Alexandre de Paula
postado em 04/12/2018 06:00
O modelo de gestão do Hospital de Base será avaliado pelo novo governo. Apesar de ter demonstrado intenção, durante a campanha, em acabar com o instituto responsável pela manutenção da unidade atualmente, o governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), pode reconsiderar a questão. O futuro secretário de Saúde, Osnei Okumoto, quer avaliar o método utilizado no hospital antes de decidir, com Ibaneis, se haverá ou não mudanças na administração.
Uma das grandes polêmicas da corrida eleitoral deste ano, o Instituto Hospital de Base foi criado pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB) com a proposta de acelerar contratações, aquisições de medicamento e melhorar o atendimento. A gestão, por meio de Serviço Social Autônomo, foi questionada por adversários, como o governador eleito, que reclamavam de falta de transparência e de terceirização da área.
Para o futuro secretário, é preciso uma análise de todos os dados do Hospital de Base antes de se decidir se há necessidade de mudança. Ele ponderou que, durante a campanha, nem sempre é possível ter acesso às informações de maneira ampla e correta. ;A transição é o momento adequado para a avaliação. Vamos analisar os dados e analisar a gestão. É importante, antes da decisão, darmos o nosso parecer para o governo;, explicou ontem, na primeira entrevista após o anúncio de que assumiria a pasta (leia Quatro perguntas para).
A transparência, garante o futuro secretário, será um dos pilares da gestão da saúde no governo Ibaneis. A área é historicamente vítima de inúmeros escândalos de corrupção e desvios de verbas que poderiam ser destinadas a pacientes. Na última quinta-feira, os ex-secretários de Saúde do Distrito Federal Rafael Barbosa e Elias Miziara foram presos preventivamente na Operação Conexão Brasília, deflagrada pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). A ação apura a aquisição, em 2013, de órteses e próteses de má qualidade, em quantidades superiores às necessidades da rede pública. ;Vamos fazer o que é correto;, comentou Osnei.
Prioridade
O acesso da população aos serviços de saúde será a prioridade imediata do novo governo. Ibaneis destacou inúmeras vezes o desejo de zerar as filas de espera na rede pública. ;Precisamos pensar o acesso aos atendimentos, aos medicamentos e, depois, também para as cirurgias;, adiantou Osnei. Para isso, o futuro secretário estudará a necessidade de remanejamento de profissionais e a instalação de um sistema de monitoramento nos hospitais. ;O monitoramento nos daria a realidade do que está acontecendo, quer seja falta de medicamento, quer seja sobre o gerenciamento de internações. A gente, assim, consegue verificar os pacientes e os médicos, além de ter controle sobre os insumos.; Cada hospital teria uma sala com até 10 monitores.
A estrutura da secretaria começou a ser definida pelo próximo chefe da pasta. Além de Osnei, haverá dois secretários adjuntos, um voltado para a atenção à saúde e outro para a gestão. Os escolhidos foram, respectivamente, Sérgio Luiz Costa, assessor no Ministério da Saúde, e Francisco Araújo, ex-coordenador-geral de Programas e Projetos Especiais do Ministério da Integração Nacional.
Segundo Sérgio, um dos grandes desafios será conseguir atender todos os níveis de atenção ; básica e de média e alta complexidade. ;As necessidades de cada um dos cidadãos do DF são distintas, e nós precisamos conseguir atender a todas com qualificação;, explicou.
Quatro perguntas para
Osnei Okumoto, futuro secretário de Saúde
A gestão do Hospital de Base será mudada? Qual é a opinião do senhor sobre a administração por organização social?
Eu vi tipos de administrações por organização social que funcionam muito bem e outros que não funcionam tão a contento quanto a gente gostaria. Dessa forma, nós temos de avaliar o Hospital de Base e emitir um parecer depois da avaliação de todos os técnicos. Só depois dessa análise, vamos apresentar os dados ao governador e tomar essa decisão.
Qual é a prioridade do governo Ibaneis para a saúde?
O acesso da população à saúde é a prioridade. Nós temos de fazer a oferta de serviços de atendimento dentro das nossas unidades de saúde, proporcionar meios de fazer diagnóstico, tratamento e de dar continuidade até que o paciente seja completamente atendido. Nós estamos avaliando a situação de cada uma das unidades e poderemos até fazer remanejamento de profissionais, se for preciso.
A saúde do DF foi vítima de escândalos de corrupção ao longo de vários governos. O que a sua gestão fará em relação a isso?
A minha primeira conversa com o governador Ibaneis foi sobre a seriedade que a administração dele precisará ter e a necessidade de transparência. Todos os movimentos, todas as ações e processos que forem desenvolvidos dentro da secretaria serão abertos. Ele não admite corrupção, e nós vamos criar processos para que todos possam ter acesso e nos questionar se acharem necessário.
O fato de o senhor não ser de Brasília gerou críticas. Como o senhor avalia isso? O senhor conhece a situação do DF?
Eu, por estar dentro do Ministério da Saúde, tenho acesso a todas as informações. As nossas equipes trabalham constantemente dentro da Secretaria de Vigilância, e tenho todo o levantamento do que ocorre no DF nesta área. Então, muitas vezes, temos, por isso, mais conhecimento do que as próprias pessoas daqui.
Perfil
Experiência em saúde pública
O futuro secretário de Saúde foi descrito por Ibaneis como homem de confiança do atual ministro da área, Gilberto Occhi, e do deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), que assumirá o cargo no governo Bolsonaro. De fato, Osnei, que nasceu em Campo Grande (MS) e tem 56 anos, trabalhou ao lado dos dois. Mandetta foi secretário de Saúde de Campo Grande entre 2005 e 2010. No período, Osnei era coordenador-geral da Hemorrede do estado, que gerencia o conjunto de Serviços de Hemoterapia e Hematologia da região.
Quando Occhi assumiu o Ministério da Saúde, em abril de 2018, Osnei ocupava o cargo de coordenador-geral de Laboratórios de Saúde Pública na pasta. O convite havia sido feito, em dezembro de 2016, pelo então ministro Ricardo Barros. Osnei foi indicado a ele pelo atual secretário executivo da pasta, Adeílson Cavalcante. Com a chegada de Occhi, o futuro secretário de Saúde logo foi convidado a assumir um papel mais importante, o de secretário de Vigilância em Saúde do Ministério. Osnei foi nomeado na função nove dias depois da chegada de Occhi.
Osnei é descrito por profissionais da área de farmácia como profissional capacitado e competente. Quando foi convidado para o cargo no Ministério da Saúde, em 2016, recebeu publicamente o apoio de 10 presidentes de conselhos regionais de farmácia de estados, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
Nas funções que ocupou no Ministério, teve destaque ao tratar de questões, como o surto de toxoplasmose em Santa Maria (RS) e, recentemente, no anúncio da queda de 16% nos casos de óbito por Aids no Brasil. Nesses casos, Osnei foi porta-voz do Ministério na divulgação de informações.
No ministério, Osnei defendeu o trabalho de educação em saúde para que população possa trabalhar em conjunto com o Ministério da Saúde, e com as secretarias municipais e estaduais de saúde, no combate às doenças. A ideia reforça a importância da atenção básica de qualidade, que poderia evitar problemas e aliviar o sistema de saúde como um todo. Osnei também foi defensor da relevância de um sistema eficaz de informação no Ministério. Para ele, catalogar e facilitar o acesso às informações auxilia no desenvolvimento de estratégias de saúde com resultados positivos.
Como conselheiro do Conselho Federal de Farmácia, Osnei participou da Comissão Parlamentar que auxilia a elaboração de leis para o segmento e no relacionamento com o Legislativo. Também é estudioso de hematologia e hemoterapia e especialista em biologia molecular e celular. Trabalhou com a captação de sangue de cordão umbilical para extração de células-tronco para desenvolver tratamento para a medula óssea.