Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projeto alia conhecimento e ciência na produção de mel vendido no DF

Projeto alia conhecimento milenar da produção de mel de abelha ao científico para viabilizar a sobrevivência de espécies nativas e, ao mesmo tempo, impulsionar a agricultura familiar, garantindo a qualidade da iguaria vendida no Distrito Federal

O avanço das cidades sobre o cerrado, o desmatamento, o cultivo agrário em larga escala e a coleta predatória de mel são as principais ameaças às abelhas. Entre os espécimes pouco conhecidos da população, o uruçu do planalto, por exemplo, corre risco de extinção. São insetos sem ferrão e fundamentais para o meio ambiente. Polinizam flores nativas, aumentam a diversidade genética da vegetação, melhoram a qualidade de plantações e produzem mel de alto valor agregado. Pensando em trazer de volta o equilíbrio ambiental, meliponicultores e pesquisadores criaram um programa de reprodução com as espécies típicas do nosso bioma.

Para garantir o sucesso, a ação mescla responsabilidade ambiental, ciência e agricultura familiar. Produtores criam os espécimes em caixotes, como é tradicional na apicultura e na meliponicultura. Estudantes do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e integrantes da Associação dos Meliponicultores do DF (AMe) criaram recipientes com vedação e temperatura adequada para dobrar o tamanho da colmeia duas vezes mais rápido. O equipamento está em fase de testes, mas já comprovou a eficácia. Enquanto em um caixote comum a colmeia dobra de tamanho uma vez por mês, com o equipamento correto, alimentação disponível e menos necessidade de cera, o abelheiro dobra o tamanho duas vezes no mesmo período.

Presidente da Associação dos Meliponicultores do DF, Luiz Lustosa Vieira explica que, para garantir a sobrevivência das abelhas, além do emprego de tecnologias, é preciso fomentar a produção de mel, mesmo que para consumo próprio e, para isso, eles contam com o voluntariado de moradores do Córrego do Urubu, área em que o projeto está sendo desenvolvido. ;Os produtores locais que não têm o título de propriedade da terra e que auxiliarem na reprodução dos espécimes poderão se cadastrar como produtores de mel e, dessa forma, retirar o título de propriedade da terra;, explica. Quem participar do projeto receberá treinamento.

Voluntários que pretendem produzir mel poderão comprar as colmeias por um preço muito abaixo do de mercado. Enquanto uma caixa pode ser vendida por até R$ 700, pequenos produtores pagarão R$ 150, com a contrapartida de devolver novas caixas quando as colmeias dobrarem de tamanho. Assim, poderão manter a produção própria e, ao mesmo tempo, garantir a expansão do projeto.

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Historicamente esquecidas


O projeto está em fase inicial, com a multiplicação de colmeias na Chácara Delfim, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no Córrego do Urubu. O local também será aberto à população para visitas e cursos. Lustosa ressalta que falta conhecimento sobre as abelhas nativas do cerrado. ;Quando os portugueses chegaram ao Brasil, essas abelhas já estavam aqui. Só que não se tomou conhecimento delas. Dom João VI trouxe as abelhas europeias para a região, para produzir mel para a família real, desprezando as espécies nativas;, conta Lustosa.

Um dos motivos do descaso com os espécimes locais era a produção de mel. Espécimes como o jataí e a mandaçaia produzem, respectivamente, 1kg e 3kg de mel por ano. A uruçu, de 5kg a 6kg. ;Você acaba precisando de 50 colmeias para ter uma produção mínima. A abelha europeia produz 30kg. Agora, o mel da abelha europeia é R$ 30 o quilo e o de jataí, R$ 300. Para se ter uma ideia, existe um estudo que lista apenas cinco tipos de abelhas nativas na região. Sabemos que são mais de 30 espécimes. As pessoas precisam conhecer. Temos que preservá-las. Estamos falando de um animal silvestre. Sem abelhas, não temos polinização e, aí, morre o planeta;, defende.

Anote

Moradores da Serrinha do Paranoá interessados em participar do projeto de procriação das abelhas nativas podem entrar em contato com a Associação dos Meliponicultores do DF (AMe) pelos telefones do presidente, Luiz Lustosa (98133-9110) ou pelo e-mail da instituição: amedf2016@gmail.com.

Abelhas no Brasil

Sem ferrão

; Arapuá ; de nome científico Trigona spinipes, tem cerca de 7 milímetros e é negro-reluzente;

; Borá ; a Tetragona clavipes tem corpo alongado marrom-escuro com asas longas;

; Jataí ; catalogada como Tetragonisca angustícala, é uma das mais populares do cerrado, é mansa, cor amarelo-ouro, com corbículas pretas;

; Uruçu ; conhecida cientificamente como Melipona rufiventris, tem o corpo coberto de pelo com coloração que varia do negro ao ferrugíneo e amarelo;

; Mandaçaia ; a Quadrifasciata anthidioidis chega a 11mm com cabeça e tórax pretos decorados com faixas amarelas;

; Limão ; a Lestrimelitta limão tem por hábito saquear outras colmeias. Tem 7mm, corpo alongado e cor pardo-escura;

Com ferrão

; Abelha europeia ; a Apis mellífera é a mais popular das abelhas do Brasil. Mais conhecida até que os espécimes nativos. Tem um corpo negro com listras amarelas;

; Abelha africana ; De nome científico Apis mellífera scutellata, é proveniente do leste da África e consome o próprio mel rapidamente, acelerando a produção de crias. É agressiva e migratória e cruzou com a europeia gerando um híbrido que é a abelha africanizada;

; Abelha caucasiana ; também chamada de Apis mellifera caucasica, é proveniente do sul da Rússia, é mansa, tem boa produtividade de mel e se adapta facilmente a climas diferentes.