"Mãe, é rapidinho, eu prometo. Eu volto logo. Pode me esperar." Essas são as últimas palavras que a dona de casa Danielle Bezerra, 35 anos, ouviu de seu filho, Gabryel. Era perto de meia-noite, na quarta-feira, 4 de julho, e o menino de 14 anos havia recebido um telefonema convidando-o para ir a uma festa perto de casa, na QR 116, de Santa Maria.
O garoto, no entanto, não conseguiria cumprir a promessa. Horas mais tarde, na madrugada de quinta-feira (5/7), ele seria brutalmente assassinado a pedradas, em um crime que chocou todo o Distrito Federal. "Ainda estou esperando meu filho", acrescenta a mãe, dona de casa.
No mesmo dia, agentes da 33; Delegacia de Polícia chegaram ao suspeito do assassinato de Gabryel Bezerra Pereira. Trata-se de outro garoto, de 13 anos. Câmeras de segurança de uma farmácia registraram o crime e ajudaram na identificação. O adolescente confessou ser o autor e foi apreendido, ficando à disposição da Justiça. A história, no entanto, continua machucando e assustando os pais de Gabryel.
Suspeito aguarda audiência
A Polícia Civil investiga o envolvimento de um outro adolescente no crime, o que faz com que Danielle e o marido, o auxiliar de serviços gerais José Ribamar Pereira, 39 anos, se sintam ameaçados. Eles também temem que não seja feita justiça. "O flagrante já passou. Não sabemos nem se ele vai ficar preso. A mãe dele está bem, enquanto eu estou aqui sofrendo a perda do meu menino", diz Danielle.
O adolescente apreendido foi levado para o Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), onde aguarda audiência de apresentação marcada para 23 de julho. A Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) afirma, por meio de nota, que um juiz vai decidir se mantém a internação provisória, se vai liberá-lo ou se concede remissão judicial com aplicação de medida socioeducativa em liberdade.
Caso o juiz decida pela manutenção da internação provisória, outra audiência será marcada, e então poderá ser aplicada medida socioeducativa ao adolescente conforme previsto no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Amigos e familiares estão organizando uma passeata pela paz no próximo domingo, a partir das 8h. "A gente só quer que seja feita justiça, que os criminosos paguem pelo que fizeram", pede José Ribamar. Ele conta que vários amigos do filho vão participar da caminhada.
Sem chance de defesa
A área onde o crime aconteceu é apontada por moradores como perigosa. O empresário José Aires, 78 anos, dono de uma loja a poucos metros de onde Gabryel foi assassinado, conta que, ao longo dos 29 anos que trabalha na área, foi furtado 43 vezes. "Aqui tem muita briga de gangue. Nesse trecho, não tem nenhuma loja que não tenha sido arrombada. Um colega meu foi assassinado dentro do comércio dele alguns anos atrás", reclama José. Uma moradora que não quis se identificar disse que ali é comum acontecerem furtos e assaltos, principalmente de celular. "Santa Maria toda é perigosa. Essa aqui ainda é das quadras mais tranquilas", acredita.
Segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública (SSP), houve aumento no número de homicídios no DF em junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Quarenta pessoas foram assassinadas no mês passado, contra 37 em junho de 2017, aumento de 8,1%. Em Santa Maria, no entanto, os casos diminuíram em relação ao ano passado. De janeiro a março de 2017, foram 14 ocorrências, enquanto neste ano foram cinco.
Apaixonado por música
Música era uma paixão para Gabryel, que sonhava ser cantor. Dedicado, aprendeu sozinho a tocar violão, bateria e pandeiro. "Ele só precisava ouvir uma música uma vez que já começava a tocá-la", relembra a mãe, que se emociona ao assistir vídeos do jovem cantando. Recentemente, Gabryel fez uma participação no CD de um grupo de rap. "Ele estava muito emocionado, queria ser um artista famoso, mas nem chegou a ouvir o disco", lamenta a tia Claudia.
Além de talentoso, a família conta que ele era muito popular e fazia amigos facilmente. "Ele tratava todo mundo como igual. Confiava em todos. Esse foi o erro dele", diz a mãe. Na escola onde Gabryel estudava, os colegas também estão comovidos. Danielle conta que muitos amigos já entraram em contato para confirmar presença na passeata de domingo. A estudante Maria Vitória Melo, 17 anos, é outra que chora ao ver os vídeos do amigo cantando. "Ele era um irmão para mim. A gente se via todo dia no recreio e eu sempre abraçava ele. Quem fez isso com o meu amigo tem de pagar", declara.