Na Octogonal, já havia fila para votar às 7h30 da manhã, horário em que o colégio Ciman abriu os portões para quem quisesse esperar na porta das seções. O aposentado Messias Moreira Borges, 74, foi um dos primeiros a chegar. Ele fez questão de comparecer mesmo estando em uma faixa etária em que o voto não é obrigatório. ;A gente tem que exercer a democracia, não tem regime melhor;, disse.
Do lado de fora, santinhos e panfletos de candidatos espalhadas pelas calçadas revoltavam eleitores. O educador físico Alexandre Gonçalves, 54, reclamou da sujeira. ;São sempre as mesmas figurinhas carimbadas que jogam esse lixo. Não merecem respeito nem meu foto, apenas indignação;, disse o morador da Octogonal.
No Cruzeiro, as votações iniciaram de forma tranquila e sem registros de violência. Casados há três anos, o profissional de relações públicas Vamberg Ferreira, 28, e o advogado Philippo Melo, 26, foram votar juntos. ;Eu estou com medo do que pode acontecer, principalmente no segundo turno. Nosso país está num período de muitos extremos. Um candidato assim ganhando só tende a piorar a situação;, disse Vamberg.
Filas
Enquanto as filas de algumas seções eleitorais eram mínimas, em outras, pessoas esperaram por mais de hora. Com muitos idosos votando e outros atendimentos preferenciais, longas filas se estendiam em portas de salas. Um dos casos foi o do atual governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, que esperou por uma hora e meia.
No colégio La Salle da 906 Sul, a artista plástica Carla Medianeira, 45, ficou em torno de 50 minutos esperando. ;Na minha frente passaram ao menos 10 idosos com mais de 80 anos. É bom, as pessoas estão votando mais, participando;, disse. O esposo dela, por outro lado, o militar Raimundo Lopes, 52, conseguiu votar em poucos minutos.
Já no colégio Elefante Branco, na 908 Sul, tinha fila com mais de 30 pessoas. A estudante Mariana Diniz, 30, esperou por uma hora. ;O horário foi desequilibrado, as pessoas vieram muito próximo umas das outras. Também vi muita gente com neném;, relatou a jovem, que encarou uma eleição pela primeira vez. ;Não foi fácil e estou até agora passando mal de nervoso. Tenho medo do resultado. Na minha família já deu briga porque todo mundo vota diferente. Alguns eu excluí de todas as minhas redes sociais;, disse Mariana.
Mudança nas zonas
O que explica em parte as longas filas no colégio Elefante Branco é que ele recebeu as seções que antes ficavam no Centro de Ensino de 1; Grau 2 de Brasília da 107 Sul. A aposentada Teresinha Garcia, 69, foi uma das eleitoras que souberam de última hora da mudança.
Ela chegou à 107 e lá ficou sabendo da alteração. ;Ninguém nos avisou e muitos idosos passaram pela mesma coisa.; Ela foi com a neta, a professora Kíssila Garcia, 26, e disse que não foi difícil escolher os candidatos. ;Assisti a alguns debates, mas teve muita agressão e falta de respeito. O caminho não é esse. Para se exercer a cidadania, é preciso ser educado e respeitar o outro;, avalia.
Kíssila concorda com a avó e mostrou preocupação com a democracia. ;Para quem conhece a história, fica visível em quem votar. Alguns não representam a sociedade, que é baseada na diversidade;, disse a professora.
Um casal reclamou da má distribuição de pessoas entres as seções eleitorais, em Sobradinho. Os dois votaram no mesmo local, no Centro de Ensino Médio 1, mas o aposentado Roberto Rovaris, de 63 anos, teve de esperar cinco minutos na seção 26, enquanto sua esposa, Antônia Rovaris, 60, ficou na fila por mais de 1h30, na seção 21. "Tem muitas pessoas a mais nessa seção do que nas outras, aqui tem quase um preferencial para um normal. A fila praticamente não anda. Eles tinham de separar melhor as pessoas entre as seções pra evitar esse problema", contou Antônia.
A situação da escola se parece com a dos outros locais de voto na 5; Zona Eleitoral: grande quantidade de santinhos no chão e filas grandes, principalmente a partir das 10h. Mas, apesar da grande mobilização, nenhuma grande confusão marcou a região durante as primeiras horas da eleição.
Justiça eleitoral
Os promotores da Justiça Eleitoral se dividiram em oito equipes de duas pessoas para ir a todos os lugares de votação conferir se respeitavam a Lei Eleitoral. A principal orientação aos voluntários e policiais era verificar se os carros com adesivo de candidatos estavam estacionado há tempo o suficiente para que a promoção do concorrente exposto na imagem seja considerado boca de urna. Caso as autoridades entendessem a ação como crime eleitoral, eram orientados a chamar um reboque e retirar os veículos da frente dos locais de voto. Até o fim da manhã, porém, nenhum carro foi rebocado por forças policiais no local.
Na faculdade Projeção, um homem usando bandeira com mastro tentou entrar no local de voto, mas foi proibido. A abordagem, segundo o portador da bandeira, Edson Buscacio, 52, foi respeitosa, mas ele discorda da viabilidade da Lei Eleitoral. "Nos Estados Unidos você pode tudo. Aqui, eu não posso é pedir voto ou aglomerar, mas proibir a bandeira, a camisa, o adesivo já é demais. Nós perdemos muito com a nova lei eleitoral, onde está a importância do cidadão?", questiona Edson.