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Almeyron e Fernandinho: dupla mostra que música une gerações

Pai e filho, os dois fazem sucesso nas noites de Brasília, mas passaram apertos até conseguir que a capital reconhecesse o talento deles

Jéssica Andrade*
postado em 03/08/2018 06:00
A família saiu de Gurupi, no Tocantins, porque o pai, Almeyron (D), apostou no talento do filho Fernandinho
Almeyron Rodrigues tem 49 anos. Fernando, 22. Eles são pai e filho. A diferença de idade, que poderia resultar em uma guerra de gerações, não é motivo para distância. Eles descobriram algo que os uniu e faz a alegria do público: a música. Afinados na vida e no palco, eles trazem no repertório clássicos da MPB, bossa-nova, samba, pop rock e chorinho. A dupla veio do interior de Tocantins para fazer sucesso no Entorno e também no Distrito Federal. O talento, ao que tudo indica, é hereditário, mas foi por causa do garoto que a família se mudou perto da capital federal.
Fernandinho começou a tocar os 6 anos de idade. Assistindo às apresentações do pai e dos tios, que também são instrumentistas, ele demonstrou interesse pela música. Ganhou um cavaquinho de plástico, de onde extraiu as primeiras notas. ;Como eu era criança, me identifiquei com o cavaquinho, que também era pequenininho. Quando explodiu aquela música do Harmonia do Samba ; Mandei meu cavaco chorar ;, eu simplesmente peguei o cavaquinho de verdade do meu pai e comecei a tocá-lo sozinho, sem nunca antes ter tirado nada;, destaca o jovem.

A partir de então, Almeyron passou a investir no talento natural do filho. Não só o ensinou tudo o que sabia, como também o inscreveu em diversos programas de talentos. No primeiro, do apresentador Gilberto Barros, Fernandinho tinha 8 anos e levou o primeiro lugar. Em 2006, com o cavaquinho inseparável, abriu o show da banda Araketu, no carnaval de Salvador. Evento, aliás, que o rapaz considera o mais importante da carreira. No mesmo ano, ele participou do Show de Talentos da Xuxa, no qual ganhou o prêmio de melhor cavaquinista. Também se apresentou no quadro ;De olho nele;, do Domingão do Faustão, na Rede Globo. Em 2008, foi convidado a se apresentar novamente no palco de Fausto Silva.

Diante de tamanho sucesso, familiares e vizinhos convenceram Almeyron que Gurupi, uma pequena cidade do interior de Tocantins, não bastava o talento de Fernando. A família, então, decidiu se mudar para perto de um grande centro, para que o menino tivesse mais oportunidades. Escolheram, então, Valparaíso. A mãe, Maria Francisca dos Santos, de 42 anos, confessa: ;Achei uma loucura no início, mas acabei apoiando;. Ela estava prestes a concluir a faculdade de letras. Então, eles esperaram o término do curso e vieram todos: pai, mãe, o rapaz e a irmã mais nova, Amanda Rodrigues, 20.

Início complicado

O início da vida no Centro-Oeste não foi fácil. Dois meses após a mudança, a família pensou seriamente em voltar. A recém-formada professora demorou para conseguir um emprego. O pai tocava sozinho nas noites de Brasília, já que Fernandinho ainda era menor de idade. Almeyron tinha apenas uma moto e não conseguia levar todos os instrumentos necessários para os shows. Parte do cachê seguia direto para o aluguel do som e de outros acessórios. Quando, finalmente, conseguiu comprar um carro, teve o veículo furtado. Comprou outro automóvel, mas que acabou destruído depois de um acidente, quando voltava da assinatura do contrato de uma apresentação que Fernandinho faria em Tocantins.
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Nada disso fez com que a família desistisse dos sonhos. ;Demorou, mas conquistamos um público fiel na área nobre da capital (lagos Sul e Norte). Hoje, tocamos juntos de quinta a domingo;, conta Almeyron. Fernandinho também toca bandolim, instrumento de cordas que, com o cavaquinho, forma o duo básico para se tocar choro e bossa-nova. ;Isso nos trouxe músicas mais clássicas e um público mais fino;, aponta Rodrigues pai. A habilidade do rapaz com os instrumentos é de emocionar os espectadores. E eles aproveitam a união vinda da música para esquecer o passado difícil e seguir impressionando o público por onde quer que passam.
* Estagiária sob a supervisão de Leonardo Meireles

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