;Volto a ser criança novamente quando vejo eles correndo atrás dos doces. Ver a alegria deles é a minha alegria. Minha irmã só distribui para manter a tradição, e eu trago as crianças aqui pelo mesmo motivo.;
Ela e os sobrinhos ganharam doces da advogada Taynara Paranhos, 26, que estava distribuindo os pacotinhos com o marido, Ricardo Paranhos, 50. Ela começou a entregar os doces na data há dois anos, após uma promessa, e garante que, a partir de agora, não vai mais parar. ;Fiquei preparando tudo até de madrugada. Me cativa ver as crianças felizes;, afirma Taynara.
Tradicionalmente, os adeptos costumam distribuir doce em homenagem aos santos. No catolicismo, os santos eram gêmeos e médicos que pregavam a fé cristã. Uniam a ciência e a religião. Eles faziam atendimentos sem cobrar. São considerados os padroeiros dos farmacêuticos, médicos e das faculdades de medicina. De acordo com a história, foram perseguidos pelo imperador romano Diocleciano, no ano 300 depois de Cristo.
Na umbanda e no candomblé, segundo a confeiteira e umbandista Daniela da Silva Dantas Freire, 33, os irmãos não são a mesma figura representada pelos católicos, mas têm histórias de vida muito parecidas. Nesta tradição eles são Êres, são entidades alegres, festeiras e têm grande prestígio junto aos orixás. A confeiteira distribuiu doces pela primeira vez e estava animada.
;Comecei a fazer os saquinhos no começo da semana. Pedi ajuda para todo mundo da minha família. Conseguimos montar 50 saquinhos bem recheados. Colocamos pipoca, sorvetinho, jujuba, balinhas, guarda-chuva de chocolate, amendoim, paçoca e nem lembro mais o que.;
Ela decidiu distribuir os doces em agradecimento ao começo de sua carreira como confeiteira. ;Eu comecei a fazer cursos profissionalizantes e, há dois anos, passei a vender bolos. Decidi então fazer a entrega de doces para as crianças como uma forma de agradecimento;, acrescenta.
Em Sobradinho, a aposentada Maria Madalena Barreto, 59, distribui doces há tanto tempo que nem se lembra quando começou. A tradição foi passada pela mãe, que era umbandista e morreu aos 87 anos. ;Nós decidimos que íamos fazer isso ontem. Todos os anos, desde que eu me lembre, nós distribuímos;, conta Madalena.
É para pagar uma promessa que a professora Mari Lucia Passeri, 52, distribui doces há 32 anos. Moradora do Guará, ela revela que a tradição passou de mãe para filha. Sua história começou quando sua mãe estava grávida. ;A gravidez era de risco e o médico disse que não ia conseguir me salvar, apenas a minha mãe, mas que eles iam fazer de tudo para que eu fosse salva e aqui estou.;
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer