Candidato ao Senado pela primeira vez depois de duas décadas de carreira na política, o professor e contador Izalci Lucas Ferreira (PSDB), 62 anos, conquistou uma cadeira no Senado Federal. Mineiro da cidade de Araújos, o político assume o cargo após três mandatos consecutivos na Câmara dos Deputados, conquistando 15,33% (399.297) do total de votos válidos. Leila do Vôlei (PSB) também foi eleita, em primeiro lugar, com 462.420 (17,76%). Atualmente, Izalci preside o diretório regional do PSDB e, nas eleições, recebeu apoio da coligação Coragem para fazer, composta por PSDB, DEM, PR e DC.
Como suplentes, o Izalci terá Luis Felipe Belmonte (PSDB) e Andre Filipe (PR). O primeiro é ex-advogado do senador cassado Luiz Estevão. O segundo, empresário. Luis Felipe Belmonte ganhou destaque depois de declarar R$ 65.773.659,50 em bens nestas eleições. A quantia foi inferior apenas à de dois candidatos: Ibaneis Rocha (MDB), que tenta se eleger ao cargo de governador, e Fernando Marques (Solidariedade), que também concorreu ao Senado.
Desde que assumiu a presidência provisória do PSDB-DF, em 2015, Izalci enfrentou resistência por apresentar comportamento considerado ;opressivo; no partido. Ele foi criticado por correligionários, que pressionaram para que o político deixasse o cargo. No entanto, o tucano permanece na vaga, contrariando a regra que prevê validade de 120 dias para mandatos provisórios, com renovação por igual período.
Até agosto, o mineiro foi o representante da sigla na corrida ao Palácio do Buriti, mas o cenário mudou. Na convenção regional, a coligação Coragem e Respeito pelo Povo lançou Alberto Fraga (DEM) para concorrer ao GDF e Izalci para o Senado. Em maio, entretanto, o deputado chegou a compor a chapa Unidos pelo DF, formada por PSD, PRB, PPS, Solidariedade, Podemos e PSC, com Cristovam Buarque (PPS) concorrendo ao Senado. Izalci foi anunciado como pré-candidato ao GDF pela coligação, mas acabou trocado por Rogério Rosso (PSD). A gestão do professor como presidente do PSDB teria sido um dos motivos para a mudança.
De contador a parlamentar
Izalci entrou na vida política em 1998, quando se candidatou a deputado distrital pelo PSDB e assumiu a primeira suplência. Nas eleições seguintes, disputou novamente uma vaga na Câmara Legislativa, elegeu-se pelo PFL, atual DEM, mas licenciou-se do cargo para tornar-se titular na Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia. Em 2006, ficou na primeira suplência do cargo de deputado federal e, em 2007, voltou a assumir a Secretaria de Ciência e Tecnologia. Nas eleições de 2010 e 2014, elegeu-se como deputado federal.
O senador eleito também passou pela presidência dos sindicatos dos Contadores e dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF. Enquanto ainda era líder sindical, criou o Cheque-Educação, programa que permitia a destinação de vagas ociosas nas escolas particulares para estudantes de baixa renda. Na vida política, foi um dos autores da Emenda Constitucional (EC) n; 95, cujo principal objetivo é impulsionar a pesquisa nacional e a criação de soluções tecnológicas para aplicação no setor produtivo.
Além disso, presidiu a comissão de aprovação do Marco Regulatório de Ciência, Tecnologia e Inovação, a comissão mista que ampliou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e apresentou o projeto de lei que inclui entre as diretrizes e bases da educação nacional o Programa Escola sem Partido.
Em relação a votações de repercussão nacional, Izalci se manifestou favoravelmente ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto dos Gastos Públicos, à Reforma Trabalhista e ao arquivamento da denúncia de corrupção passiva contra o presidente da República, Michel Temer (MDB). Atualmente, é titular em 10 comissões, incluindo a de Educação e o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
Durante a campanha ao Senado, Izalci prometeu usar as experiências como contador e auditor para captar verbas e investir na infraestrutura da capital federal. O tucano declarou que os primeiros projetos a apresentar priorizarão as reformas política, previdenciária e tributária e que falta gestão sobre o uso do Fundo Constitucional para segurança, saúde e educação. Ele também defende a redução da maioridade penal e o Estatuto do Desarmamento com autorização para moradores de áreas rurais.
Investigado por desvio de verbas
Na semana passada, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) receberam denúncia com acusações de que Renato Fernandes Ferreira, filho de Izalci, teria recebido terreno público do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Igor Soares Lelis, por preço abaixo do mercado. O deputado disse ser dono da terra desde 1993 e vítima de um ;factóide; de pessoas que querem prejudicá-lo. Ele completou dizendo que encaminhou o pedido de escritura há mais de 20 anos e que, em 2013, repassou o terreno para o filho.
No mesmo dia de lançamento da primeira pré-candidatura ao GDF, o tucano teve inquérito aberto contra ele por suposta participação em um esquema de desvio de recursos públicos do Programa de Inclusão Digital ; DF Digital, quando ainda era secretário de Ciência e Tecnologia. A 1; Vara Criminal de Brasília enviou o processo ao Supremo Tribunal Federal (STF) quando Izalci assumiu a vaga de deputado federal. Contudo, com a decisão da corte suprema de manter o foro apenas em processos relativos a crimes praticados durante o período do mandato e relacionados às funções do cargo, o inquérito voltou para o juízo de origem.
Outros dois processos contra o tucano devem ser enviados à primeira instância. O primeiro investiga se Izalci desviou bens doados pela Receita Federal e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) à Secretaria de Ciência e Tecnologia entre 2009 e 2010, quando chefiava a pasta. O outro averigua se o deputado federal constrangeu servidores atuantes no DF Digital para trabalharem como cabos eleitorais no mesmo período.