Cidades

Tio de bebê agredida pelos pais desabafa: "Agora vai ser a minha filha"

Segundo o tio, de 37 anos, os médicos que acompanham a paciente contaram que a menina sofre maus-tratos desde os 15 dias de vida

Isa Stacciarini
postado em 30/10/2018 14:46
Criança está internada na UTI neonatal do Hmib, com suspeita de morte encefálica
;Agora é a minha filha. Eu vou tomar conta dela. O que me importa é só a bebê;, desabafou o tio da criança de 6 meses supostamente maltratada pelos pais. O homem de 37 anos soube do estado de saúde da sobrinha na noite de segunda-feira (29/10), após ser acionado pelo Conselho Tutelar de Sobradinho. Ele é irmão do pai da criança, de 29 anos, preso pela suspeita de maus-tratos contra a filha, assim como a mulher e mãe da menina, de 23. Mas, no início da tarde desta terça-feira (30/10), o delegado-chefe da 13; DP (Sobradinho), Hudson Maldonado, disse que médicos do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) tinham iniciado o protocolo da confirmação do óbito.
O tio contou que só conhecia a cunhada e a sobrinha por fotos. ;Eles postavam foto no Facebook e parecia que estava tudo bem. Para mim, foi um baque, um susto. Se eu soubesse dos maus-tratos antes já tinha tomado providência;, contou o despachante, morador do Recanto das Emas. Desde que a criança foi internada, primeiro no Hospital Regional de Sobradinho (HRS) e, depois, transferida ao Hospital Materno Infantil (Hmib), ele é o único que tem autorização para visitar a menina na unidade de saúde.

;O corpinho dela está muito debilitado. Eu não estou nem conseguindo levantar da cadeira só de pensar no tamanho da crueldade. Não estou em paz, mas, com fé em Deus, ela vai sair dessa e vai ficar comigo;, ressaltou, aos prantos. Ele é pai de dois meninos. O mais novo de 2 anos e 8 meses e o mais velho, de 9 anos, além de um enteado de 14.

;Os médicos disseram que ela sofre maus-tratos desde 15 dias de vida. Mas há uma esperança pela minha menininha. Ela vai sair dessa e ficar comigo, apesar de debilitada;, destacou o tio. Ele ainda lamentou e disse que nunca esperava uma atitude dessas do irmão. "Ele sempre gostou de criança. Inclusive, antes de conhecer essa moça, ficava sozinho com meus filhos em casa. Eu não sei dizer o que aconteceu", desabafou.

Suspeita de morte encefálica

A bebê de 6 meses foi socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na noite de segunda-feira (29/10), após os pais acionarem socorro com a informação de que a filha havia se engasgado. A equipe primeiro conduziu a criança ao HRS, onde médicos acionaram o Conselho Tutelar e a Polícia Civil. Ela tinha múltiplas fraturas pelo corpo, como nas pernas e nos braços, apresentava assaduras na região genital, tinha sinal de queimadura na boca e no nariz e estava com baixo peso. Os médicos também constataram uma antiga lesão da clavícula esquerda que já apresentava calcificação.

Na madrugada, ela foi transferida ao Hmib. Neurologistas pediátricos suspeitam de morte cerebral encefálica e ainda fazem os exames para confirmar o indício. A bebê está internada na UTI neonatal da unidade de saúde. Segundo o tio da criança, quando o Samu foi acionado, ela estava sem batimento cardíaco. ;Os socorristas a reanimaram por mais de 50 minutos, até que o coração voltou a bater, mas ela ficou sem oxigenação no cérebro. Por isso, estão suspeitando disso;, contou o homem.

Os pais foram presos em flagrante e, na audiência de custódia dessa terça-feira (30/10), o juiz converteu a prisão em preventiva, quando não há prazo para se encerrar. A conselheira de Sobradinho 2 que acompanha o caso, Francisca Alves Filha Pereira, contou que a família nunca tinha sido atendida pelo Conselho Tutelar. ;Na delegacia, a mãe se negou a dar qualquer informação de parentes. Disse apenas que é do estado do Pará, que havia deixado outra filha com a mãe dela, e não esboçava nenhum sentimento. Ela parecia anestesiada e o sentimento era de que não tinha acontecido com ela;, explicou a conselheira.

Francisca também foi ao hospital e esteve com a criança. A menina já estava entubada e ligada a aparelhos. ;Com mais de 30 anos de profissão, quando vi aquela bebezinha, eu chorei. Os médicos disseram que as assaduras na região da genitália não eram por falta de cuidado, mas, sim, provocadas por queimadura;, esclareceu.

Médicos também constataram baixo peso. A criança estava com 4,5kg. Na delegacia, o pai da bebê passou o contato de um irmão. ;Ele estava muito emocionado e disse que parecia ser uma família normal. Inclusive explicou que tinha conhecimento de que a cunhada já havia perdido um bebê antes da criança e ele consolou o irmão, dizendo que a família teria outra oportunidade de ter outros filhos;, explicou Francisca.

A conselheira disse, ainda, que na delegacia a mãe se limitou a contar que apenas ;jogou; a criança. ;Ela fez um gesto com as mãos como quem está com uma caneta na mão e solta, mas não deu motivos para isso. Tentava, a todo instante, proteger o pai, mas é impossível que ele não tenha conhecimento do caso. Pelo relatório, o homem só trabalhava duas vezes por semana e não havia um lugar do corpo que se encostasse naquela criança e ela não sentisse dor;, lamentou.

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