A Incorp representa dois grupos responsáveis pelo comando de 10 hotéis na cidade, o Phenícia e a construtora Luner (dona do Quality Hotel). Por isso, a intenção é manter o funcionamento e não alterar o ramo de negócio do prédio. ;Como são dois grupos com experiência na área, queremos fazer com que o Hotel Nacional volte a ser o ícone que merece;, diz Mesquita. Um dos sócios da Incorp é o empresário Lutfallah Ramez Farah, que é também um dos donos, entre outros empreendimentos, da São Geraldo Materiais de Construção.
O advogado explica que o processo de arrematação ainda precisa passar por algumas etapas antes de a propriedade ser oficialmente passada ao grupo. ;Agora, temos de esperar os prazos recursais e a emissão de uma carta de arrematação antes de fazer qualquer coisa em relação ao prédio;, esclarece.
Leilão
O Hotel Nacional de Brasília foi levado a leilão três vezes neste ano por meio do site Mega Leilões. Na primeira tentativa, em 29 de outubro, o edifício foi avaliado em R$ 185.942.646,65. Após duas semanas sem propostas, o preço mínimo para arrematar o hotel baixou para R$ 130.159.852,66, em 12 de novembro. Mesmo assim, ele continuou sem receber nenhum lance. Em 27 de novembro, o valor de avaliação voltou a cair: R$ 92.971.323,33.
Pouco mais de 5,7 mil pessoas acessaram a página que anunciava o leilão, mas nenhuma se dispôs a comprar o Hotel Nacional. Contudo, antes de o certame ser encerrado, a Incorp I Empreendimentos Imobiliários Ltda, com sede em Brasília, fez uma oferta de R$ 93 milhões para arrematar o edifício. A proposta da empresa foi apresentada presencialmente à organizadora do leilão. Os responsáveis pela Incorp I Empreendimentos Imobiliários Ltda se comprometaram em pagar o valor de forma parcelada, que deve ser quitado por completo apenas em junho de 2021.
O Hotel Nacional não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), apesar de estar inserido no conjunto urbanístico de Brasília ; este, por sua vez, tombado como patrimônio nacional e distrital. Dessa forma, o novo proprietário da edificação teria a liberdade de, por exemplo, demolir a estrutura, desde que respeitasse a volumetria dos edifícios. A Incorp garante que isso não será feito.
A reportagem tentou entrar em contato com os atuais proprietários do Hotel Nacional de Brasília, mas nenhum responsável pelo edifício concedeu entrevistas
Luxo e decadência
Inaugurado no dia do primeiro aniversário de Brasília, o Hotel Nacional ganhou o status de principal ponto de encontro da elite política e social do Distrito Federal. Autoridades, políticos e celebridades eram constantemente hóspedes do espaço, que abrigou nomes importantes do país e do mundo.
Em novembro de 1968, quando Brasília deu as boas-vindas à rainha Elizabeth II, da Inglaterra, e ao príncipe Philip, o Hotel Nacional abriu as portas aos dois. Para a ocasião, foi arrumada pela primeira vez a suíte presidencial, no 9; andar. A inauguração da suíte nobre só não ocorreu antes porque quando o hotel abriu as portas só os três primeiros andares ; dos 10 ; estavam prontos.
A placa de inauguração da melhor suíte do hotel, com cerca de 800m;, ainda enfeita o corredor de elevadores no térreo. Outros ilustres visitantes que passaram pela capital provaram do luxo da presidencial, como o presidente francês Charles De Gaulle, os presidentes dos Estados Unidos Jimmy Carter e Ronald Reagan, o primeiro-ministro de Portugal Cavaco Silva, e inúmeros secretários, ministros, embaixadores e diplomatas.
O Hotel foi ainda importante para a cultura brasiliense. O espaço foi sempre o local em que se hospedaram as estrelas do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Diretores, atores e críticos agitavam o cotidiano do local. Estrelas do cinema mundial também passaram por lá, como Catherine Deneuve, John Travolta e o cineasta Roman Polanski.
A má gestão somada ao surgimento de novos hotéis e clubes, contudo, acabou levando o Hotel Nacional a pedir concordata à justiça mineira em 1991, ano em que completaria 30 anos. Nessa época, a rede Horsa, proprietária do edifício, estava envolvida numa dívida de US$ 20 milhões, e o Hotel era avaliado em cerca de US$ 21 milhões. Em 1994, a rede Horsa acabou vendendo o hotel e o comando foi para as mãos de Wagner Canhedo. Apesar disso, os problemas financeiros continuaram.