Próximo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) terá base sólida na Câmara Legislativa no início do mandato. A maioria dos distritais eleitos pretende ficar ao lado do novo chefe do Executivo. Dos 24, 14 declararam abertamente ao Correio o apoio ao advogado. Apenas dois dizem que farão oposição direta, enquanto o restante se declara independente.
Passada a tensão eleitoral, a formação da equipe do novo governador e a construção de um diálogo sólido com os parlamentares eleitos devem ser prioridade. As alianças construídas ao longo da campanha facilitam a busca por governabilidade e devem propiciar um começo de governo mais tranquilo do que o enfrentado por Rodrigo Rollemberg (PSB) quatro anos atrás.
Com só quatro distritais eleitos pela coligação àquela época e sem nenhum representante do partido, Rollemberg enfrentou uma Câmara que começou com pé atrás, apesar de a princípio sinalizar postura mais neutra. Ao longo do mandato, a relação foi se complicando e o atual governador perdeu o suporte até de siglas que o apoiaram no pleito de 2014, como o PDT.
Ao longo da campanha, Ibaneis prometeu um novo modelo de relação com a Câmara Legislativa. Garantiu que não fará acordos em troca de cargos e de favores. Os distritais, segundo ele, por exemplo, não terão força para indicar os chefes das administrações regionais, para as quais prometeu processo de escolha mais democrático. Por outro lado, assegurou que estará mais aberto ao diálogo.
Um dos parlamentares que farão parte da base aliada de Ibaneis, o distrital reeleito Cláudio Abrantes (PDT) afirma que o atual governo cometeu muitos erros ao lidar com a Câmara Legislativa. ;Este governo errou demais e não falo de conchavos e acordos por cargos, mas faltou respeito e colocar as coisas de maneira clara. Tenho esperança de que Ibaneis não trate a Câmara como um puxadinho;, comentou. O PDT, de Abrantes, estava oficialmente coligado com Rollemberg nestas eleições, mas o distrital declarou apoio a Ibaneis desde o início da campanha.
Outro distrital reeleito que acredita na construção de uma relação mais sólida entre a CLDF e o Palácio do Buriti é Rafael Prudente (MDB). ;Acredito que, com o governo Ibaneis, não vamos precisar de tantos embates. Vai ser uma outra forma de lidar com a Câmara Legislativa. Ele se comprometeu a ter um diálogo muito mais amplo, esse é o compromisso maior;, explicou o correligionário do governador eleito.
Apoios firmados
Além dos distritais que faziam parte do grupo de apoio de Ibaneis desde o início da campanha, o emedebista conquistou outros nomes ao longo do segundo turno. Com uma aliança ampla que contava com 21 siglas, o advogado trouxe mais distritais eleitos para a base aliada.
Foi o caso de partidos como o PRB e o Podemos, que estavam com Rogério Rosso (PSD) no primeiro turno. Um dos distritais conquistados por Ibaneis no segundo turno, Jorge Vianna (Podemos) também destaca o compromisso do governador eleito de respeitar mais a nova Câmara e acredita em um mandato sem sobressaltos. ;Por ele ser advogado, operador do direito e defensor das leis, espero que possa cumprir tudo que for feito por nós e as leis que já existem. Acredito nessa proteção, nessa promessa de garantir a legalidade;, acrescentou.
Independência
Até os parlamentares do partido de Rollemberg decidiram não se colocar como oposição ao novo chefe do Buriti. José Gomes e Roosevelt Vilela ; do PSB ; afirmaram que serão independentes. ;Essa coisa de oposição e situação é horrível. Precisamos pensar em Brasília. Vamos fiscalizar e apoiar o que for bom. Sou da segurança pública, quero ver esse aumento de 37% que ele prometeu às corporações com o Orçamento que temos. Espero que ele consiga, mas vou cobrar;, disse Roosevelt.
O argumento de pensar nos melhores projetos para a cidade é replicado por diversos outros parlamentares que recusam o rótulo de governistas e de oposição. ;A minha posição é de independência porque serei a favor do que for melhor para a cidade. Se forem projetos positivos, serei favorável. Se forem ruins, vou ser contrária;, disse, por exemplo, a distrital do Novo, Júlia Lucy.
Oposição petista
Os dois deputados distritais eleitos pelo PT foram os únicos a se posicionar contra o novo governador. Chico Vigilante e Arlete Sampaio assumirão postura mais crítica e devem analisar com mais rigor os projetos de Ibaneis Rocha. ;Vou ser também um cobrador implacável das promessas feitas na campanha. Não se pode se comprometer a fazer tanta coisa e não cumpri-las;, ressaltou.
Assim como Vigilante, Arlete destaca que a oposição não será feita de maneira intransigente e que ambos poderão votar com o novo governador caso concordem com os projetos apresentados. ;Não seremos oposição contra os projetos bons para a cidade. Colaboraremos com o que for positivo e tentaremos melhorar o que não for;, comentou.
As posições
Confira a postura dos 24 deputados distritais em relação ao novo governador:
Agaciel Maia (PR) - Não se manifestou
Arlete Sampaio (PT) - Oposição
Chico Vigilante (PT) - Oposição
Cláudio Abrantes (PDT) - Governista
Daniel Donizet (PRP) - Governista
Delegado Fernando Fernandes (Pros) - Governista
Delmasso (PRB) - Governista
Eduardo Pedrosa (PTC) - Governista
Fábio Felix (PSol) - Independente
Hermeto (PHS) - Governista
Iolando (PSC) - Governista
João Cardoso Professor-auditor (Avante) - Governista
Jorge Vianna (Podemos) - Governista
José Gomes (PSB) - Independente
Júlia Lucy (Novo) - Independente
Leandro Grass (Rede) - Independente
Martins Machado (PRB) - Governista
Professor Reginaldo Veras (PDT) - Independente
Rafael Prudente (MDB) - Governista
Reginaldo Sardinha (Avante) - Governista
Robério Negreiros (PSD) - Governista
Roosevelt Vilela (PSB) - Independente
Telma Rufino (Pros) - Não se manifestou
Valdelino Barcelos (PP) - Governista
Arlete Sampaio (PT) - Oposição
Chico Vigilante (PT) - Oposição
Cláudio Abrantes (PDT) - Governista
Daniel Donizet (PRP) - Governista
Delegado Fernando Fernandes (Pros) - Governista
Delmasso (PRB) - Governista
Eduardo Pedrosa (PTC) - Governista
Fábio Felix (PSol) - Independente
Hermeto (PHS) - Governista
Iolando (PSC) - Governista
João Cardoso Professor-auditor (Avante) - Governista
Jorge Vianna (Podemos) - Governista
José Gomes (PSB) - Independente
Júlia Lucy (Novo) - Independente
Leandro Grass (Rede) - Independente
Martins Machado (PRB) - Governista
Professor Reginaldo Veras (PDT) - Independente
Rafael Prudente (MDB) - Governista
Reginaldo Sardinha (Avante) - Governista
Robério Negreiros (PSD) - Governista
Roosevelt Vilela (PSB) - Independente
Telma Rufino (Pros) - Não se manifestou
Valdelino Barcelos (PP) - Governista
Boa relação com Bolsonaro
Ibaneis Rocha (MDB), que comandará o Palácio do Buriti a partir de 1; de janeiro, pretende manter um bom entrosamento com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Nas últimas semanas de campanha, o emedebista relacionou o seu nome diversas vezes ao do capitão da reserva, mas afirmou que só declararia voto após ouvir as propostas do candidato do PSL para Brasília.
Em 2017, o Distrito Federal recebeu R$ 13 bilhões do Fundo Constitucional ; a maior receita líquida repassada a uma unidade da Federação. Ter uma relação ruim com o presidente da República não põe em risco a verba recebida, mas, para especialistas, pode impossibilitar recursos extras.
Ao Correio, Ibaneis afirmou que votou em Bolsonaro para presidente. No DF, o candidato do PSL teve 1.080.411 de votos, 69,99% do total. Ibaneis recebeu 1.042.574 (69,79%). Pela proximidade das votações, especialistas acreditam que os futuros chefes dos palácios do Buriti e do Planalto têm eleitorado semelhante.
Neste mês, durante carreata na Candangolândia, Ibaneis afirmou que ;quem quer Bolsonaro vota 15 e vira bolsoneis;. ;Acredito que ele (Bolsonaro) vai olhar com apreço para Brasília, porque morou aqui por muito tempo e tem uma esposa que é de Ceilândia;, destacou o governador eleito.
Afinidade ajuda
O professor de Análise Política na Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas explica que é importante para o governador ter o máximo possível de intimidade com o presidente. ;Ter maior afinidade possibilita ser incluído em outros projetos, grupos de trabalho e em ações acima do âmbito do DF. Se a relação for ruim, o governador terá que trabalhar por conta própria, e inviabiliza e impede recursos extras.;
O especialista acredita que Bolsonaro terá uma boa relação com Brasília, devido, principalmente, a votação expressiva do político do PSL no DF. ;Houve o slogan ;Mais Brasil e menos Brasília;, que acabou sendo mal-entendido. O sentido é de menos decisões tomadas centralmente, e mais tomadas ouvindo todas as unidades da Federação. O brasiliense casou dois votos, de governador com presidente, votando em Bolsonaro e Ibaneis, então há uma expectativa que haja essa interlocução;.
Diálogo na Câmara
Dos três nomes que vão ocupar as cadeiras do DF no Senado Federal a partir de 2019, um apoia abertamente Bolsonaro: Izalci Lucas (PSDB). O futuro senador afirma que ajudará o capitão da reserva no Congresso Nacional e que quer ;exterminar o comunismo e o socialismo no Brasil;. Leila do Vôlei (PSB) e Reguffe (sem partido) se mantêm neutros.
Dos oito deputados federais que assumem as cadeiras do DF em 2019, quatro atuarão ao lado de Bolsonaro: Bia Kicis (PRP), Celina Leão (PP), Júlio Cesár (PRB) e Luis Miranda (DEM). Paula Belmonte (PPS) se manteve neutra e Flávia Arruda (PR) não se pronunciou. Erika Kokay (PT) e Professor Israel (PV), que abriram voto para Fernando Haddad (PT), se colocaram como oposição ao futuro presidente.
Erika lamentou a vitória de Bolsonaro pelas redes sociais. ;Tivemos uma derrota eleitoral, mas ganhamos na política. Lua de mel do povo com Bolsonaro não dura três dias;, escreveu no Twitter. ;Vamos continuar semeando amor. Bolsonaro foi eleito democraticamente para açoitar a democracia. Entramos num capítulo sombrio do golpe. Faremos resistência incansável contra todo tipo de arbítrio e autoritarismo;, completou a petista.
Já Bia Kicis, que se elegeu com o slogan ;a federal do Bolsonaro no DF;, comentou pelas redes sociais que ;começa hoje um novo tempo, tempo de liberdade, valores, honestidade, patriotismo e amor;.
"Ter maior afinidade possibilita ser incluído em outros projetos, grupos de trabalho e em ações acima do âmbito do DF. Se a relação for ruim, o governador terá que trabalhar por conta própria, e inviabiliza e impede recursos extras;
Ricardo Caldas, professor de Análise Política na UnB