A produção cinematográfica baseada na história de Maria Luiza da Silva, cabo aposentada pela Força Aérea Brasileira devido à sua transexualidade, teve as primeiras cenas reveladas nesta sexta-feira (20/7). O documentário De volta para o jardim, produzido pelo cineasta brasiliense Marcelo Díaz, relata a trajetória de Maria desde que assumiu a sua condição sexual, após 22 anos como militar.
"A mensagem que queremos passar é a de que, independentemente da opção de gênero, as pessoas se sintam livres para expressar as suas vontades no mundo, sem receio de serem julgadas ou excluídas", disse Marcelo. "O caso da Maria é emblemático. Pode fazer com que os transexuais e outras minorias lutem para que suas vozes sejam respeitadas", acrescentou.
Segundo o cineasta, apesar de produzir o documentário ter sido um desafio enorme, participar do longa-metragem foi transformador. "A Maria é uma pessoa comum e simples e que, injustiçadamente, foi muito humilhada. Nós a convidamos a reviver isso, e ela assimilou de uma maneira bastante positiva. Espero que esse documentário chegue às instâncias jurídicas, e que o caso dela seja revisto. A Maria merece o desfecho que sempre quis: voltar à Aeronáutica", frisou Marcelo.
De volta para o jardim tem 80 minutos de duração. A produção será exibida neste mês no DocMontevidéu, no Uruguai, evento voltado para produções cinematográficas da América Latina. Confira o primeiro teaser do longa-metragem neste link.
Entenda o caso
Maria Luiza nasceu José Carlos, em Ceres (GO), mas nunca se reconheceu homem. Isso lhe trouxe enormes transtornos na carreira militar. Em 2000, quando era cabo da Aeronáutica, veio o parecer do Alto Comando, que a diagnosticou como transexual, "incapaz, definitivamente, para o serviço militar", mas ;não inválido, incapacitado total ou permanentemente para qualquer trabalho;.
[SAIBAMAIS]À época, ela, com o nome masculino, servia na Base Aérea de Brasília, onde era mecânico de aeronaves. A decisão do comando culminou na aposentadoria (reforma, na linguagem militar) a contragosto, com metade do salário (o soldo). Acuada, sob ameaça para não tornar a decisão pública, pediu ajuda ao Ministério Público do DF.
O promotor Diaulas Ribeiro, da Promotoria de Defesa dos Usuários de Saúde (Pró-Vida), comprou a briga. Em meio à guerra judicial, em 2005, ela se submeteu à cirurgia de mudança de sexo. Dois anos depois, a juíza Lília Simone Rodrigues da Costa Viera, da 1; Vara de Família do Tribunal de Justiça do DF, deu a sentença que reconheceu o direito de Maria Luiza ; nome escolhido antes da cirurgia ; pertencer ao sexo feminino.
O juiz José Batista Gonçalves da Silva, da Vara de Registros Públicos do DF, acolheu a manifestação do MPDFT e determinou a alteração do nome e a averbação à margem do assento de nascimento. Maria Luiza tinha uma nova certidão.
Em 2010, outra grande conquista. O juiz Hamilton de Sá Dantas, da 21; Vara Federal, mandou a Aeronáutica reintegrar Maria Luiza. Mesmo que na reserva, com soldo igual aos militares nunca reformados. A cabo, porém, não voltou à ativa, em função da idade. Completou 49 anos. O tempo de serviço, 30 anos adotados nas Forças Armadas, já havia transcorrido.