Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projeto da ONU usa esporte para mobilizar 500 jovens

Distrito Federal foi o primeiro lugar do mundo a receber a iniciativa, que hoje está presente em outros cinco países. Festival neste sábado celebrou o encerramento de mais um ciclo de trabalho nos Centros Olímpicos

Morador de Samambaia, Nicolas Pessoa dos Santos, 14 anos, era um garoto tímido, que não conversava muito com as pessoas, ficava em casa no contraturno escolar e não curtia esse tédio. Estuda em uma escola e mora numa região em que o consumo de drogas é comum a muitos jovens. Com o apoio da família, Nicolas encontrou no esporte uma oportunidade de interagir com mais pessoas, desenvolver novas habilidades e se sentir mais à vontade para se expressar. Além das atividades de atletismo, tênis e jiu-jitsu que pratica regulamente no Centro Olímpico e Paralímpico, ele foi um dos 500 jovens participantes do Vamos Nessa em Brasília no ano de 2018. Desde o ano passado, o projeto vem sendo desenvolvido na capital federal pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), com apoio da Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal e Fundação Assis Chateaubriand.

Neste semestre, 25 professores de educação física foram treinados para disseminar a metodologia nos Centros Olímpicos e Paralímpicos de Ceilândia (Parque da Vaquejada e Setor O), Estrutural, São Sebastião, Planaltina, Recanto das Emas, Sobradinho e Samambaia. A iniciativa, que chegou ao DF como piloto no mundo, hoje ganha espaço em países como Palestina, Quiguistão, África do Sul, Colômbia e República Dominicana.

Na tarde de ontem, a equipe de Nicolas levou para casa medalhas de ouro pela participação na gincana do Festival Vamos Nessa. Houve ainda competições de futebol, futsal, e polo aquático. O evento celebrou o encerramento de mais um ciclo de atividades que usam o esporte para prevenir e afastar jovens das drogas, violência e crime no Distrito Federal, estimulando de forma lúdica habilidades para a vida, como resistir às pressões sociais para enfrentar a delinquência, lidar com a ansiedade e se comunicar efetivamente com colegas. Além das medalhas, foram entregues certificados aos professores e participantes.

Segundo Rafael Franzini, representante do UNODC no Brasil, o impacto social do projeto será medido em breve com pesquisas aprofundadas, mas já é possível observar resultados positivos. ;Temos que investir nos jovens se nós procuramos sociedades resilientes, com menos violência e mais produtivas. Esses meninos e meninas merecem um futuro melhor. E essas atividades de prevenção procuram criar condições para que isso seja uma realidade;, destacou. Para Ken Araújo, da Fundação Assis Chateaubriand, o trabalho fez a diferença na vida dos alunos e profissionais envolvidos: ;O esporte transforma e traz uma possibilidade de resgate de valores. Outro fator que me chamou a atenção foi que os familiares entenderam a importância desse projeto, apoiaram e prestigiaram os filhos.;

Primeira multiplicadora do DF no Vamos Nessa, a professora Juliana Lucena, do Centro Olímpico e Paralímpico do Setor O, contou que a troca de experiências foi valiosa. ;Mais do que atletas, formamos cidadãos. Nesses dois anos, me deparei com várias situações de alunos em momentos de crise e em zonas de risco. Se não fosse esse trabalho, poderíamos não ter identificado esses alunos;, observou.