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Participantes de projeto cultural refazem caminhos da Missão Cruls

Iniciativa promove passeios aos quatro vértices que delimitam a região do Distrito Federal. Pontos foram marcados em 1892, durante expedição de estudo do Planalto Central liderada pelo astrônomo belga Louis Ferdinand Cruls



A história de Brasília serviu de inspiração para muitos entusiastas. Desde o sonho de Dom Bosco ; que previa o nascimento de uma civilização entre os paralelos 15; e 20; no hemisfério sul ; até hoje, inúmeros projetos nasceram com o objetivo de resgatar a cultura e de relembrar a epopeia deu origem à capital federal. Motivado pelos trabalhos de Louis Ferdinand Cruls, responsável por delimitar os vértices do Distrito Federal em 1892, um grupo de professores, integrantes de movimentos culturais e tropeiros se reúne neste sábado (20/10) para refazer os passos do astrônomo belga. O projeto, intitulado Caminhamentos Missão Cruls, está na segunda etapa e ocorre na cidade de Planaltina.

Ainda que tenha se transformado em capital apenas em 1960, a área do DF estava demarcada desde o século 19. A proposta de interiorização constava na Constituição Federal de 1891 e, ao longo de dois anos, 22 pesquisadores saídos do Rio de Janeiro levaram adiante o desafio de desbravar o interior do Centro-Oeste guiados por Louis Cruls. Os caminhos, registrados ao longo da missão, são percorridos por exploradores e turistas até hoje.

O diferencial dos integrantes do Caminhamentos Missão Cruls é a caminhada com indumentária inspirada na época. A partir das 15h30, os participantes darão início ao passeio cultural e visitarão locais como a Lagoa Mestre D;Armas, na Estação Ecológica Águas Emendadas, e a Pedra Fundamental de Planaltina. A ideia de seguir os passos de Louis Cruls é do professor de história Robson Eleutério.

Aposentado pela Secretaria de Educação, Robson quis dar destaque à história do astrônomo e aos pontos demarcados durante a missão. Dessa forma, segundo ele, os próprios municípios onde os vértices estão localizados podem desenvolver propostas com foco no turismo. ;Os quatro pontos são sempre muito citados nos relatos de Louis Cruls. Em 1992, no centenário da missão, o Exército percorreu cada um deles para colocar uma peça e indicar de qual ponto se trata. Até o fim do ano, vamos visitar os restantes;, conta.

Atualmente, alguns dos pontos se encontram em áreas particulares. A proposta do professor é criar trilhas que levem a cada um deles e tornem os caminhos acessíveis e mais conhecidos pela população. ;É um trabalho educativo para a comunidade local que tem como base o relatório da comissão exploradora. Trata-se de um documento rico em informações. Fala da fauna, flora, geologia, astronomia e do clima. Nossa intenção é levar isso para as escolas também;, destaca Robson.
Coordenadora da Regional de Ensino de Planaltina, a professora Queti Diettrich participará das atividades na cidade. ;Acho muito importante esse resgate e ficamos satisfeitos de terem escolhido Planaltina para receber essas atividades.; Queti divulgou o projeto em instituições de ensino e espera que os estudantes marquem presença para acompanhar a caminhada. Durante o percurso, ela representará Lilinda, esposa de Hastimphilo de Moura, um dos ajudantes de Cruls na missão. ;Esse tema precisa ser trabalhado nas escolas, pois os vértices estão abandonados hoje;, comenta.

Qualidade hídrica


O passeio terá início na Administração Regional de Planaltina. Durante o percurso, os interessados em acompanhar como espectadores assistirão a encenações com diálogos inspirados no cotidiano da época. ;Cada pessoa representará um participante. Esse trecho do roteiro que faremos é o mesmo da época. Ele fez parte da Estrada Real, que saía da Salvador, passava por Planaltina e chegava à Cidade de Goiás. Era uma rota feita com certa frequência, principalmente por causa do ouro;, explica Robson.

Mesmo que a cidade de Planaltina não conte com um dos vértices demarcados por Cruls, o explorador esteve passou pela Lagoa Mestre d;Armas ; também conhecida como Lagoa Bonita e onde, atualmente, fica a Estação Ecológica Águas Emendadas. Enquanto estudava o Planalto Central, a abundância de água chamou a atenção do belga.

;O local aonde iremos fica próximo à dispersão das bacias das Águas Emendadas. A questão da qualidade hídrica foi determinante para a escolha do local onde seria demarcada a capital. Cruls fez essa observação no relatório da Expedição Exploradora do Planalto Central do Brasil. O motivo de não terem ficado doentes aqui foi, especialmente, a qualidade da água;, detalha o idealizador do projeto histórico-cultural.

Entretenimento


O segundo dia de passeio por meio do projeto Caminhamentos Missão Cruls ocorrerá em parceria com o Festival Quadrilátero Cruls. Financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), o evento contará com apresentações de dança e bandas de Planaltina, atividades promovidas pela Embaixada da Bélgica, além da inauguração de uma escultura de Louis Ferdinand Cruls observando o céu com uma luneta. Feita em bronze, a obra tem 1,8 metro de altura.

Responsável pela organização o festival, Elisa Rachaus afirma que a ideia do evento nasceu como uma ação para evitar o esquecimento da história do Distrito Federal. Para a produtora cultural, o encontro vai favorecer a divulgação de tradições desconhecidas por muitos brasilienses. ;Não existem ações patrimoniais focadas na missão comandada por Louis Cruls. Há muitos feriados no DF, mas nada que represente ou relembre o início de tudo. Fiz um projeto pensando em formas de introduzir esse tema em shows e para que as pessoas tomem conhecimento e revivam um pouco da nossa primeira história;, conta Elisa.

Programe-se


Festival Quadrilátero Cruls
Horário: das 15h às 2h
Local: Praça São Sebastião, Setor Tradicional de Planaltina (Igrejinha de São Sebastião)
Ingressos: Entrada franca
Classificação livre



Primeira fase

O projeto Caminhamentos Missão Cruls começou em Abadiânia (GO), em 29 de julho. O professor Robson Eleutério e outras 14 pessoas saíram da Floresta Nacional de Taguatinga e seguiram rumo ao vértice sudoeste. Vestidos a caráter, montados em cavalos, mulas ou a pé, eles seguiram os caminhos percorridos durante a expedição de 1982 na área. Em seguida, o grupo rumou para o Rio Capivari, onde participou de atividades como observações astronômicas e rodas de conversas sobre a missão. A terceira caminhada está prevista para 11 de novembro, em Formosa (GO), no vértice nordeste.