Ana Viriato, Helena Mader
postado em 13/07/2018 06:00
O apoio do PDT à reeleição do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) depende de tratativas nacionais conduzidas em vários estados estratégicos. O objetivo das negociações é tentar convencer o PSB a embarcar na candidatura de Ciro Gomes (PDT) à Presidência da República. O fechamento de um acordo, entretanto, esbarra em intrincadas questões regionais. O Correio fez um levantamento da relação entre os dois partidos em unidades federativas considerados peças-chave para o fechamento da aliança. Nesse cenário, o Distrito Federal é relevante para os planos de Ciro. O PSB pode, ainda, optar pela neutralidade na disputa de outubro, liberando os diretórios regionais para coalizões mais convenientes. Se isso ocorrer, o PDT do DF manterá a candidatura de Peniel Pacheco ao GDF, e Rollemberg perderá o sonhado apoio da legenda, além do tempo de televisão dos pedetistas.
[SAIBAMAIS]A possibilidade de o PSB optar pela neutralidade em vez de declarar apoio a Ciro Gomes é a pior hipótese para o chefe do Palácio do Buriti. Os pedetistas de Brasília não querem apoiar a reeleição do governador, mas Rollemberg aposta em uma costura nacional, que imponha o apoio do PDT à sigla socialista no DF. ;Seria lamentável que um partido com a história de luta do PSB se omitisse no momento mais delicado da história do país. Ciro é uma homem preparado, conhece bem o Brasil;, declarou ontem Rollemberg, evidenciando o posicionamento contrário à neutralidade.
O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, é um dos principais articuladores da aliança entre os dois partidos. Apesar das dificuldades, ele aposta na solução dos conflitos regionais para que o PSB apoie a candidatura de Ciro Gomes. ;Em São Paulo, por exemplo, conversamos com o Márcio França (governador e candidato ao Palácio dos Bandeirantes). Ele tem um compromisso de lealdade com o Alckmin, mas pode ir para o Ciro Gomes, ou ainda fazer palanque duplo;, explica Lupi. ;Em alguns estados, há um afunilamento natural. Nesses casos, pode haver palanque duplo. Aí, ou vai nos dois, ou não vai em nenhum;, disse Lupi. Ele cita Amazonas, Amapá, Paraíba e DF como unidades da Federação com impasses (leia o quadro abaixo).
Em São Paulo, Márcio França perdeu o apoio do PP, que migrou para a candidatura de João Doria (PSDB). Diante da debandada, o suporte de legendas como o PDT e o PCdoB passou a ser essencial para o PSB paulista, e França acenou com a possibilidade de apoio a Ciro Gomes. Mas as tratativas em São Paulo ainda têm outra variável: o PT tenta conquistar o apoio do PSB e sinalizou com a possibilidade de retirar a candidatura de Luiz Marinho ao governo do estado em troca do apoio nacional do PSB.
Dificultador
Outro estado em que a relação está complicada é Pernambuco. A maior parte dos diretórios regionais do PSB prefere fechar acordo com o PDT, mas o pré-candidato à reeleição, Paulo Câmara, costura uma aliança com petistas. A ideia é que o partido retire o nome da vereadora Marília Arraes da disputa pelo governo, o que daria força aos planos regionais socialistas. Ontem, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, viajou ao estado para intensificar as articulações.
No encontro, Paulo Câmara garantiu que apoiaria a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, ainda que o PSB feche acordo com Ciro Gomes ou que petistas mantenham Arraes no páreo.
Em alguns locais, o acordo é apontado como impossível. No Amazonas, o presidente da Assembleia Legislativa, David Almeida (PSB), lançou a pré-candidatura ao governo estadual no mês passado. Amazonino Mendes (PDT) não abre mão de disputar o Executivo do Amazonas. A saída seria fazer um palanque neutro, no caso de uma eventual aliança entre PDT e PSB.
O deputado federal Júlio Delgado (PSB/MG), ex-líder do partido na Câmara dos Deputados, reconhece que o consenso está cada vez mais difícil na sigla. ;Há o assédio do PT ao PSB em Pernambuco e na Paraíba e, agora, surgiu a possibilidade de que isso ocorra em São Paulo também;, detalhou. Sobre a possibilidade de o PSB apoiar Ciro Gomes, Delgado diz que as chances diminuíram desde a semana passada. ;O fato de a data da reunião do diretório nacional ter sido alterada é um indicativo dessas dificuldades;, ressaltou Júlio. Para o parlamentar, o fato de o PDT ter lançado candidatura própria ao GDF é ruim para o acordo entre as siglas. ;Se ele não for retirada, é mais um dificultador;, avaliou.
O presidente do PDT no DF, Georges Michel, disse não acreditar que a sigla receberá imposições do comando nacional e apontou que, no Distrito Federal, ;o relacionamento com o PSB é praticamente zero;. ;Em Brasília, não apoiaremos Rollemberg. Tivemos uma reunião hoje (ontem) muito boa com Rede, PCdoB e PPL, na qual retomamos um diálogo antigo. Não fechamos acordo, mas a coligação daria sustentação à candidatura de Peniel em termos de lideranças, tempo de propaganda eleitoral e recursos. Além disso, fortaleceria a composição proporcional;, pontuou.
No Distrito Federal, a aliança entre o PDT e o PSB sem uma interferência nacional é difícil porque a bancada de deputados distritais pedetistas prefere se manter na oposição a Rollemberg. O presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle, sempre quis fechar uma aliança com o pré-candidato ao GDF pelo PR, Jofran Frejat.
O deputado Cláudio Abrantes (PDT) rompeu com o governo do DF para se solidarizar com as demandas salariais da Polícia Civil do DF, não atendidas. O distrital Reginaldo Veras (PDT) também é contra a parceria em torno da reeleição.
Alianças
O PSB busca apoio do PDT em oito unidades da Federação. Em outras duas, a aliança entre as siglas é descartada. No Acre, o acordo deve valer para as eleições proporcionais.
Acre
; PDT e PSB negociam a chapa proporcional de deputados federais, porque consideram que, unidos, têm condições de eleger um número maior de parlamentares. Em aspectos majoritários, os partidos apoiarão o ex-prefeito de Rio Branco Marcus Alexandre (PT)
Amapá
; O governador Waldez Góes (PDT) e o senador e ex-governador João Capiberibe (PSB) bateram na mesa e garantiram que não abrirão mão da candidatura ao Palácio do Setentrião. As duas siglas, portanto, descartaram uma aliança no estado
Amazonas
; O presidente da Assembleia Legislativa, David Almeida (PSB), lançou a pré-candidatura ao governo estadual no mês passado, e o governador tampão Amazonino Mendes (PDT), eleito em 2017, não abre mão de disputar o Executivo do Amazonas. Assim, o consenso é apontado como inviável pelos dois partidos. A saída será fazer um palanque neutro, no caso de uma aliança nacional entre PDT e PSB
Distrito Federal
; O PDT abandonou a base aliada do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) em outubro último e declarou independência. Para afastar a possibilidade de um eventual acordo com o socialista, os pedetistas lançaram, nesta semana, o nome do ex-distrital Peniel Pacheco ao Palácio do Buriti
Espírito Santo
; O ex-governador Renato Casagrande (PSB) busca o apoio do PDT. As executivas regionais das legendas têm um encontro marcado hoje para alinhar as negociações. No estado, o governador Paulo Hartung (MDB) desistiu de concorrer à reeleição e deixou o cenário embolado
Minas Gerais
; O PDT anunciou, no último mês, suporte à pré-candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB). O socialista, entretanto, também é cotado para ocupar o cargo de vice do presidenciável Ciro Gomes (PDT). Apesar da indefinição sobre as duas possibilidades, os partidos dão como certa a aliança pelo Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro
Pernambuco
; Enquanto a maior parte dos diretórios regionais do PSB prefere fechar acordo com o PDT, o pré-candidato à reeleição, Paulo Câmara (PSB), costura uma aliança com o PT. Ao socialista, os petistas, que detêm força no estado, prometeram retirar do páreo o nome da vereadora Marília Arraes. A condição daria fôlego à Câmara na disputa.
Paraíba
; No comando do estado, o governador Ricardo Coutinho (PSB) e a vice Lígia Feliciano (PDT) romperam neste ano. A pedetista, então, ganhou o aval do partido para disputar o Palácio da Redenção, e o socialista indicou apoio ao correligionário João Azevedo. Para retomar a aliança, o PDT teria de demover Lígia da intenção de concorrer. O apoio do PT é outra opção para o PSB
São Paulo
; Com a perda do PP para o opositor João Dória, o governador Márcio França (PSB) intensificou as conversas com o PDT. A aliança reforçaria os caixas da campanha e o tempo de propaganda na tevê e no rádio. Ao PDT, o apoio garantiria um palanque ao presidenciável Ciro Gomes no maior colégio eleitoral do Brasil
Sergipe
; O deputado federal Valadares Filho (PSB) busca o apoio do PDT, presidido por Fábio Henrique. Os pedetistas decidiram que não permanecerão na base do governador Belivaldo Chagas (PSD) e mantêm conversas, ainda, com os pré-candidatos com Eduardo Amorim (PSDB), André Moura (PSC)