Cidades

Prata da Casa: jazz e chorinho misturados no dom de um só brasiliense

Aos 19 anos, Matheus Donato garante que os dois ritmos combinam muito bem. Da junção, o jovem faz músicas dançantes e lançará um disco em breve. Detalhe: totalmente autoral

Jéssica Andrade*
postado em 24/08/2018 17:42
Donato vem de uma família de músicos e não deixou a tradição ser esquecida
O brasiliense Matheus Donato, de 19 anos, propõe uma nova abordagem ao cavaquinho, instrumento que dá o tom quando o assunto é chorinho. Com um cavaco de seis cordas na mão ; ele diz que é uma das quatro pessoas no mundo que possuem o raro instrumento ;, o estudante de música da Universidade de Brasília (UnB) pretende lançar, ainda este ano, um disco inovador, misturando o jazz ao chorinho e trazendo um resultado acústico dançante. O álbum será instrumental e terá apenas canções de autoria própria.

;Eu quero fazer uma música sem preocupação. Sem rótulo. Música que eu gosto;, diz Matheus, ao desabafar que detesta ser enquadrado em um gênero musical. Para ele, o mais importante é fazer música. O que ele começou ainda novo, com um cavaquinho comum, aquele de quatro cordas. Depois, passou para o de cinco. ;Mas eu queria mais recursos musicais. Então, busquei a ideia do cavaquinho de seis cordas e decidi investir. Eu acredito nele;, frisa. Para o músico, o cavaquinho é autossuficiente, ou seja, reúne os três elementos da música em um único instrumento: harmonia, melodia e ritmo.

Porém, não foi só o cavaquinho que o impulsionou na carreira musical. Matheus revela que, durante a infância, ele e toda a família embarcavam em uma aventura de Kombi, que começava de sua casa, na Asa Norte, e seguia até casa da vovó Dadá, em Curitiba. Filho de uma professora de piano erudito e um sinfonista de orquestras, durante os dois dias de viagem, o repertório era diverso. ;Rolava todos os sons possíveis. Desde MPB a jazz e música erudita. Isso marcou muito a vida da gente;, lembra.

As viagens e a herança genética musical o levaram a estudar violão erudito aos 10 anos de idade. Atualmente, é formado pela Escola de Música de Brasília (EMB). No entanto, ele não esconde a preferência pelo cavaco. Inclusive, dá aulas particulares do apetrecho.
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Matheus acredita que o chorinho, gênero que trouxe o cavaquinho a um lugar de destaque, chegou a Brasília com os funcionários públicos cariocas que vieram transferidos da antiga capital federal. Aliás, suas maiores referências estão ligadas ao Rio de Janeiro, como o cavaquinista Waldir Azevedo. Azevedo, aliás, também morou no DF, assim como Odete Ernesto Dias, Neuza França e Vera de Castro, entre outros mestres do gênero. ;Apesar disso, o brasiliense não herdou a cultura boêmia dos cariocas. Aqui não se vê rodas de samba e a galera se reunindo para ouvir o som uns dos outros como no Rio;, reclama o jovem.

Inspirações


A família, já deu para notar, é uma das grandes inspirações de Matheus. Ele cita mais duas: a religião e o Brasil. Ele compôs três cantos inspirados nesses temas. Um deles é uma homenagem ao livro Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, recheado de poemas regionalistas. Outro em é nome da irmã, Carol Donato, chamado Canto da madrugada. E o terceiro ; O canto de vida eterna ; é uma declaração de devoção e adoração a Deus, inspirado no capítulo 65 do livro bíblico de Isaías. ;Minhas canções sempre têm esse viés de não ser música pela música, de ser arte pela arte. Tenho um propósito nas minhas composições;, sustenta.

Certo das ideias e do estilo próprios, Matheus garante que não haverá só chorinho no primeiro disco. Tendo como alvo a audiência mais jovem, a proposta do músico é eletrizar o público com canções dançantes e agitadas. ;É muito difícil, sendo tão jovem, terminar um show e alguém dizer: ;Quando for tocar de novo, me avisa para eu trazer meu avô?;, brinca o músico.


QUADRO

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* Estagiária sob supervisão de Leonardo Meireles

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