Jornal Correio Braziliense

Cidades

Associação de Ceilândia passa a abrigar Comitê de Vítimas de Violência

Organização social em Ceilândia amplia assistência à comunidade e abraça o Comitê Nacional de Vítimas de Violência (Convive), em parceria que promete acolher e transformar vidas no Sol Nascente, uma das regiões mais carentes do Distrito Federal

Em galpão instalado em uma das áreas mais pobres do Distrito Federal, no Setor O, em Ceilândia, uma associação de moradores transforma o lema ;solidariedade é atitude; em realidade. Criada com o objetivo de ajudar o próximo e doar tempo e carinho aos que mais precisam, a Ação Social Caminheiros de Pádua (Ascap) transforma, aos poucos, a vida dos moradores da região.

No último sábado, pelo menos cinco voluntários da entidade, braço social do Centro Espírita Caminheiros de Santo Antônio de Pádua (Cecsap), uma casa umbandista fundada há 47 anos, foram até um acampamento de moradores de rua localizado atrás do Taguatinga Shopping, para distribuir roupas, cobertores, brinquedos e sopa quentinha e nutritiva àqueles que estavam desprotegidos, vulneráveis ao frio e carentes de atenção e de cuidado.

A ação é chamada de Caminhada Solidária, um dos projetos da associação. O objetivo, daqui para frente, é ofertar ainda mais serviços à comunidade, preservando o foco original: crianças, jovens e mulheres. ;Agora, nós queremos também oferecer cursos para que as famílias conquistem sua autonomia. Damos o peixe e damos também a vara para que eles pesquem;, explica a presidente da Ascap, Andrea Chaves Bequiman.

Sem financiamento público, eles doam sistematicamente cestas básicas a 10 famílias moradoras do Sol Nascente, resultado de doações de instituições fraternas, como a Igreja Messiânica da 316 Norte; o escritório Miranda Contabilidade, em Taguatinga; e a Feira dos Produtores de Ceilândia, por meio do comerciante de laranjas Sebastião Luz.

Este ano, a campanha de agasalhos e de cobertores contou com a generosidade da Associação dos Servidores do Banco do Brasil; do Movimento Maria Cláudia pela Paz; do grupo Mulheres de Brasília. Essas contribuições permitiram a entrega de mais de uma centena de cobertores às famílias do Sol Nascente e também àquelas que vivem em situação de rua.

O voluntariado, expressão de solidariedade de integrantes da comunidade, é uma das forças que movem a Ascap e permitem que muitas outras atividades sejam realizadas. Cerca de 20 voluntários se revezam para garantir o funcionamento da entidade de segunda a sábado. No último fim de semana, enquanto, na área interna, um grupo de crianças aprendia a Língua Brasileira de Sinais (Libras) com Michel Platini ; tradutor e instrutor da língua e presidente do Conselho de Direitos Humanos do DF ;, na área externa, outros aprendiam a fazer caixinhas de papel com a estudante Sumara Canzi, 29. ;Eu só estudava, por isso, resolvi fazer algo para ocupar o meu tempo, e nada como ajudar o outro;, afirma a voluntária, que vai de Águas Lindas até Ceilândia contribuir com o trabalho da associação.

A iniciativa dá tão certo que, aos poucos, os papéis de voluntários e beneficiados se misturam. É o caso do artista plástico Paulo Barros, 33. A mãe dele conhecia a Ascap e o rapaz tinha o costume de frequentar o local. Ele resolveu, então, levar a mulher e a filha e passou a receber cestas básicas. Talentoso, começará também a compartilhar com a comunidade a habilidade para o desenho. Até o próximo fim de semana, a associação espera arrecadar o material necessário para que ele dê início ao curso e formar outros artistas.

Uma das formações mais esperadas é a de empreendedorismo. A mulher de Paulo, Antônia Borges, 42, está inscrita e tem experiência em comércio. Quando moravam em Taguatinga, era ambulante e vendia açaí, mas precisou se desfazer do carrinho na mudança para o Sol Nascente e, agora, procura um trabalho. ;Sinto muita falta. E trabalhar para si é muito bom;, lembra. O sábado era um dia em que eles não faziam nada. Ficavam em casa. Agora, têm um lugar onde podem aprender, trocar experiências e até ensinar.

Ampliação

No início deste ano, o Comitê Nacional de Vítimas de Violência (Convive), fundado em meados dos anos 1990 pela jornalista Valéria de Velasco, passou a funcionar na Ascap. Valéria percebeu que, assim, a entidade estaria próxima das pessoas que mais precisam de ajuda. Firmado no tripé assistência jurídica, social e psicológica, o Convive conta com voluntários para as três áreas, mas não tem um local com privacidade suficiente para que as vítimas se sintam seguras para conversar.

Coordenador de atividades do comitê, Marcelo Fernandes explica que o projeto contará também com parcerias de delegacias. ;Os agentes contam que as vítimas, muitas vezes, procuram apoio emocional neles, e essa é uma demanda que eles não têm como atender;, detalha.

Além de uma reforma para garantir atendimento de qualidade às pessoas, a Ascap busca financiamento para ampliar o espaço. Durante a seca, é possível oferecer aulas e oficinas dentro e fora do galpão, mas, com a proximidade do período chuvoso, a quantidade de aulas precisará ser reduzida. Os voluntários fazem questão de ressaltar que, embora seja o braço de uma casa umbandista, a entidade é laica. ;Temos voluntários evangélicos, ateus, agnósticos. O que importa é o que têm no coração;, afirma a voluntária Rosali Terezinha Neuhauser.

Ação Social Caminheiros de Pádua (Ascap)

Funcionamento
; Segunda e sexta-feira, das 9h às 13h
; Terça, quarta e quinta-feira, das 14h às 18h
; Sábado, das 9h às 18h

Contato:

; WhatsApp: 9289-8079
; E-mail: ascap.cesap@gmail.com
; Site: ascapbsb.org