Uma dessas histórias que misturam coleções e o amor entre gerações é a de Gilberto Bailão, 76 anos. Sócio-fundador da Associação Filatélica e Numismática de Brasília, ele coleciona moedas e cédulas antigas. Também reúne, com orgulho, mais de mil postais da capital. Perdeu a mulher quando os filhos, Marina Cavalini Bailão, 34, e Gilberto Cavalini Bailão, 33, tinham respectivamente, 7 e 6 anos, e os educou praticamente sozinho. O amor de mais de 60 anos pela história da moeda, porém, só passou para o filho mais novo recentemente. Há quatro anos, para ser mais preciso.
O filho explica como as coleções do pai passaram a fazer parte da história da família. ;Ele comprava coleções para mim e para minha irmã, quando éramos crianças. Acabávamos guardando. Não entendíamos o valor sentimental e histórico daqueles objetos;, recorda Gilberto Cavalini.
;Sempre deixei os dois à vontade. Nunca forcei. Mas, meu filho começou a me ajudar com a loja e tomou gosto. Eu me sinto feliz;, afirma Gilberto Bailão. A dupla leva a sério o trabalho. As moedas e cédulas, eles ensinam, ajudam a contar a história do Brasil e do mundo, e falam tanto de economia quanto de política.
Algumas vezes, para buscar itens da coleção, o pai teve que ir longe. Esteve em Portugal e na Itália, por exemplo, para pesquisar, comprar e trocar cédulas. ;(O colecionismo) é uma coisa que traz conhecimento para as pessoas. A gente fica satisfeito de ter alguém para acompanhar;, assume Bailão. O filho emenda: ;Eu me orgulho de seguir os passos do meu pai. Isso faz com que o dia dos pais se torne uma data ainda mais importante;, declara o filho.
Formação de caráter
Outra coleção que conta histórias é a de carros antigos. A do servidor público José Maria de Andrade, 58, começou em 1990, com um Aerowillys de 1965. O número de veículos cresceu com o tempo e, hoje, soma 12 automóveis, 11 nacionais e um importado, com marcas clássicas entre os itens, como Karmanguia, Puma, Fusca e Bianco. ;É uma coleção que remete a minha infância;, conta o engenheiro Lucas Mindêllo de Andrade, 33, filho de José Maria. ;Saíamos, eu e minha irmã, Adriana. Íamos de carro com vários amigos para o Zoológico de Brasília, com meu pai dirigindo, e isso movimentava a infância, trazia uma sensação de pertencimento;, recorda.
;Meus filhos estão ligados à coleção desde muito novos. Quando minha filha fez 18, a presenteei com um Puma rosa, e, desde que meu filho tinha 15 anos, somos parceiros em ralis de carros antigos. Disputamos 12 provas e vencemos cinco. Ele é tão entusiasmado quanto eu. É uma relação espetacular e me traz muito orgulho. Queremos que os filhos sejam nosso espelho no que temos de melhor;, emociona-se José Maria. ;Um carro antigo é um bem muito sensível, e precisamos respeitá-lo. Você olha e tem um parafusinho que tem 50 anos e nunca foi trocado. É preciso cuidado. É uma coisa que levo para tudo na vida, e que veio dessa relação do meu pai com os carros, cuidar dos outros e entender que possuímos limites que devem ser respeitados;, explica o filho.
Herói dos quadrinhos
Sagas clássicas das editoras Marvel e DC Comics e encadernados completos de heróis da era de ouro como Flash Gordon e Fantasma estão entre os títulos mais caros do colecionador de revistas em quadrinho, o pediatra André Gonçalves de Araújo, 48. Ele busca os itens mais raros em feiras, sites da internet e viaja com o filho, André Marchi Araújo, 11, para eventos especializados como a Comic-Con XP (CCXP), em São Paulo, por exemplo. Possuem cerca de 2,5 mil exemplares e, juntos, eles também começaram a colecionar action figures de personagens da cultura pop.
As viagens e feiras estão entre as atrações prediletas do garoto. Mas o que ele gosta mesmo é de revirar a coleção paterna e segreda: ;Quando meu pai sai, eu dou uma de espião. Mexo nos objetos para aprender mais. É uma coleção bem organizada, sempre deixo do jeito que estava. Meu pai é inteligente, carinhoso e muito cuidadoso comigo. Compartilhamos muitas histórias por conta das revistinhas. As viagens ficam na memória e as feiras também;, revela o menino.
Graças ao hobby do pai, André vem se interessando cada vez mais por leitura. ;Eu não coleciono muito, mas meu pai tem os quadrinhos e também sempre compra livros. O (livro) que mais gosto é O conde de Monte Cristo; (Alexandre Dumas), diz. O médico pediatra fala com satisfação da relação do filho com a coleção de quadrinhos. ;Ele gosta de desenhar e fica impressionado com o impacto visual de algumas imagens. Viajamos para a CCXP no ano passado e ele também curtiu muito. Principalmente os pôsteres. É um momento muito nosso, em que ficamos juntos quase que o tempo todo;, orgulha-se.
Para saber mais
Bonecos ou peças de arte?
Heróis e outros personagens da cultura pop povoam o universo dos action figures (figuras de ação, em tradução livre). Podem ser figuras articuladas, ou estatuetas. Para os colecionadores, os exemplares são verdadeiras peças de arte, tratadas com esmero e com lugar especial na estante ou cristaleira. Existem edições limitadas e graus de detalhamento diferentes, por exemplo. Mas ainda há quem considere as peças como mero brinquedo.
Cédulas, moedas e selos
O termo ;numismática; se refere tanto ao estudo histórico e artístico de cédulas e moedas quanto ao hábito de colecioná-los. Cada peça guarda em si informações valiosas sobre a época que foi lançada. Os comerciantes e colecionadores avaliam ainda o grau de conservação do objeto na hora da compra, venda ou troca. Já a filatelia está relacionada ao colecionismo de selos postais. Nesse caso, existem aficionados com coleções amplas ou com predileção por temas específicos.