Jornal Correio Braziliense

Cidades

Série Rede do Amor revela histórias de quem é solidário o ano todo

Grupo deixa o espírito natalino tomar conta do dia a dia, e se dedica com comprometimento ao trabalho voluntário

Enquanto para uns praticar uma boa ação, estender a mão ao próximo e oferecer ajuda são ações esporádicas, para outros essa é uma rotina diária, que toma boa parte do tempo. Quem se dispõe a ser voluntário aprende, na prática, a abdicar de muita coisa para espalhar o bem. E não se arrepende, como comprova a secretária Elke Pimentel, 35. Além do trabalho, ela divide a rotina entre os estudos no curso de jornalismo, a família e o trabalho social.

Há três anos, Elke estava em casa com alguns amigos quando tiveram a ideia de fazer uma ação solidária de Natal. O grupo se reuniu e distribuiu lanches para a criançada na praça em frente à casa dela, no Vale do Amanhecer. ;A gente não tinha pensado em nenhuma atividade; então, uma amiga ligou o som do carro e todo mundo começou a dançar. Pegamos umas traves pequenas e fomos jogar bola também;, relembra. Animada com a alegria da pequena ação, Elke propôs aos companheiros ir mais longe. ;Por que praticarmos solidariedade apenas no Natal? Por que não o ano todo?;, questionou.

Assim, nasceu a Corrente Elos do Bem, forma como eles passaram a se chamar. O que começou com cinco amigos em uma garagem é hoje um grupo de 50 pessoas. Todo mês eles realizam alguma ação em áreas carentes do Distrito Federal. São aulões para concursos públicos, bazares, aulas de zumba e muito mais. Para a população participar, cada um faz uma doação, que é revertida em futuros trabalhos.

A ação de Natal não deixou de existir. Os últimos aulões arrecadaram brinquedos que serão doados em 16 de dezembro no estacionamento do Ginásio de Múltiplas Funções de Planaltina. Os amigos contaram com o apoio de empresários da cidade e conseguiram pula-pula, piscina de bolinhas, pipoca, algodão-doce e 150 brinquedos para as doações às crianças. A meta é chegar a 200.

Doação

;As pessoas querem ajudar as outras, elas só não têm a oportunidade;, avalia José Marcelo, 49. Além de trabalhar como professor universitário, jornalista e acupunturista, todo domingo, ele se desloca ao centro espírita André Luiz, no Guará, onde oferece sessões gratuitas de acupuntura a pessoas carentes. ;A acupuntura serve para praticamente tudo. E eu não estou sozinho. Hoje, somos um grupo de 13 profissionais, ao menos cinco a cada domingo;, descreve. Entre 30 e 40 pessoas são atendidas todo fim de semana.

E esse não é o único gesto de solidariedade dele. Neste ano, José Marcelo e a família acolheram, em casa, uma família de refugiados venezuelanos vindos de Boa Vista. Ele mobilizou os amigos para movimentar o espaço e conseguir roupas e alimentação. Em parceria com a organização humanitária Aldeias Infantis SOS, a família foi indicada para o novo lar. ;Eles vão morar lá seis meses de graça. Não cobro aluguel, luz, água, nada. Eles já estão trabalhando, então, até lá vão conseguir se manter e encontrar um novo lugar.;


Carinho

É também com naturalidade que uma turma de amigas se reuniu para criar o projeto Chá das Amigas ; Cartas para um Amor, em que todos enviam correspondências a pacientes com câncer. A contadora Virgínia Braz, 40, é uma das escritoras. Ela conta que a experiência tem sido de leveza e emoção. ;Tem muitas pessoas lá que enfrentaram a doença ou estão em tratamento e elas dão os depoimentos de como receber essas cartas é importante;, relata.

A idealizadora do projeto é a professora Carla Cavalcanti, 40. Em abril deste ano, a mãe dela morreu de câncer. ;Eu a acompanhei ao longo de todo o tratamento e sempre via nos corredores do hospital pessoas solitárias, tristes. Perguntei a um médico se poderia escrever cartas e ele concordou, mas eu acabei não fazendo;, relembra. Depois da morte da mãe, no entanto, ela decidiu colocar a ideia em prática, reuniu primas e elas começaram a escrever.

A notícia foi se espalhando e envolvendo mais pessoas. Até agora, elas já fizeram cinco encontros, reunindo cerca de 300 voluntários. ;O projeto tem o objetivo de tirar o foco da doença. Uma palavra, uma carta, pode transformar o momento;, avalia Carla.

Dedicação

Para muitas pessoas, o Natal é uma época mágica, quando se desperta a vontade de ajudar e ser solidário. Nesse clima, os Papais Noéis da vida real tomam forma. Uma delas é Hilda Valverde, 46 anos. O trabalho começou há cerca de 12 anos. Hilda, que na época morava no município de Santo Antônio do Descoberto (GO), comprou alguns brinquedos e resolveu distribuir para os pequenos, e não parou mais, mesmo depois de se mudar para o Riacho Fundo 1, onde vive hoje.

Quatro meses antes das festividades, ela começa a recolher brinquedos de doações ou jogados no lixo. A partir daí começa a restauração e recuperação. Ursos rasgados são costurados, bonecas sujas, lavadas, e ganham novas roupas. Depois de recuperados, os brinquedos são embalados um a um, com balinhas e pirulitos. Quando chega o grande dia da entrega, Hilda põe a roupa do Papai Noel, joga os presentes no carro e vai para o destino da festa.

Todo ano ela combina com um morador de alguma cidade ou região mais pobre para que ele reúna as crianças que mais precisam, com a promessa de que o Papai Noel vai chegar. Nos últimos dois anos, a entrega foi em Planaltina de Goiás, mas, desta vez, ela volta para o lugar onde tudo começou: Santo Antônio do Descoberto. ;Quando eu entro na roupa vermelha, não sou mais eu. É muito bom ver a carinha daquelas crianças. Tem umas que não tem condição de comprar um brinquedo de R$ 1.;


Como ajudar

Corrente Elos do Bem
Para fazer parte, basta mandar uma mensagem pelas páginas no Facebook ;Corrente do Bem; ou entrar em contato com Elke Pimentel pelo telefone (61) 98223-9103.


Papai Noel do DF
Quem quiser contribuir com a Hilda, pode entrar em contato pelo número (61) 99245-2031.


Cartas
Quem quiser escrever as cartas para pacientes com câncer e familiares pode entrar em contato com a equipe do Chá das Amigas ; Cartas para um Amor pelo e-mail cha.cartasparaumamor@gmail.com.