegura. ;O casal também tem uma filha adolescente, que está com medo de transitar pela região. Eles serão ouvidos formalmente amanhã (hoje) no Conselho Tutelar, mas já adiantaram que foi um momento de muita infelicidade;, comentou Lucinete.
Manifestação
A pedido dos moradores, às 9h30 de hoje haverá uma reunião no condomínio onde ocorreram as agressões. Eles querem que os acusados sejam impedidos de acessar o conjunto habitacional, até que haja uma solução para o caso. Os moradores do condomínio se mobilizam para um ato pela paz, às 17h30 de domingo, mesmo horário em que ocorreram as agressões contra o garoto.