Quatorze anos depois de ser vítima de um crime brutal, Maria Cláudia Del;Isola foi homenageada pelos moradores da 112 e da 113 Sul, que revitalizaram e rebatizaram um parque entre as duas quadras com o nome da estudante.
Coordenadora do Movimento Maria Cláudia, Marta Janeth Pantuzzo diz que a ideia de homenagear a jovem surgiu após outro crime violento, em fevereiro deste ano: o estupro de uma estudante universitária que voltava da aula à noite.
[SAIBAMAIS]Os moradores das entrequadras pediram ajuda para integrantes do movimento por meio da realização de um ato a favor de mais segurança. "Após o ato, eles disseram que não queriam apenas um protesto, mas um outro movimento a favor da vida. Assim, deram a ideia de revitalizar e batizar um parque da quadra com o nome da Maria Cláudia;, conta Marta.
Os participantes do Movimento Maria Cláudia encaminharam um projeto de lei com foco na revitalização do parque à Câmara Legislativa e conseguiram que ele fosse aprovado. ;Agora, queremos ressignificar valores, pois Maria Cláudia era vida em pessoa, era alegria. Esse será um espaço onde faremos muitas ações com jovens, crianças e idosos para trazer paz à nossa sociedade;, conclui Marta.
Vizinhança
Simone Falcão, 46 anos, conta que costumava frequentar o parque quando criança. Ela chama o espaço carinhosamente de ;parcão; e relata que, antes da reforma, o lugar se encontrava em péssimas condições. ;Eu costumava ir lá todos os sábados para jogar bola e tênis. Era bem movimentado. Antes da reforma, ele estava em péssimas condições, jogado às traças, com mato grande, bem feio mesmo;. A brasiliense se impressiona com o fato de a revitalização ter ocorrido somente após um episódio trágico.
Para as moradoras da Quadra 113 Sul, Celma Calmon, 62, e Idalina Filipin, 75, que frequentam o local para conversar e passear com os cachorros, apesar do parque ter passado por mudanças, ainda há muito o que ser feito. ;Tem quadras de esportes, equipamentos para fazer exercícios e fizeram uma pista nova. Porém, falta mais policiamento, iluminação. Falta muita coisa ainda;, observa Celma.
Apesar das queixas, as moradoras reconhecem que o parque é um bom lugar para conviver durante a tarde e que ele merece ser preservado. ;Antes, aqui era tudo mato. Agora, os moradores levam os cachorros para passear. Durante a tarde, costuma ter muita gente e ficar bem movimentado, inclusive com mães que trazem crianças também;, relata Idalina.
Perto do ;parcão; está o ;parquinho;, que também passou por reformas. Ali, a moradora Bianca Nóbrega, 19, brincava quando criança. Entretanto, com o tempo, o local ficou abandonado e descuidado, então ela parou de frequentá-lo. ;Todo sábado à tarde, meu pai me levava com minhas irmãs para brincar. Mesmo tendo só duas barras e três balanços de pneus, a gente gostava muito. Como fomos deixando de ir, nem percebemos quando tudo mudou. De repente, ele estava reformado. Ficou muito bonitinho e arrumadinho;, reconhece a estudante.
Ana Flávia Veloso, moradora da Quadra 113 Sul, participou do movimento que deu início à renomeação e revitalização do parque. Ela conta que a iniciativa surgiu após o episódio de 20 de fevereiro, em que uma moça foi estuprada no parque quando voltava da aula. A advogada lembra que, à época, o local estava abandonado e que costumava ser frequentado por consumidores de drogas.
;Havia uma iniciativa para recuperar esse espaço. O movimento de moradores tinha reformado o parque infantil. Depois do episódio do que houve com a menina, houve uma comoção. Procuramos o Movimento Maria Cláudia, que tinha atuado bastante na quadra, e chegamos à conclusão de que dar o nome dela ao parque seria emblemático. Gostaríamos que a moça vítima do estupro soubesse que tudo isso começou por causa dela, como solidariedade;, complementa.
Reconhecimento
Cristina Del;Isola, 60, mãe de Maria Cláudia Del;Isola, reconhece na revitalização do espaço um símbolo de luta. ;Penso que o nome de minha filha no parque representa a luta pela paz das famílias que tiveram seus filhos vitimados pela violência.;
A psicopedagoga e orientadora educacional elogia o projeto e destaca a importância da criação de lugares em que as pessoas possam interagir. ;O projeto é lindo. Os profissionais envolvidos não tiveram apenas a sabedoria técnica, mas também agregaram valores emocionais que o tornaram belo. É muito importante que existam esses espaços que agreguem a convivência pacífica e harmoniosa entre as pessoas. Nós nunca tivemos tanta necessidade de resgatar as relações entre humanos;, pontua.
Cristina conta que, quando perdeu a filha, disse uma frase da qual se lembra até hoje: "O mundo não precisa da minha dor. Dela, cuido eu". Hoje, ela acrescenta que torce para que o mundo também não se esqueça das inúmeras mortes causadas pela violência e pela crueldade humana. "Espero que cada vida que passar pelo parque sinta a energia de muitos anjos emanando alegria e esperança, inclusive a de Maria Cláudia;, comenta.
Relembre o caso
Em 9 de dezembro de 2004, a estudante de pedagogia e psicologia Maria Cláudia Del;Isola, à época com 19 anos, foi estuprada e brutalmente morta, dentro de casa, no Lago Sul, por Adriana de Jesus Santos e Bernardino do Espírito Santo, empregados da família.
O casal queria forçar a jovem a abrir um cofre. Ela foi imobilizada, agredida e estuprada. Depois, esfaqueada e golpeada na capeça com uma pá. O corpo da jovem foi enterrado embaixo da escada da casa da família Del;Isola, e a polícia só conseguiu localizar o cadáver três dias depois do assassinato.