Olhos atentos ao telão e sentados na ponta da cadeira. Foi assim que parte da comunidade mexicana assistiu ao jogo entre Brasil e México na embaixada do país da América Central, na 805 Sul. E tal qual os jogadores do El Tricolor, os torcedores mantiveram as esperanças até o fim. Durante os 90 minutos, aplaudiram cada avanço da seleção deles. Após o primeiro gol do Brasil, no início do segundo tempo, gritaram ainda mais. ;México, México!”, exclamaram abafando a torcida dos brasileiros presentes, funcionários da representação diplomática, cônjuges e filhos de mexicanos residentes em Brasília.
A concentração na Embaixada do México começou por volta de 10h30. A partida entre as seleções foi exibida em um telão em um salão próximo à entrada principal do complexo, composto por três prédios inspirados na arquitetura pré-colombiana. O encontro contou com cerca de 80 pessoas. Sentados em fileiras, misturados, torcedores dos dois times brincaram e tocaram vuvuzelas, respeitosamente. Após a eliminação do México, os anfitriões da festa de ontem afirmam que vão torcer pelo Brasil, costume herdado desde o desempenho da equipe comandada por Pelé, na Copa de 1970, no México, que resultou no tricampeonato Canarinho.
[SAIBAMAIS]Mexicano e dono de uma padaria em Sobradinho, Oscar Baruch, 45 anos, e o filho dele, Jordan Baruch, 11, assistiram ao jogo com as tradicionais máscaras de lucha libre. A do pai ostentava as cores vermelho e verde, claramente inspirada na bandeira mexicana, enquanto o menino usava uma prateada. E, apesar de paramentados e com a camisa verde-escura dos adversários do Brasil, admitiram que o coração estava dividido. ;Minha mulher é brasileira e tenho muitos laços com o país e a cultura daqui;, explicou Oscar.
Inicialmente, eles esperavam um 2 x 1 a favor do México. No segundo tempo, passaram a torcer por uma disputa nos pênaltis. Nada saiu como esperado. Ainda assim, para Oscar, o resultado final não surpreendeu. ;O Brasil, quando pegou a bola, se aplicou, mas também soubemos criar oportunidades;, ponderou. ;Foi difícil escolher para que time torcer;, afirmou Jordan, que também usava uma gravata do Brasil.
A mãe do menino, Eleusa de Oliveira, também se disse dividida, mas o coração pendia para o lado verde-amarelo. Mineira, ela contou que conheceu o marido nos Estados Unidos, em 2000. Casaram-se e tiveram Jordan em terra norte-americana. Mudaram-se para o Brasil em 2012. ;Não sou muito de futebol, mas gosto da Copa. Torci para o Brasil, mas se o México ganhasse, também estava bom;, admitiu Eleusa.
De mãos dadas
Moradores da Asa Norte, o mexicano e professor de espanhol Israel Ramires, 41, e a mulher, a bibliotecária Tatiane Dias, 38, se conheceram na internet e começaram um namoro virtual, que terminou em casamento. Ele se mudou para o Brasil e estão juntos há quatro anos. Ontem, em um jogo decisivo, cada um torceu pelo seu time, mas, lado a lado, e de mãos dadas. Israel foi o que mais sofreu. ;Foi um jogo desesperador. Achei que o México tinha força para ganhar, mas faltou acertarem mais o passe. No primeiro tempo, a esperança era maior. Mas, depois de 30 minutos de jogo, a equipe ficou derrubada;, avaliou ele.
100% México
Juan Carlos Gonzalez, 48, chegou há três meses na capital. Veio fazer doutorado em mecatrônica na Universidade de Brasília (UnB) e fala um portunhol fácil de compreender. Ontem, se vestiu de vermelho, pintou as cores da bandeira do México no rosto e botou um chapéu de palha. O resultado não foi favorável, mas o amor pelo Brasil está garantido mesmo após a derrota. ;A Seleção Brasileira começou regular e o time do México trabalhou bem, mas faltou força. Estou amando a cidade. Brasília é bonita, e os brasileiros, muito amáveis. Estou desfrutando 100%;, sorriu.
Funcionário da embaixada e filho de uma brasileira com um mexicano, Gustavo Gallego, 38 anos, é outro que torceu pelo México sem hesitar. Mesmo com o 2 x 0, ele não se arrependeu. ;Calculei pelos títulos. O Brasil já tem cinco e o México, nenhum. Achei que merecíamos. Sei que o Brasil é sempre o favorito, até o banco de reserva é uma seleção à parte. Mas nós jogamos com garra;, destacou.
Pirâmides
A Embaixada do México em Brasília foi projetada pelos arquitetos mexicanos Teodoro González de León, Abraham Zabludowsky e Francisco Serrano. À frente do prédio, há uma Cabeça Olmeca, réplica de uma escultura datada entre 1.200 a 800 A.C. da área de Veracruz e Tabasco. O que mais chama a atenção são os prédios, incrustados entre morros, voltados para o Lago Paranoá, projetados para lembrar as pirâmides astecas.