A chama do Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves foi reacesa após dois anos extinta e há menos de uma semana do segundo turno das eleições. O fogo aceso na Praça dos Três Poderes representa a liberdade e a democracia brasileira. Foi desligado pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal em agosto de 2016, após a detecção de um vazamento de gás. O monumento foi construído no período da redemocratização e volta a funcionar às vésperas do pleito que decidirá quem será o próximo presidente do Brasil.
A torre diagonal que guarda a chama fica ao lado do prédio do Panteão. Oscar Niemeyer projetou o conjunto arquitetônico para celebrar a redemocratização e em homenagem ao primeiro presidente civil após 21 anos dos militares no poder. Tancredo morreu em São Paulo, em 21 de abril de 1985, um dia antes de tomar posse. Quem assumiu foi o então vice-presidente, José Sarney. O edifício principal encerra o Livro de Aço dos Heróis Nacionais, com nomes como o de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Zumbi dos Palmares e Leonel Brizola, líder trabalhista exilado do país por 15 anos após o golpe militar de 1964.
[SAIBAMAIS]Além do livro, o panteão guarda o Painel da Inconfidência Mineira, de João Câmara, o Vitral, de Marianne Peretti e o Mural da Liberdade, de Athos Bulcão.
Mesmo com uma corrente e um aviso de "área restrita", diversos brasilienses e turistas subiram no monumento na tarde de ontem para fazer fotos junto à chama. Entre os visitantes do panteão estavam o casal de namorados e turistas, Tiago Rambo, 20 anos, e Maurício Rodrigues, 27. "Essa chama já foi muito mais representativa. Foi construída em um momento histórico diferente. Nas últimas décadas, mesmo quando estava acesa, era como se não estivesse, por conta de toda a sujeira na política", lamentou Thiago. "Mas, agora, ela também representa a esperança, pois vários setores da sociedade tem se levantado contra o autoritarismo", completou Maurício.
Tombamento
O subsecretário de Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura, Gustavo Pacheco, comentou a demora no processo de restauração da pira. "Primeiro, tivemos que ir atrás das plantas da pira, pois o prédio não foi feito pela Novacap. Nós trocamos o sistema de gás, mas precisamos da ajuda da Casa Militar e da Defesa Civil para elaborar o projeto. Como o edifício é tombado, também tivemos que aprovar os planos junto ao Iphan e ao GDF. Depois, fizemos duas licitações para contratar a empresa executora. E, no meio do caminho, tivemos a greve dos caminhoneiros, que atrasou em um mês a chegada do tanque de GLP", explicou.Pacheco também falou sobre o momento em que a chama foi acesa. "A chama do Panteão é patrimônio nacional. Faz parte de um conjunto de obras de Brasília, do fim da ditadura militar. Foi pensada nesse contexto, de valorização da conquista da liberdade. Isso é história. Tivemos a volta da democracia e nesse contexto construiu-se o edifício. É uma homenagem à democracia e a Tancredo Neves. São os fatos. Esse momento é tão bom quanto qualquer outro para pensarmos a importância do monumento para a história, o que ele significa", destacou.
Arquitetura simbólica
O professor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) e ex-reitor da instituição, José Geraldo de Sousa Júnior, por sua vez, comentou o significado e a importância da chama, do panteão e do livro de aço para o país. "A chama é um modelo republicano iluminista. O fogo, no simbólico, pede uma sociedade diligente, que não deixe a democracia apagar. A nação tem que ser cuidadosa para que seus valores não esmaeçam. É também a luz no fim de um túnel obscuro a sinalizar novas oportunidades", detalhou o estudioso.
"O Panteão é um monumento vivo. Não só porque ali, a cada período, são inscritos novos nomes de figuras relevantes, mas a juventude, os estudantes, os professores incluem o edifício no roteiro pedagógico da nossa formação. É onde ocorre o contato das jovens mentalidades com os registros marcantes da história, um local que indica um futuro. Com o livro, nos lembramos daqueles que, no seu percurso, contribuíram com nossa formação nacional e promovemos um horizonte para as futuras gerações", completa o professor.