Augusto Fernandes
postado em 07/12/2018 13:01
Uma mulher de 33 anos de idade morreu, na manhã de quinta-feira (6/12), em Samambaia, após passar mal e não conseguir pronto atendimento na rede pública de saúde do Distrito Federal. A vítima, identificada como Patricia Elen Macedo de Souza, não resistiu a cinco convulsões e uma parada cardiorrespiratória. Familiares da mulher pediram socorro ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a levaram ao Hospital Regional de Samambaia (HRSam), no entanto, alegam que não tiveram o amparo de nenhum dos dois serviços.
Em entrevista ao Correio, o irmão da vítima, Samuel Levi Macedo, 22, contou que Patricia vinha passando mal há pelo menos duas semanas. Ela sentia fortes dores no peito. Na quarta-feira (5/12), a mulher foi examinada em um hospital particular, onde trabalhava como recepcionista. O resultado do exame seria divulgado na próxima segunda-feira (10/12). Antes disso, no entanto, ela voltou a passar mal.
"Na manhã de ontem [quinta-feira], a minha irmã teve a primeira convulsão. Eu estava em casa com ela e tentei ajudar de alguma maneira, mas não sabia o que fazer. Liguei para o Samu, mas o atendente não acreditava quando eu falava que ela estava passando mal. Nem mesmo o médico quis ajudar. Ele simplesmente disse que não poderia deslocar uma ambulância até a nossa casa e pediu que eu levasse a minha irmã de carro ao hospital mais próximo", relatou Samuel.
Neste momento, Samuel ligou para a mãe, que estava trabalhando. Ela voltou para casa às pressas, e os três seguiram em direção ao HRSam. "No trajeto, a Patricia teve mais duas convulsões. Quando chegamos ao hospital, rapidamente um segurança nos trouxe uma cadeira de rodas, mas uma enfermeira da unidade recusou atender a minha irmã. Ela nem olhou para a Patricia para entender o que estava acontecendo. Mesmo com minha mãe gritando de desespero, a enfermeira apenas disse que não teria como atendê-la porque o hospital estava cheio e não havia médicos disponíveis naquela hora."
A enfermeira sugeriu que Patricia fosse levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Samambaia Sul. "Carreguei minha irmã nos braços de volta para o carro e seguimos direto para a UPA. A Patricia teve mais duas convulsões, e, na última, ela parou de respirar. Já não demonstrava nenhum tipo de reação. Ela morreu antes mesmo de chegarmos lá", lamentou o irmão.
A equipe médica que recebeu Patricia tentou reanimá-la, mas sem sucesso. "Os médicos de lá fizeram de tudo, mas já era tarde demais. Eles nos disseram que se a Patricia fosse atendida 10 minutos antes, não teria morrido. Estou decepcionado. Ela morreu nos meus braços, sem que eu conseguisse fazer nada.;
Experiência traumatizante
Samuel lembra que os últimos minutos ao lado da irmã foram aterrorizantes. ;Não consegui dormir hoje. A todo momento lembro dos gritos dela e dos seus pedidos de ajuda da minha mãe a Deus. Minha irmã foi tratada como um animal. Estamos muito abalados. A ficha ainda não caiu. Quando isso acontecer, a dor será enorme;, disse Samuel.
Patricia era casada e tinha uma filha de 5 anos. A menina ainda não sabe da morte da mãe, segundo Samuel. ;Mas ela já estranhou a ausência da Patricia, e disse que, agora, a minha irmã está bem, pois está no céu. A Patricia era uma ótima mãe. As saudades dela serão eternas.;
O enterro da mulher está marcado para acontecer neste domingo (9/12), no cemitério Campo da Esperança de Taguatinga, mas ainda não tem horário definido. ;Apesar da dor, creio que a Patricia cumpriu a missão dela na Terra. Ela era uma pessoa com um coração maravilhoso e que adorava ajudar aos outros. Estará sempre na nossa lembrança;, consolou-se Samuel.
Polícia investiga. Saúde lamenta
A 26; Delegacia de Polícia, em Samambaia Norte, vai apurar as condutas do Samu e do Hospital Regional de Samambaia. Ainda na quinta-feira, a mãe de Patricia registrou um boletim de ocorrência na unidade policial. A Secretaria de Saúde, por sua vez, lamentou o caso.
De acordo com a pasta, a mulher não passou por nenhuma avaliação no HRSam e não chegou a efetuar a guia de atendimento. ;Contudo, diante da narrativa dos fatos, a direção do Hospital está investigando o acontecimento e a Unidade Setorial de Correição Administrativa deve instaurar os procedimentos necessários para apurar possíveis responsabilidades;, informou a secretaria, por nota.
Em relação ao Samu, a Secretaria de Saúde respondeu que o servidor da central telefônica seguiu o protocolo e, diante da indisponibilidade das ambulâncias da região ; que estavam em atendimento ; e a gravidade do caso, foi indicado que a paciente fosse imediatamente levada à Unidade de Pronto Atendimento.
Ainda segundo a secretaria, o corpo de Patricia foi encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito de Ceilândia e a família comparecerá ao local nesta sexta-feira (7/12) para orientações e, se necessário, autorização para a realização de necropsia.