Angelo Barcelar, 87 anos, e Maria Nelma, 72, têm o hábito de rezar, todos os dias, ao acordar, no santuário montado no quarto de hóspedes. Na manhã de ontem, no entanto, uma das velas acesas pelo casal caiu e atingiu o colchão, iniciando um incêndio no apartamento do Guará 2. O acidente aconteceu no momento em que eles estavam sozinhos no imóvel. ;Eles têm cuidadores direto, mas, bem naquela hora, uma delas tinha ido embora, e a outra estava presa no trânsito, chegando;, contou Gustavo Barcelar, genro dos idosos.
Os dois tentaram apagar o fogo, mas as chamas se espalharam rapidamente, atingindo outros cômodos. Maria ainda conseguiu abrir a porta do apartamento, fazendo com que os gritos e a fumaça chamassem a atenção dos vizinhos. Um deles era Gutemberg Gomes, sargento do Corpo de Bombeiros. ;Na hora em que eu entrei, estava uma situação quase incontrolável. O senhor estava no chão, quase desfalecido, porque inalou muita fumaça e tinha dificuldade de locomoção. Então, levei os dois para a janela para respirarem um ar, tirei os dois do apartamento e voltei para combater o fogo;, detalhou.
Gutemberg e o casal contaram com mais ajuda. Dois bombeiros que moram próximo ao prédio perceberam a situação e correram para o local. Um deles, o major Elcio Cardoso, vive no bloco em frente. ;Eu estava fazendo café na hora. Subi as escadas, vi muita gente descendo e entrei. Fui pegando a mangueira e segui para a porta do apartamento a fim de apagar o fogo, andando bem agachado, para respirar melhor;, afirmou. Além do fogo, a fumaça preocupava, pois ficou concentrada no apartamento e no corredor, deixando a área totalmente escura. Apesar das dificuldades, os três bombeiros extinguiram o fogo e salvaram as vítimas. Pouco tempo depois, três veículos e 15 militares finalizaram a ocorrência.
Tragédia evitada
Angelo e Maria foram levados para o Hospital Regional do Guará (HRG) e liberados no mesmo dia, após exames. ;A gente sempre diz que Deus coloca as pessoas certas nos locais certos. E deve ter sido isso o que aconteceu. Eu inalei muita fumaça e fiquei mal, imagina o senhor. Mas, no fim, ele ficou bem. Foi um milagre;, avaliou o sargento Gutemberg.
O tenente Washington Alves Romão, também do Corpo de Bombeiros, explicou por que a fumaça é tão nociva: ;Quando queimam, colchões, cama, lençóis e esses tipos de materiais lançam na atmosfera uma grande quantidade de gases que são modificados e transformados em algo tóxico. O pior, em um incêndio, é que a fumaça expulsa oxigênio. Não tendo como respirar, a pessoa respira uma quantidade maior desses gases, principalmente o monóxido de carbono, que leva à inconsciência rapidamente. E estar inconsciente em um incêndio é sinônimo de morte;, disse o oficial.
Cuidados
Em casos de incêndio, a recomendação do Corpo de Bombeiros é sempre acionar a corporação. No chamado, é preciso manter a calma e detalhar ao máximo o que está acontecendo. ;O solicitante tem de tomar cuidado, principalmente com o endereço, porque, se ele fala um bloco errado, pode ser que o socorro demore mais e acabe não conseguindo realizar o resgate;, orientou o tenente Romão.
Prédios e estabelecimentos devem contar com extintores ou mangueiras de incêndio nos corredores, itens que podem auxiliar os primeiros procedimentos de combate ao fogo. ;Mas também é preciso fazer isso com calma, porque eles podem ser usados por uma pessoa leiga, sem conhecimento de incêndios. É necessário um pouco de paciência para manusear;, explicou o oficial do Corpo de Bombeiros.