Jornal Correio Braziliense

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Invasão da UnB durante a ditadura completa 50 anos

Dia tido como o mais violento do período ditatorial fez da universidade um cenário de guerra, com direito a metralhadoras, bazucas e bombas de gás lacrimogêneo. Data também marcou a prisão do líder estudantil Honestino Guimarães

;Rapazes e moças foram evacuados das salas de aula e, sob a mira de metralhadoras, obrigados a se dirigir à praça de esportes da UnB, com as mãos sobre as cabeças.; A notícia, divulgada pelo Correio Braziliense de 30 de agosto de 1968, expôs ao país a invasão de militares à Universidade de Brasília (UnB), em dia 29 de agosto. Hoje, o atentado à liberdade completa 50 anos.

Embora a UnB tenha sido invadida outras vezes no período da ditadura, aquele foi o dia de maior tensão. Tudo começou cedo: por volta das 10h, cerca de 50 veículos da polícia cercaram a instituição sob o pretexto de cumprir um mandado de prisão contra o estudante Honestino Guimarães, então presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília.

Naquela mesma data, no entanto, estavam marcados protestos na universidade contra a morte do estudante Edson Luis de Lima Souto, assassinado a tiros por policiais militares em 28 de março de 1968, em um restaurante no Rio de Janeiro. O crime rendeu manifestações em várias regiões do Brasil, mas os alunos da UnB sofreram mais represálias por causa da proximidades com o comando central do Exército na capital.

De dentro das viaturas, saíram policiais militares, civis e do Exército, que se juntaram a agentes à paisana do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops. Com eles, metralhadoras, bazucas e bombas de gás lacrimogêneo ameaçavam a vida de estudantes e assustavam brasilienses que acompanhavam a repercussão da invasão, como descreveu o Correio do dia seguinte.

Imediatamente, parentes dos estudantes seguiram para a UnB. Entre eles estava o deputado Santilli Sobrinho. ;Foi à Universidade para defender seu filho, e ambos acabaram sendo espancados. O Campus da UnB foi palco, naqueles instantes, de cenas de pânico e violência;, descreveu a matéria do Correio, intitulada ;UnB outra vez tomada de assalto;.
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Saldo total


Cerca de 15 parlamentares dirigiram-se ao câmpus na hora da invasão, tentando impedir os ataques à democracia e aos estudantes. Entre os alunos, se calcula que 500 foram cercados na quadra de esportes. Em área aberta, eles temiam os tiros das metralhadoras. Nos corredores fechados, funcionários da instituição não conseguiam respirar devido às bombas de gás jogadas pelos militares.

Na confusão, um aluno chegou a ser atingido por um disparo e foi levado para o Hospital de Base com traumatismo cranio-encefálico, juntando-se a outros pacientes que estavam na UnB e chegaram à unidade de saúde com ferimentos leves. Em uma nota emitida pelos professores da UnB no dia seguinte, eles lembraram que o local de estudo foi palco de agressões cometidas por militares, que chegaram ;atirando e ferindo alguns estudantes e espancando vários outros, inclusive professores;.

A manifestação dos educadores mencionava que a invasão fazia a capital lembrar ;um país em guerra;. Além de toda a violência sofrida, a estrutura da instituição teve diversos prejuízos materiais. O cenário tinha cacos de vidro de janelas estilhaçadas, pedaços de ferro de cadeiras quebradas e restos de carros incendiados.

O serviço de comunicação do Departamento de Polícia Federal (DPE) acusou os estudantes, naquele dia, de terem agredido os militares. ;Os agentes federais, ao se dirigirem à Universidade, pacificamente, a fim de cumprir sua missão, foram recebidos com pedradas e vários objetos lançados contra eles, pela ;turma de segurança; daqueles baderneiros, tendo inclusive uma viatura do Departamento de Polícia Federal sido virada e queimada.;

A prisão de Honestino Guimarães o ocorreu naquele dia, há extatos 50 anos. Dali em diante, o estudante sofreu várias punições e prisões até que, em 1973, foi preso pelo Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Naquele ano, Honestino desapareceu e só teve seu atestado de óbito emitido em 1996, pelo Judiciário do Rio de Janeiro, quando o Estado reconheceu a responsabilidade pela morte do estudante.