Às 20h13 de ontem, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) chegou ao Comitê Central de Campanha, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), e, sob aplausos e gritos de correligionários, iniciou o primeiro discurso após o resultado oficial das urnas, divulgado às 18h44, que mostraram a derrota com mais diferença de um candidato à reeleição da história do Distrito Federal, em segundo turno. Entre agradecimentos e autoanálises, o socialista despistou sobre a possibilidade de liderar a oposição ao adversário Ibaneis Rocha (MDB) ao longo dos próximos quatro anos e pregou a união. ;Viveremos momentos desafiadores. Brasília e o Brasil vão precisar de todos nós para pacificar o nosso país;, afirmou.
Ao lado da primeira-dama, Márcia Rollemberg, do candidato à Vice-Governadoria da chapa, Eduardo Brandão (PV), e da senadora eleita Leila do Vôlei (PSB), o governador pediu perdão pelos erros cometidos ao longo da gestão. ;Sempre tentei acertar. Dei o melhor de mim;, disse. Em discurso, adiantou que pretende fazer uma transição ;tranquila;. ;Faremos o que estiver ao nosso alcance para que Ibaneis (Rocha) possa iniciar o governo em condições muito melhores do que assumi, pelo bem de Brasília;, ressaltou.
Pela manhã, em carta enviada por WhatsApp a simpatizantes e integrantes do primeiro escalão, Rollemberg explicou que chegou àquele momento com ;honra e sentimento de dever cumprido;. ;Temos um legado. Mostramos que é possível governar sem corrupção. Não é pouca coisa no Brasil de hoje. E temos resultados;, escreveu, ressaltando feitos da gestão, como a inauguração do Bloco 2 do Hospital da Criança, a mudança no modelo de gestão do Hospital de Base e a menor taxa de homicídios em 30 anos.
O chefe do Palácio do Buriti acompanhou a apuração na fazenda da família, próximo a Luziânia. Ao saber do resultado, ligou para Ibaneis a fim de parabenizá-lo. Na sequência, visitou a mãe, Teresa, na Asa Sul. Ao chegar ao SIA, tirou selfies, distribuiu abraços e disse que ;não era momento para tristeza;.
Legado
Na contramão dos quatro governadores eleitos na capital desde a conquista da autonomia política pelo DF, Rollemberg não ergueu obras milionárias e de grande projeção ; à exceção do Trevo de Triagem Norte, intervenção viária que deve ser concluída em 2019. O legado do socialista divide-se entre cinco eixos principais, com destaque ao ajuste das contas públicas. O slogan da campanha à reeleição, ;Casa arrumada, hora da virada;, refletiu o aspecto.Ao assumir o mandato, o chefe do Palácio do Buriti herdou um rombo nas finanças superior a R$ 3 bilhões. Ao fim da gestão de Agnelo Queiroz (PT), servidores públicos, fornecedores e prestadores de serviços recebiam pagamento com atraso. Para equilibrar os caixas, o socialista reduziu o número de secretarias e cortou gastos com comissionados. Poucos meses depois, anunciou um pacote de ações com medidas impopulares, a exemplo do aumento de tarifas públicas e da suspensão do reajuste do funcionalismo.
Pela projeção atual, Rollemberg deixaria o GDF com um deficit de R$ 600 milhões ; equivalente a um quinto do herdado. Na última sabatina promovida pelo Correio Braziliense, entretanto, ele destacou que o valor pode baixar ainda mais. Com o saneamento das contas, o governador havia garantido o pagamento da terceira parcela do funcionalismo em junho e a rediscussão dos vencimentos de professores a fim de respeitar as metas do Plano Distrital de Educação (PNE).
O chefe do GDF ainda resolveu o problema da crise hídrica do Distrito Federal pelos próximos 20 anos, conforme estimativas do alto escalão. As intervenções foram necessárias, pois, de 2000 a 2015, gastou-se somente R$ 15 milhões com obras de captação de água e afins. Como resultado, o DF experimentou o primeiro racionamento da história ; o rodízio durou 17 meses. Para combater a escassez, entre 2016 e 2017, Rollemberg investiu R$ 100 milhões em novas captações de água, como a do Bananal e do Lago Paranoá, e reativou outras, a exemplo dos córregos Alagados e Crispim, no Gama. O governador também retomou as construções em Corumbá IV, paralisadas desde a gestão de Joaquim Roriz, sob o custo de R$ 272 milhões. A estimativa é de que a obra seja entregue em dezembro.
Moradia
Outro legado do socialista está na habitação. Com a aprovação da Lei n; 13.645, de 2017, no Congresso Nacional, Rollemberg iniciou a regularização de condomínios. A regulamentação beneficiou moradores do Ville de Montagne, Solar de Brasília e de trechos de Vicente Pires. No discurso adotado na campanha, Rollemberg também deu destaque às escrituras entregues em menos de quatro anos. No total, foram 63 mil, sendo 53 mil definitivas.O fechamento do Lixão da Estrutural, o maior da América Latina, também é um marco na gestão do socialista. O aterro passou a receber somente resíduos da construção civil, material inerte, ou seja, que não compromete o meio ambiente. Os cerca de 2 mil catadores que trabalhavam na região foram realocados para galpões de triagem localizados no SIA, Setor Complementar de Indústria e Abastecimento (SCIA), Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN) e Ceilândia.
Motivo de críticas de adversários, o socialista desobstruiu a orla do Lago Paranoá. Conforme decisão judicial, o GDF retirou todas as construções feitas a menos de 30m das margens sul e norte do reservatório. Os responsáveis pelo projeto urbanístico em torno do espelho d;água foram selecionados em abril, por meio do concurso Masterplan Orla Livre. A proposta dos arquitetos indica o formato da distribuição de restaurantes, ciclovias, praia artificial, entre outras áreas de lazer. A expectativa da Casa Civil era lançar a licitação para as obras no início de 2019.
Três perguntas para
Rodrigo Rollemberg (PSB), governador do DFO senhor contestará a eleição de Ibaneis Rocha na Justiça Eleitoral sob a alegação de compra de votos e abuso de poder econômico?
As pontuações que temos foram feitas na campanha e terão o curso normal no Judiciário. Recebemos com muita humildade o resultado das urnas. Esse foi o desejo da população de Brasília. A gente respeita. Não tenho a menor pretensão de fazer um terceiro turno das eleições.
Qual será a postura do senhor nos próximos anos?
O futuro a Deus pertence. Mas sempre disse que, independentemente do resultado, vou continuar servindo Brasília e o Brasil. Essa é a minha missão. Deixo essa mensagem de união. Esse é o momento de respeitarmos o resultado das urnas e olharmos para frente com orgulho e reconhecimento do que fizemos. A nossa missão será dar a contribuição para pacificar. O radicalismo não serve a ninguém. Nós temos algo muito precioso, que é a Constituição Brasileira, que está acima e de todos.
Como será o processo de transição?
Isso vai depender do governador eleito. Temos toda a disposição de abrir os dados e colocar os nossos técnicos ao dispor dele. Alguns projetos que têm consequência para o orçamento do ano que vem, também. Tudo isso para que ele possa iniciar o governo em condições muito melhores do que assumi, pelo bem de Brasília. O que estiver ao nosso alcance para que a população sofra o menos possível na transição, faremos.