O dia foi planejado nos mínimos detalhes por uma comissão de 10 pessoas. Antes da festa, contudo, os quase 100 ex-alunos participantes se reuniram no auditório da escola onde estudaram para uma cerimônia que chamaram de Aula da Saudade.
Na hora de as atividades começarem, o sinal do colégio tocou ; momento que intensificou o clima de nostalgia. Em seguida, os egressos, inclusive professores da época, participaram de homenagens e relembraram momentos especiais do último ano do ensino médio. Muitos dos presentes não viam os demais havia duas décadas.
[SAIBAMAIS]A ideia do evento surgiu por acaso, segundo Fernanda Castro, 37, uma das organizadoras. A engenheira química morava em São José dos Campos (SP) quando se mudou com a família para Brasília, em 1997. Aqui, cursou os dois últimos anos do ensino médio e, mesmo depois de voltar para o interior paulista, manteve contato com amigos da escola.
;O terceiro ano é sempre muito marcante. No início deste ano, mandei mensagem para uma amiga para saber se ela estava bem após as notícias de alguns incidentes que aconteceram em Brasília. De repente, caiu a ficha que havíamos nos formado há 20 anos;, contou.
;Superou nossas expectativas. Era para ser a festa de uma turma só, mas o pessoal se animou tanto e começou a chamar amigos, que chamaram mais amigos. As redes acabaram facilitando esse contato e sendo agregadoras;, disse Flávia.
A servidora pública também relembra que, mesmo havendo 14 turmas com cerca de 50 alunos cada, a escola promovia atividades culturais e esportivas que fortaleciam a união entre todos os estudantes do 3; ano do ensino médio. ;Não havia o que temos (de tecnologia) hoje. Naquele tempo, o contato físico era até mais intenso. Sempre fazíamos churrascos aos sábados, após os simulados, e reuniões. Nos encontrávamos e ficávamos a tarde toda juntos;, relembrou.
Comparações
Entre casados e solteiros beirando os 40 anos, muitos desses ex-estudantes deixaram o Distrito Federal e se mudaram para outros estados ou países. Muitos deles ainda vivem aqui e têm filhos matriculados na antiga escola. Outros, chegaram a se tornar colegas de trabalho dos próprios professores, como aconteceu com Alex Fabiano Campos, 41.
O professor de redação Eli Carlos Guimarães foi mais um dos homenageados. Presente na instituição desde antes da chegada das turmas do 3; ano de 1998, ele se tornou supervisor pedagógico do ensino médio. Além disso, os anos de vivência na instituição de ensino contribuíram com o desenvolvimento de um olhar sobre as diferenças entre aquela geração e a atual: ;A desses alunos (de 1998) tinha muita preocupação com o envolvimento com os estudos. A formação era imperativa para o futuro. Não que isso não aconteça hoje, claro, mas, atualmente, as pessoas veem mais opções para a carreira profissional. São momentos diferentes na história e no ensino, também;, compara.
Para o ex-aluno e servidor público Roger Alvarenga Santullo, 38, a base emocional encontrada no apoio recebido dos professores e amigos da época foi crucial. Ele nasceu com uma paralisia cerebral em decorrência de complicações no parto. A situação, entretanto, não causou efeitos na cognição, mas Roger precisou fazer acompanhamento fisioterapêutico por toda a vida.
;Voltei a treinar, a caminhada e, à medida que avançava, a cada conquista, eu compartilhava meus vídeos com os amigos que ficaram. Ainda me lembro dos tempos da escola. Eu não vivia bullying e sempre fui tratado como mais um. Isso me engrandeceu muito. Hoje, sou tão grato a todos aqui;, comentou.
Emoção
Durante os discursos, alguns dos professores homenageados aproveitaram para falar sobre o cenário político do país. Da mesma forma que ensinaram há 20 anos, ainda na função de educadores, recomendaram respeito ao próximo e compartilharam mensagens de encorajamento. ;O melhor da vida talvez seja saber que sempre temos para onde voltar;, disse Eli Carlos.
Em um dos momentos mais emocionantes do encontro, a terapeuta de medicina japonesa e chinesa Marcia de Souza, 53, ex-professora de artes da escola, entoou a música Como Nossos Pais, conhecida pela interpretação de Elis Regina. No fim da canção, os ex-estudantes ; muitos às lágrimas ; cantaram a música de pé e em coro.
;Essa música é muito marcante. Ela fala das heranças paternas, de um momento em que os pais estão em casa, vivendo uma vida financeira difícil por já estarem velhos, e os jovens, em plena ascensão e crescimento. Eu sabia que teria apenas três minutos para conversar com eles no palco. Deixei uma mensagem escrita no grupo do WhatsApp e decidi que, na hora, faria uma homenagem musicada. E, para isso, ninguém melhor que a Elis;, concluiu Márcia.