Depois de cerca de 5 anos longe da família e isolado no interior do Pará, Gabriel Costa de Carvalho, 54 anos, finalmente voltou para casa. O homem, natural de Formosa (GO) e que peregrinava pelas ruas do município de Parauapebas em trajes completamente desgastados, reencontrou, na manhã de sábado (3/11), os parentes que não via há muito tempo, graças aos esforços do jornalista Lima Rodrigues, 59.
Os dois se conheceram há cerca de um ano e meio, quando Lima ofereceu a Gabriel um suco de caju e um biscoito. A partir daí, começou o trabalho de desvendar quem era aquele homem sujo, com as vestes tão rasgadas e sinais de problemas mentais. ;Perguntei se ele sabia o nome dele e ele respondeu. Perguntei sobre os pais e ele disse o nome da família toda;, narrou Lima, que lembrou que Gabriel tinha rápidos momentos de lucidez, quando ele conseguia informações.
O jornalista escreveu um perfil sobre Gabriel e publicou nas redes sociais. ;Bombou. Foram vários comentários e compartilhamentos pelo Brasil, até que um dos sobrinhos viu e reconheceu o tio;, relembra. Lima então passou a conversar com a família de Gabriel e acionou advogados. O objetivo era conseguir a interdição, isto é, uma determinação da Justiça que concede a um parente a cautela provisória de uma pessoa declarada incapaz para os atos da vida civil.
Em 1; de novembro, a juíza Priscila Mamede Mousinho, da 1; Vara Cível e Empresarial do Poder Judiciário do Tribunal de Justiça do Pará acatou o pedido e deu cautela provisória ao irmão de Gabriel, que foi pessoalmente buscá-lo em Parauapebas. Na sexta-feira (2/11), os irmãos, o jornalista e funcionários da Secretaria de Assistência Social da cidade seguiram viagem de carro rumo ao Planalto Central.
O grupo chegou a Brasília por volta das 8h30 de sábado (3/11) e foi direto encontrar a família. ;Ele reconheceu as irmãs, alguns sobrinhos e lembrou de histórias do passado;, disse Lima. Em seguida, foi atendido no Hospital São Vicente de Paula, em Taguatinga, que recebe pessoas com transtornos psiquiátricos. ;O médico que o atendeu disse que ele não precisaria ser internado já que não estava em crise, mas na segunda-feira será encaminhado ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Formosa;, explicou o jornalista.
Andarilho
Gabriel sempre teve uma conexão com o estado do Pará. Ele costumava falar aos amigos e familiares que queria morar com índios. O homem, que trabalhou como auxiliar de pedreiro e dirigiu tratores em pequenas fazendas, já tinha ido à região Norte outra vez, como descobriu Lima. ;Ele ia de ônibus, mas voltada para visitar de vez em quando;, relatou o repórter.
Há cinco anos, no entanto, em crise, o homem deixou Formosa e seguiu a pé até o município de Parauapebas. Percorreu cerca de 1.500 km, mas não se sabe em quantos dias ou meses. Morou na rua e, nos primeiros anos, aceitava doações de roupas de bons samaritanos. Depois, passou a negar.
No dia em que a interdição foi determinada, bombeiros buscaram Gabriel em uma feira da cidade, onde ele costumava tomar café. Inicialmente, houve resistência, mas, depois de se acalmar, Gabriel concordou. As roupas que ele usava, uma camiseta e uma bermuda, estavam em fiapos.