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Denúncias de abuso sexual contra João de Deus: o que se sabe até agora

Perto de 20 mulheres já fizeram denúncias de abuso sexual contra o médium João de Deus. Caso é investigado pela Polícia Civil e Ministério Público de Goiás

Do que o médium é acusado?

As denúncias contra o médium João de Deus, mundialmente famoso por realizar cirurgias espirituais em Abadiânia (GO), vieram a público na madrugada de 8 de dezembro de 2018, no programa de tevê Conversa com Bial. A atração da Rede Globo relatou ter ouvido 10 mulheres, nove brasileiras e uma holandesa, que contam ter sido vítimas de violência sexual quando visitaram a Casa Don Inácio de Loyola, onde o médium costuma fazer seus atendimentos.

Das primeiras denunciantes, apenas a holandesa Zahira Lieneke, 34 anos, aceitou se identificar. Ela também foi a única que disse ter sido penetrada por João de Deus. Os demais relatos são de que o médium teria solicitado para ficar a sós com a vítima e, então, apalpado seus corpos, colocado a mão das mulheres em seu órgão sexual e se esfregado nelas, muitas vezes por trás. Em vários dos relatos, as mulheres dizem que ele falava ter recebido uma entidade nesses momentos e argumentado que os atos eram uma forma de promover a cura.
Para promotores de Goiás, os depoimentos divulgados pela imprensa indicam que será possível acusar o médium de diferentes crimes, como estupro, violação sexual mediante fraude e estupro de vulnerável. As penas máximas variam de seis a 15 anos e são cumulativas.

Quantas mulheres se dizem vítimas de João de Deus?

O número parece chegar às centenas. Segundo o progama Fantástico, da Rede Globo, uma promotora que atua no caso foi procurada por cerca de 200 mulheres desde que a história veio à tona. A imprensa já ouviu dezenas delas.

Além das 10 citadas pelo programa do jornalista Pedro Bial, o jornal O Globo publicou uma matéria, também no sábado (8/12), com outras três mulheres que se diziam vítimas.

No mesmo dia, o Jornal Nacional, também da Rede Globo, apresentou mais um caso. Em Goiás, a TV Anhanguera entrevistou outras duas supostas vítimas. E, no DF e Entorno, o Correio Braziliense entrevistou duas mulheres que também contaram ter sofrido abuso sexual do médium. Uma e a outra reside em Valparaíso de Goiás e conta ter sido abusada em 1999.

Uma das pessoas responsáveis por reunir esses relatos foi Sabrina de Campos, uma brasileira que vive em Barcelona. "Agradeço imensamente às primeiras mulheres que relataram os abusos. Tão logo os recebi, me coloquei à disposição para receber novos relatos e chegaram dezenas, (contra) vários líderes espirituais. Entre eles, do médium mais famoso do Brasil: João de Deus. Mobilizamos imprensa, jornalistas e produtores, e fiz a ponte com as vítimas que tinham condições psicológicas para repetir seus traumas", disse em suas redes sociais (assista abaixo).
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Há alguma investigação formal em curso?

Sim. A Polícia Civil de Goiás e o Ministério Publico de Goiás iniciaram, nesta segunda-feira, uma força-tarefa para colher os depoimentos das vítimas. As mulheres que desejarem denunciar João de Deus poderão falar em seus próprios estados. Os MPs de Minas Gerais e de São Paulo já agendaram as primeiras entrevistas. Um e-mail foi criado especificamente para receber as denúncias: denuncias@mpgo.mp.br.
Além disso, a Polícia Civil de Goiás . Um deles, de 2016, está em fase avançada de apuração. João de Deus também já foi processado três vezes, acusado de crimes sexuais. Dois dos casos, porém foram arquivados. No terceiro, ele foi absolvido.

João de Deus pode ser chamado a depor ou ser preso?

O MPGO acredita que as denúncias permitirão a convocação de João de Deus para um interrogatório, mas isso só deve acontecer após o depoimento formal das vítimas. Fechada a investigação, o objetivo é levar o médium a julgamento.

O centro de João de Deus pode ser fechado?

Essa é uma possibilidade. Mas o MPGO e a PCGO só devem tomar essa atitude após coletar os depoimentos e provas.

O que João de Deus diz sobre o assunto?

[SAIBAMAIS]João de Deus nega que tenha realizado qualquer tipo de violência sexual contra pacientes. Em nota ao programa da tevê Globo que primeiro revelou as denúncias, a Casa Dom Inácio de Loyola classificou as acusações como "falsas e fantasiosas". "A sala em questão (onde as mulheres contam ter sido abusadas) é pública, qualquer um tem acesso a ela e jamais fica trancada. É lamentável, uma vez que o médium João é uma pessoa de índole ilibada", afirmou a instituição por meio de nota.

Pouco antes da exibição do Conversa com Bial, o médium se manifestou em sua conta oficial no Instagram. "Não desistirei jamais da minha missão de amor. Perdoo todos aqueles que me fizeram ou tentam me fazer mal", se expressou.

Como reagiram os seguidores de João de Deus?

Ao menos inicialmente, os seguidores de João de Deus se mostraram céticos com relação ao teor das denúncias. O Correio visitou a cidade de Abadiânia no sábado e conversou com algumas dessas pessoas. Todas disseram não acreditar que o médium seria capaz de cometer esse tipo de violência. Outras acreditam que se trata de uma tentativa de prejudicar João de Deus.

Quem é João de Deus?

Nascido em Cachoeira de Goiás, em 24 de junho de 1942, João de Deus realiza os atendimentos e cirurgias espirituais desde 1976 e hoje é responsável por uma romaria de aproximadamente 45 mil pessoas todos os meses até Abadiânia, que fica a 115km de Brasília.

É frequentemente procurado por políticos, celebridades da cultura e dos esportes e profissionais da imprensa, tenso sido visitado por figuras como o cantor Paul Simon, o ex-presidente Lula, a apresentadora Xuxa e o ministro do STF Luís Roberto Barroso, entre outros. Sua fama alcançou proporções imensas depois de ele ser entrevistado pela americana Oprah Winfrey, uma das apresentadoras de tevê mais famosas do mundo.

No ano passado, João de Deus recebeu uma equipe do Correio Braziliense para entrevista. "Nunca atendi ninguém. Quem atende é Deus. Nunca curei ninguém. Quem cura é Deus. Eu sou só o mensageiro", afirmou à reportagem, na ocasião. "Se você tem certeza de que tem Deus dentro de você, nada é impossível, tudo se resolve", acrescentou, antes de sugerir: "Perdoe sempre". Assista trechos da entrevista abaixo:
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