Para participar da prova de esforço físico do concurso público da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) ; na qual Leonardo da Silva Oliveira passou mal, morrendo mais tarde ;, os candidatos precisavam apresentar, por exigência do edital, atestado médico informando a aptidão para realizar, sem qualquer restrição, os exercícios exigidos.
Ainda segundo o regulamento, o atestado deveria ser emitido até 15 dias antes e conter a assinatura e o nome completo do médico responsável, além do número de seu registro no Conselho Regional de Medicina (CRM). Também de acordo com o edital, não seriam aceitos atestados para fins de trabalho, aqueles que comprovam simplesmente o gozo de saúde física e mental, mas não explicitam a aptidão para esforço físico.
Apesar de todas essas exigências, não é difícil para uma pessoa obter um atestado sem passar por um exame detalhado, revelam ao Correio candidatos que fizeram a mesma prova durante a qual Leonardo passou mal. Segundo os relatos, dependendo da clínica procurada, não é feita uma avaliação aprofundada sobre a condição de saúde dos candidatos, apenas perguntas básicas.
"Comigo, eles não fizeram nenhum exame a fundo, como medição de batimentos. Eram apenas aquelas perguntas básicas, se eu tinha pressão alta, usava algum tipo de medicamento e só. Paguei R$ 15, a consulta durou menos de cinco minutos e já me deram o atestado", diz uma candidata que participou da prova da PM e pede para não ter o nome revelado. Um outro candidato relatou procedimento semelhante.
Queda e desmaio
Ao todo, o teste de aptidão física (TAF) da PMDF conta com testes em barra fixa, flexão abdominal, corrida de 12 minutos e natação de 50 metros. A candidata que conversou com a reportagem conta ainda que, durante a prova de corrida feminina, algumas concorrentes se mostraram claramente despreparadas e passaram mal e desmaiaram.
"Uma candidata que estava correndo comigo caiu no chão antes de completar a prova, passando mal. Depois, vieram algumas pessoas para socorrê-la e a colocaram em uma cadeira de rodas. Ela dizia que não sentia as pernas e achava que ia morrer", diz.
A candidata também observou outra mulher cair desmaiada logo após correr o circuito. "Houve ainda outras candidatas que conseguiram correr, mas no fim, ficaram sentadas no chão e tiveram seus batimentos cardíacos medidos", afirma.
É preciso investigar, diz especialista
De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), quem faz a fiscalização das clínicas médicas e dos profissionais é o Conselho Regional de Medicina (CRM), mas geralmente essa fiscalização é feita a partir de denúncias, em que se verifica a legalidade dos profissionais em atuar como médicos e dos estabelecimentos em sim. O Correio entrou em contato com o CRM, mas até a última atualização desta reportagem não havia obtido resposta.
Segundo o coordenador técnico da equipe AprovaTAF e professor do Gran Cursos Online, César Marra, seria importante que nos editais de concurso público fossem exigidos testes cardiológicos específicos. "Normalmente, esses atestados médicos têm uma liberação genérica, sem fundamento especifico e sem exames detalhados, particularmente os cardíacos. Seria interessante haver nos editais dos concursos essa cobrança de exames de esteira específicos, para analisar a função cardíaca dos candidatos. Muitas vezes, esses exames genéricos não detectam problemas do coração e a pessoa recebe o atestado sem saber se tem algo errado."
O especialista afirma que testes de esforço específicos são completos e capazes de detectar problemas cardíacos, inclusive com indicação para a não realização de atividades físicas intensas. Marra ressalta, porém, que é preciso investigar a morte do candidato. "Um conjunto de fatores pode ter contribuído para uma morte assim: se a pessoa é extremante sedentária, se está em estado hipoglicêmico durante o teste, se não houver troca de calor eficiente com o ambiente. Tudo isso pode contribuir e levar à morte, dependendo do indivíduo."
Sobre os desmaios também ocorridos durante o TAF da PMDF, Marra afirma que as causas, geralmente, são: falta de preparo físico, já que há candidatos que não treinam o suficiente e na hora dos testes acabam impondo esforço com muita intensidade; alimentação inadequada, pois existem candidatos que tomam produtos que prometem melhor desempenho físico e isso acaba afetando seu metabolismo de uma forma ruim; e tem aqueles que nem comem, pois acreditam que assim ficam mais leves, mas acabam apresentando hipoglicemia e desmaiam.
Morte no teste dos homens
No teste aplicado em homens na quarta-feira (20/9), uma cena parecida aconteceu com Leandro da Silva Oliveira, 31 anos. Ele, porém, acabou falcendo na madrugada desta quinta-feira. Em Brasília, há pelo menos outro caso do tipo, ocorrido em 2014.
Em nota, a PMDF informou que, após apresentar o atestado médico específico para o certame, o candidato foi examinado em testes de flexão abdominal e barra fixa, nos quais foi considerado apto. Em seguida, iniciou o teste de corrida, no qual sentiu-se mal e não conseguiu finalizar a avaliação, caindo na pista.
Já o Instituto Americano de Desenvolvimento (IADES), responsável pela aplicação do exame, disse que se solidariza com a família do candidato e que ainda aguarda exames que indiquem a causa da morte. A instituição ressaltou ainda que "todos os candidatos são obrigados a apresentar atestado médico que comprovem a aptidão para a realização dos exercícios específicos para o concurso público".