Renato Alves
postado em 22/11/2018 06:00
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Primeira construção de alvenaria de Brasília, o Palácio da Alvorada volta a ter a ambientação original, com todos os móveis restaurados e posicionados conforme os planos de Oscar Niemeyer e da decoradora do projeto, Anna Maria Niemeyer, filha do arquiteto. Resultado de quase dois anos de pesquisa e o restauro de mais de 400 itens. Era desconhecido o paradeiro de muitos deles. Alguns estavam guardados inadequadamente ou desmontados em galpões da capital. Outros eram usados em órgãos públicos federais, com pequenos defeitos ou alterações.
Esta é a primeira vez, desde a inauguração do edifício, em 30 de junho de 1958, que os móveis estão dispostos originalmente. Como muitas são únicas e nunca foram colocadas à venda, é impossível precisar o valor das peças expostas. Juntas, são avaliadas em, no mínimo, R$ 2,5 milhões. Uma das joias do Alvorada encontrada em péssimo estado e restaurada é uma mesa de 6m de comprimento, com base de jacarandá. A recuperação custou R$ 5 mil, mas a peça é avaliada em R$ 300 mil.
A mesa fica no Salão de Estado, em que o presidente costuma receber os convidados para reuniões. Para atender o projeto de Anna Maria Niemeyer, uma estante que ficava no ambiente, em frente a um enorme painel de madeira, deu lugar a uma tapeçaria de Di Cavalcanti. Há outras obras do artista brasileiro espalhadas pelo edifício, como uma intitulada Múmia, que ficava na sala ao lado, onde funciona a Biblioteca do Palácio. As cadeiras desenhadas por Anna Maria Niemeyer voltaram ao Salão de Banquetes, que acomoda até 50 pessoas sentadas.
Descaracterização
Manter a decoração dependerá da vontade do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e da mulher dele, Michelle. Ela visitou o palácio ontem, na companhia da atual primeira-dama, Marcela Temer. Michelle também conheceu as instalações da Granja do Torto, outra residência oficial da Presidência. Ela ficou impressionada com a cozinha do Alvorada e a beleza da capela, mas disse que a futura moradia está indefinida.
Sem hóspedes desde março de 2017, o Alvorada tem servido só a raros jantares oferecidos pelo presidente Michel Temer (MDB). Após cinco meses redecorando o Palácio, com troca de móveis de acordo com os gostos pessoal e da mulher, ele desistiu de morar na residência oficial e retornou ao Palácio do Jaburu, onde estava desde 2011 e ficará até o fim do mandato, mês que vem. A intervenção dos Temer no Alvorada incluiu a fixação de uma tela na sacada do primeiro andar para proteger Michelzinho, o filho de 4 anos.
Deslumbramento
Com a posse de Jair Bolsonaro, em 1; de janeiro, é incerta também a manutenção do acesso do público ao prédio. Visitas guiadas são realizadas apenas nas tardes de quarta-feiras, com agendamento pela internet e poucas vagas. Portanto, as próximas semanas podem ser, ao menos pelos próximos quatro anos, as últimas para se conhecer a residência oficial da Presidência da República do Brasil como concebida por Oscar e Anna Maria Niemeyer.
O Correio visitou o Alvorada ontem, ao lado de 20 turistas de estados brasileiros diferentes. Eles não escondiam o deslumbramento com a grandiosidade do edifício e a beleza da arquitetura e da decoração. Todos aproveitavam para fazer fotos dos ambientes permitidos. Dos três pavimentos, o público só acessa o térreo, onde há os salões usados pelo presidente para compromissos oficiais de governo.
O subsolo abriga almoxarifado, despensa, cozinha, lavanderia e a Administração do Palácio. O primeiro andar constitui a parte residencial, com quatro suítes e salas reservadas. Mas os visitantes comuns podem conhecer a capela, anexa ao Palácio, e a área de lazer, onde há uma piscina de 50m de comprimento, e uma pérgola, com bar e churrasqueira. Ambiente que deve ser bastante usado por Jair Bolsonaro, apreciador dos churrascos, caso a nova família presidencial opte por morar no Alvorada.
Visitação
Quem deseja conhecer o Palácio da Alvorada precisa agendar a visita guiada pelo endereço eletrônico agenda.presidencia.gov.br/visitapr/mostra_eventos/. O prédio é aberto ao público às quartas-feiras, das 14h30 às 16h50, com entrada a cada 20 minutos. O roteiro inclui hall de entrada, capela, salão de evento, biblioteca, salão nobre, sala de música, salão de banquetes e piscina.
Para saber mais
A recuperação do projeto original do Palácio da Alvorada foi coordenada pela Diretoria de Documentação Histórica da Presidência da República (DDH), que montou uma Comissão de Curadoria, com integrantes da DDH, do Iphan-DF, do Ibram, da Secretaria de Comunicação (Secom) e do Instituto Federal de Brasília, que tem uma oficina de restauro de mobiliário.
Reforma financiada por empresários
O Palácio da Alvorada passou pela sua mais extensa reforma entre 2004 e 2006, ao custo de R$ 18,4 milhões, pagos por 20 empresários ligados à Associação Brasileira de Indústrias de Base (Abdib). Houve restauro dos quartos, de móveis e objetos de decoração.Toda a rede elétrica foi trocada, inclusive a voltagem, que, ao contrário do restante da cidade, era de 110 volts e não de 220 volts. Um sistema de ar-condicionado central também foi instalado em todos os cômodos, em substituição a alguns aparelhos existentes em alguns ambientes.