Alan Rios
postado em 09/12/2018 11:07
O Correio localizou uma moradora do Distrito Federal que conta ter sido vítima de abuso sexual do médium João de Deus em 2006. Moradora do Noroeste, com 49 anos, ela diz ter se sentido motivada a quebrar o silêncio de 12 anos após ver as denúncias de outras vítimas, que começaram a vir à tona no sábado (8/12). Ela pede para não ter a identidade revelada por medo de represálias.
O assédio, conta, aconteceu quando ela buscava uma cura para a mãe, que sofria com um câncer. "Foi o pior dia da minha vida. Ele ejaculou em mim e disse que não tinha sido ele, mas uma entidade", desabafa. Na próxima segunda-feira (10/12), ela pretende, com o apoio da família, ir até a delegacia de Abadiânia para oficializar a denúncia. . "Toda vez que eu me lembro, é uma tortura. Mas acho que, daqui para frente, será mais fácil lidar com isso", completa (leia o depoimento de uma moradora de Valparaíso que também diz ter sido vítima do médium).
[SAIBAMAIS]A moradora de Brasília conta que ela e uma irmã levaram a mãe, então com 62 anos, até a Casa Dom Inácio de Loyola. João de Deus ouviu as queixas da senhora e fez orações. Depois, pediu para que todos saíssem, inclusive sua mãe, e que ela ficasse a sós com ele. Inicialmente, a mulher imaginou que o médium conversaria com ela sobre a condição da mãe, mas não foi o que aconteceu.
"Fiquei (na sala) na maior inocência. Então, ele ficou de pé, pediu para que eu fosse para a frente dele e que desabotoasse a minha calça. Eu questionei muito, resisti, mas ele falou que aquilo tinha que ser feito comigo porque, através de mim, minha mãe receberia aquela energia. Foi horrível. Ele tentava pegar nas minhas partes íntimas e se esfregava atrás de mim. Enquanto ele não ejaculou na minha calça, não parou", relata.
Vítima ficou sem reação
Na hora, a mulher disse que acabou ficando sem saber o que fazer diante da situação "absurda", e que o médium gritava e a ameaçava. "Foi a coisa mais horrorosa do mundo. Quando ele terminou, disse que aquilo não tinha sido ele, mas uma entidade, agindo pela cura da minha mãe."
A moradora do Noroeste diz que, até hoje, não conseguiu deixar as marcas do abuso para trás. "Fiquei muito tempo sem conseguir dormir, sem contar nada para ninguém, com medo. Mas, agora, tirei esse peso de mim, relatando minha história", pondera. "Quando um familiar está fragilizado, nós tentamos ajudar de qualquer forma, e o que podíamos fazer pela minha mãe, com câncer de ovário, era realizar o desejo dela, de ser atendida por ele, o que virou um trauma", lamenta.