Com um recorde de candidaturas ao Palácio do Buriti ; 11 no total ;, a corrida pela sucessão deve ser a mais acirrada desde a conquista da autonomia política pela capital federal. Pesquisa publicada ontem pelo Correio mostrou que quatro postulantes ao GDF aparecem tecnicamente empatados na disputa: Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (PSD). Com o início da campanha, os próximos 43 dias serão de peregrinação pelas cidades e corpo a corpo com o eleitorado. Sem grandes lideranças, todos acreditam reunir condições de chegar ao segundo turno.
[SAIBAMAIS]Na dianteira, com 12,3% das intenções de voto, Rodrigo Rollemberg aposta que, ao participar de debates e percorrer o Distrito Federal, com a contextualização das ações do governo, conquistará uma parcela maior do eleitorado. ;As pessoas poderão comparar trajetórias, companhias e realizações dos candidatos. Sei como peguei Brasília, o que fizemos e o que temos capacidade de fazer;, afirma o chefe do Buriti, da coligação ;Brasília de Mãos Limpas;.
Na visão de Eliana Pedrosa, segunda colocada, com 12,1%, os resultados mostram que, de fato, a eleição deste ano será disputada. ;Os números estão postos e evidenciam que esta será uma campanha muito acirrada;, disse. Na visão dela, os percentuais ainda devem variar muito durante o processo eleitoral. ;Eu acredito que, à medida que a gente tiver a oportunidade de mostrar as nossas ideias, as coisas começarão a clarear na cabeça do eleitor;, avalia.
Com 8,5% das intenções de voto, o deputado federal Rogério Rosso alega que a quantidade de candidatos com índices semelhantes ao do governador demonstra que ;a população está insatisfeita com a gestão;. ;Mesmo aqueles que largaram com percentuais inferiores têm chances de chegar ao segundo turno. O desejo de mudança ficou evidente. Nos próximos dias, vamos investir em uma campanha de porta em porta para crescer;, pontuou o parlamentar, que se licenciou do mandato para conduzir a campanha. Apadrinhado político de Joaquim Roriz, o ex-governador ganhou destaque ao presidir, em 2016, a comissão especial que analisou o pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) e ao concorrer à Presidência da Câmara dos Deputados.
Empatado tecnicamente com Rosso, o deputado federal e líder da bancada da bala, Alberto Fraga, tem o apoio de 8,4% dos entrevistados. Ao Correio, o parlamentar disse esperar um expressivo crescimento nos próximos 43 dias, ;por ser o único candidato que fez oposição ferrenha a Rollemberg desde o início do mandato;. ;Rosso, por exemplo, ajudou a eleger o governador e, na última hora, mudou de barco;, alfineta, sobre o fato de o PSD integrar a coligação que elegeu o chefe do Buriti em 2014. E complementa: ;Na pesquisa espontânea (sem indicação de concorrentes), que é a mais difícil, fiquei na segunda colocação. Agora, é hora de ir para as ruas. É uma eleição pulverizada, com muita gente da base da direita; por isso, precisamos investir ainda mais no corpo a corpo;.
Segundo pelotão
Candidato pela primeira vez, Alexandre Guerra (Novo), comemorou a quinta colocação, com 3,8% das intenções de voto. ;Achei fantástico o resultado porque, entre as pessoas que me conhecem (9,1%), mais de 40% dizem que votarão em mim (3,8%). Vejo que estamos no caminho certo ao defender o fim da velha política;, destaca.
Na sexta colocação, o ex-presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) e do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya (PT) atribui o percentual de 3% das intenções de voto ao bom trânsito nos meios acadêmico e profissional. ;O desafio, agora, é me tornar conhecido pelo grande público;, resume o também estreante em eleições. ;Mas saber que, dos 6% que me conhecem, metade votaria em mim é alentador;, completa. Com o codinome Miragaya do PT, o economista espera conquistar o eleitorado do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. ;Muitos não sabem que somos do mesmo partido. A ideia é levar isso para as cidades afastadas do centro, onde ele tem maior capilaridade;, adianta.
Professora da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Fátima Sousa (PSol), que angariou 2,2% do apoio dos eleitores ouvidos, frisou que o cenário atípico na capital deixou o jogo mais equilibrado, apesar da indefinição. ;Na direita, estão empatados na margem de 10%. Entre os estreantes, há percentuais próximos. Os outros, deixamos para trás. Não fizemos uma pré-campanha incisiva, mas, agora, os nossos militantes vão para as ruas defender o plano de governo com unhas e dentes. Para quem nunca concorreu, foi uma boa estreia. Atribuo o índice à minha atuação na área acadêmica e ao partido;, acredita.
Com 1,8% das intenções de voto, o general Paulo Chagas (PRP) entende que o desafio dos candidatos que estão distantes da liderança na pesquisa será se apresentar à população durante a campanha. ;Os quatro primeiros são representantes da velha política, pessoas comprometidas com o mecanismo. Nós, que nos colocamos como nova política, temos de superar a dificuldade de nos apresentar mais;, diz o militar da reserva. Ele aposta no apoio do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) para crescer nas intenções de voto. ;O que falta é mostrar para o eleitorado que eu sou o candidato dele;, ressalta.
Foco
Penúltimo do quadro, com o apoio de 0,5% do eleitorado, o professor da rede pública Guillen (PSTU), que concorre a um cargo eletivo pela quarta vez, afirmou que apostará na peregrinação pelo DF para crescer. Mesmo assim, lamentou o modelo da campanha eleitoral, o qual classificou como ;antidemocrático;. ;É um desafio muito grande. Ficaremos de fora de todos os debates. O Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e o Fundo Partidário beneficiam os grandes. Na tevê e no rádio, teremos apenas cinco segundos por bloco;, lembra.
Na lanterna, Renan Rosa (PCO) acredita que o baixo índice (0,4%) na primeira pesquisa é natural. ;A gente ainda não é conhecido e começou agora a se apresentar. Não tenho dúvidas de que vamos crescer ao longo da campanha, que é focada na defesa da candidatura e da liberdade de Lula;, aposta. O Correio entrou em contato com o advogado Ibaneis Rocha, candidato do MDB ao GDF, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Confiança
O levantamento do Instituto Opinião Política foi realizado entre 10 e 13 de agosto, com 1.231 entrevistas. Ele está registrado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) com o número DF-03100/2018. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro, de 3%.
Luta pelo voto
11
Total de candidatos na corrida ao Palácio do Buriti
6
Concorrentes ao GDF que testam as urnas pela primeira vez
2.084.357
Eleitores aptos a votar no Distrito Federal
205.773
Total de filiados a partidos políticos na capital
Parte do eleitorado indeciso
Professor de ciência política e especialista em políticas públicas pela Universidade de Brasília (UnB), Emerson Masullo avalia que o empate técnico entre os quatro primeiros candidatos, nesse início de campanha, é positivo para a sociedade brasiliense. ;Nunca tivemos uma eleição assim, com quatro nomes empatados tecnicamente no começo da campanha. Não temos favorito, e isso deixa todos fora da zona de conforto. Em uma disputa acirrada, os candidatos terão de mostrar uma pauta propositiva e executável para poder convencer o eleitor;, comenta.
A divisão do grupo ligado ao ex-governador Joaquim Roriz é um dos destaques para o cientista político e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Creomar Souza. ;Sem a figura unificadora do Roriz, virou uma corrida de cada um por si com Rosso, Eliana Pedrosa e Fraga competindo. O grande beneficiário disso, no primeiro turno, é Rollemberg;, analisa. Para ele, uma candidatura unificada dos ex-aliados conquistaria a vitória ainda no primeiro turno.
Ainda assim, Creomar entende que o governador terá os níveis de rejeição como grande obstáculo na campanha. O nome de Rollemberg é rechaçado por 69,1% dos entrevistados. ;É o grande desafio dele. Resta saber se ele vai encontrar um tom narrativo para as pessoas acreditarem que a continuação do atual governo é o melhor para a cidade;, ressalta.
Para o cientista político da UnB Paulo Kramer, o resultado mostra um eleitorado dividido e que ainda procura se situar no cenário político atual. ;Está aí também a tendência, que é nacional, do fortalecimento do não voto, dos eleitores desiludidos, descrentes, que optam por não votar em ninguém ou votar contra tudo isso que está aí;, observa. A pesquisa mostra que 12,8% não sabem quem escolher para o governo e 32,9% dos eleitores declararam que vão votar nulo ou em branco.
"Sem a figura unificadora do (Joaquim) Roriz, virou uma corrida de cada um por si;
Creomar Souza, professor da Universidade Católica de Brasília
"Está aí também a tendência, que é nacional, do fortalecimento do não voto, dos eleitores desiludidos, descrentes, que optam por não votar em ninguém;
Paulo Kramer, cientista político da UnB