Walder Galvão*
postado em 06/09/2018 06:00
Para desarticular facções que comandam, de dentro e fora da prisão, assassinatos, tráfico de drogas e assaltos, policiais civis do Distrito Federal foram às ruas ontem para cumprir 58 mandados de prisão preventiva e 49 de busca e apreensão, expedidos pela Justiça do DF. Até o fim do dia, eles deram ordem de prisão a 38 suspeitos, sendo que 20 já estavam detidos no Complexo Penitenciário da Papuda. Os demais são bandidos soltos, envolvidos no planejamento dos crimes que financiam o grupo.
Na Operação batizada de Hydra, agentes realizaram as prisões em Brasília, São Paulo, Praia Grande (SP), Águas Lindas (GO), Santo Antônio do Descoberto (GO) e Curitiba (PR). Dos que continuavam foragidos havia dois homens apontados como líderes do bando. Eles eram procurados nas capitais paulista e paranaense.
Entre os presos no DF estão um advogado e uma advogada. A investigação aponta que eles trabalhavam como facilitadores para o bando e um deles havia sido preso por tentar entrar em presídios com drogas. ;Geralmente, eles andam transferindo ordens para fora do presídio. A advogada presa nessa etapa da operação participava até mesmo de decisões da organização;, contou o delegado Thiago Boeing, da Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac). Os investigadores decidiram não divulgar os nomes dos suspeitos.
Recrutamento
O grupo que tentava se instalar no DF tem forte atuação em outras unidades da Federação, como Rio de Janeiro e São Paulo. O objetivo do bando, segundo os investigadores, é recrutar integrantes tanto dentro dos presídios quanto fora deles. De acordo com o apurado na operação, a quadrilha é extremamente organizada e conta com pessoas especializadas na prática, atuando dentro e fora dos presídios do Brasil.De acordo com um dos delegados à frente do caso, Fernando César Costa, o trabalho de combate à facção criminosa começou em 2001. ;Deflagramos várias operações para desarticular qualquer célula que tente entrar no DF;, ressaltou.
Em relação aos suspeitos que se encontravam na Papuda, Fernando explicou que eles terão uma nova acusação somada à pena que já cumpriam. Os demais serão indiciados por integrar associação criminosa e, se condenados, podem ficar presos por até 13 anos. Todos foram detidos preventivamente e permanecerão na cadeia até o fim do processo. A decisão partiu da 4; Vara Criminal de Brasília.
Entre os suspeitos, estava uma mulher foragida desde a mais recente operação realizada pela Polícia Civil para combater facções criminosas, deflagrada em abril e batizada de Prólogo (leia Memória). Ela foi encontrada em Praia Grande, no litoral de São Paulo. A suspeita atuava na parte contábil do bando e tinha um cargo de liderança, de acordo com a investigação. Ela responde por criar uma casa de apoio aos presos em Mossoró (RN), onde funciona o presídio federal, que tinha o intuito de fortalecer a facção na cadeia. A suspeita dos agentes do DF é de que ela tentaria instalar a mesma central de auxílio na inauguração do presídio federal de Brasília, que está pronto para funcionar.
O delegado Thiago Boeing diz que, em só um crime realizado pela facção, eles faturaram R$ 1,3 milhão com venda de cocaína. ;Nossa suspeita é de que o grupo pretendia instalar a liderança dos criminosos no presídio federal de Brasília e iniciar o mesmo esquema de outros estados no complexo (da Pauda);, disse.
Articulados
Os investigadores à frente do caso dizem que o grupo funciona de forma extremamente articulada. Para ingressar na organização, os criminosos precisam cumprir missões designadas pela liderança e ainda pagar uma espécie de mensalidade. Entre os crimes praticados por eles, está desde tráfico de drogas a homicídio. ;Estamos falando de pessoas especializadas em crimes. Eles atuam naquilo que conseguem lucro, independentemente do delito;, reforça o delegado Fernando César.Caso um dos integrantes que estejam no grupo seja preso, eles ainda recebem uma espécie de auxílio-reclusão. Quem está no sistema penitenciário procura o bando para conseguir proteção. Em troca cumprem tarefas para fortalecer o grupo. Todo membro precisa ser batizado. Para fazer parte da associação é necessário ter um ;padrinho;. Se um dos integrantes for denunciado por um companheiro, ele ainda pode enfrentar um julgamento e até ser executado, caso seja ;condenado;.
A célula da facção é denominada 61, em referência ao DDD da região. Eles atuavam em regiões do Entorno e em Brasília, mas o delegado Fernando César garante que a facção, por enquanto, está extinta na capital. ;Caso alguém demonstre interesse em entrar na organização, a orientação dos criminosos é de que a pessoa procure cidades de Goiás, porque o trabalho da Polícia Civil do DF impede a instalação deles aqui;, afirmou César.
Há suspeitas de que a facção criminosa esteja expandindo os negócios para fora do Brasil. O delegado Thiago Boeing afirma que há indícios de que há pessoas batizadas na Bolívia, mo Paraguai e até mesmo na Espanha.
Memória
2018Em 24 de abril, a Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou a Operação Prólogo no Complexo Penitenciário da Papuda. A ação dos agentes desarticulou formação de facções criminosas que atuam no sistema penitenciário. Mesmo encarcerados, 13 detentos tiveram a prisão preventiva decretada, o que os impediram de obter benefícios de progressão do regime ou saídas.
2015
As policias Federal e Civil trabalharam juntas na Operação Tabuleiro, desencadeada em 16 de outubro para desarticular uma quadrilha de tráfico interestadual de drogas. Os agentes cumpriram 23 mandados de busca e apreensão, sete conduções coercitivas e 20 mandados de prisão somente na capital. O grupo também é suspeito de praticar homicídios no DF e no Entorno. Durante monitoramento dos criminosos, que durou oito meses, os investigadores apreenderam aproximadamente 5 toneladas de drogas.
"Nossa suspeita é de que o grupo pretendia instalar a liderança dos criminosos no presídio federal de Brasília e iniciar o mesmo esquema de outros estados no complexo (da Pauda);
Thiago Boeing, delegado